Amanda Oliveira/Agência Mural
Por: Juliana Cristina de Paula
Notícia
Publicado em 12.03.2025 | 13:51 | Alterado em 12.03.2025 | 16:22
Nascido e criado no Jardim Peri, na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo, Douglas Paiva, 26, é um dos artistas visuais selecionados para expor obras na “Funk Arte & Resistência”, em exibição na Funarte SP (Fundação Nacional de Artes), e também teve obras expostas em “O Poder é Nosso”, no Museu das Favelas.
A mostra “Funk Arte & Resistência” é resultado de uma residência artística viabilizada pela PerifaCon em 2024. Já o trabalho “O Poder é Nosso”, é fruto da imersão feita por um projeto do Afrolab com 30 artistas pretos, indígenas e LGBTQIAPN+, realizada em parceria com Marvel Brasil, Instituto Feira Preta e KondZilla.
Para a exposição, a música O Poder É Nosso (KondZilla) -MC Luanna, Jovem MK e Malcolm VL foi usada na imersão dos artistas para que eles pudessem se inspirar e criar as obras da exposição “O poder é nosso”.
Douglas ao lado de sua obra “Me vejo nos meus iguais” @Amanda Oliveira/Agência Mural
As obras do jovem, repletas de significados, celebram a cultura, a ancestralidade, as narrativas e as vivências periféricas. E apesar de a linguagem principal ser a pintura, a arte é expressa não apenas através desse plano visual, mas também na materialidade.
O artista faz questão de experimentar e compor as obras utilizando elementos que representam as quebradas, como placas tapume, cimento, tijolo, chinelos e veludo cotelê.
“Eu gosto de utilizar a materialidade no meu trabalho e brincar com ela”, afirma.
Um exemplo é a obra ‘Regentes da Rua’ que apresentou na exposição ‘Funk Arte & Resistência’. Na base da instalação, ele fez um guarda-chuva – que é utilizado nos bailes – com veludo cotelê. “Trazer essa materialidade pro meu trabalho é mostrar a quebrada nos seus pequenos detalhes, sabe?”, explica.
Essa obra do artista com o nome ‘Regentes da rua’ faz parte da exposição Funk Arte & Resistência @Arquivo pessoal/Divulgação
Douglas começou a trabalhar com arte aos 16 anos, em um estúdio de tatuagem onde aprendeu técnicas de desenho. Em seguida, interessado por entender mais, iniciou um curso de desenho artístico, o qual possibilitou que ele tivesse o primeiro contato com história da arte e outros tipos de materiais. A partir disso, teve certeza de que queria trabalhar com arte e foi cursar design gráfico na faculdade.
Ele conta que desde quando começou a trabalhar, a volta para casa era basicamente para dormir. “Trabalhei muitos anos no centro de São Paulo, eu não vivenciava minha quebrada”. Então, com a chegada da pandemia e do isolamento social, passou a ficar mais tempo em casa, viver, observar e perceber o próprio território e a si.
“Na pandemia, vendo a quebrada, as notícias, a violência, a negligência e, ao mesmo tempo, estudando sobre sociologia da arte, cultura e política, percebi muitos intelectuais brancos falando sobre pessoas pretas e sobre o território periférico, e nunca nós”, avalia.
A partir disso, o jovem mudou o comportamento. “Comecei a consumir artistas, intelectuais pretos, música preta, pesquisar mais sobre a cultura do hip-hop e me enxergar naquilo. Foi a partir desse momento que me entendi enquanto um sujeito periférico”, pontua.
Entender-se como um sujeito periférico foi o pontapé inicial para que pudesse também entender a arte dele e sobre o que gostaria de comunicar a partir dela. Foi um processo de reconhecimento e também uma possibilidade política.
“Quando a gente fala sobre sonho, por exemplo, a gente fala a partir da visão de uma pessoa preta e periférica. Falar sobre sonho dentro da quebrada, sonhar sendo uma pessoa preta, periférica e LGBT, já é um ato político.”
O artista gosta de dizer que “pinta possibilidades”, porque a arte de Paiva expõe aquilo que o sistema não quer que seja mostrado; que quando fala sobre sonhos, felicidade, ocupação e cultura, por exemplo, está abordando as possibilidades para construir o novo, uma história que seja contada de sujeitos periféricos para sujeitos periféricos.
“Mais para frente, quero que na história da arte tenha artistas pretos falando da sua quebrada a partir da visão, vivência e de uma construção coletiva. É possível, sabe? Ser artista visual, preto e periférico dentro do Brasil”.
Endereço: Complexo Cultural Funarte SP- Alameda Nothmann, 1058 – Campos Elíseos, SP
25 de janeiro a 25 de março:
Formas de pagamento: Gratuito
Jornalista, pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura. Voluntária na ONG Conexão Favela. Amante de histórias e estórias, adora escrever, fotografar, ler, e assistir filmes e séries
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