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Agência de Jornalismo das periferias
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Artistas da periferia querem ir além da lei de fomento

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Por Matheus Oliveira | 20.07.2018

Publicado em 20.07.2018 | 19:00 | Alterado em 04.11.2018 | 21:25

Tempo de leitura: 3 min(s)

O artista Fagner Oliveira, 33, do grupo Filhos da Semente, transmite o sentimento de movimentos culturais da periferia da capital. “Não é a gente que depende da lei, é lei que depende de nós”.

A lei em questão é a de Fomento à Cultura das Periferias e fez parte das discussões na noite desta quinta-feira (19), na ocupação artística Ouvidor 63, próxima ao Vale do Anhangabaú, onde a cultura é cenário em meio as paredes cobertas de desenhos.

Fagner foi um dos participantes da reunião do MCP (Movimento Cultural das Periferias) que discutiu o edital surgido em 2016, para fomentar coletivos nas quebradas da cidade de São Paulo.

Para Jesus dos Santos, 33, dj, youtuber, designer e um dos organizadores do evento o mote da reunião foi o diálogo.

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Para Jesus dos Santos, o terceiro edital de fomento à cultura periférica é chance de maiores conquistas (Matheus de Souza/Agência Mural)

“O último encaminhamento que a gente tirou ano passado era de voltar pros territórios, trazer mais pessoas. Agora a gente dissemina, porque entendemos que todo o acúmulo do território precisa ser compartilhado com outros coletivos”, afirma.

Desde 2013, o Movimento Cultural das Periferias está no fronte da descentralização da verba da secretaria de Cultura da capital paulista. Entre articulações, encontro com vereadores, debates em comissões parlamentares e a elaboração do projeto foram três anos.

A lei sancionada em 2016 disponibilizou no primeiro ano R$ 9 milhões para cerca de 30 coletivos. O edital deste ano prevê R$ 7,5 mi, e as inscrições estão abertas até o dia 6 de agosto. Os documentos para seleção estão disponíveis na plataforma SP Cultura ou nos locais de inscrição.

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José Soró é atuante na região de Perus, Zona Norte de São Paulo (Matheus de Souza/Agência Mural)

O projeto Cultura Comunicar foi um destes contemplados pelo primeiro edital. Com o recurso, eles criaram a Casa do Meio do Mundo, no qual a produtora de áudio-visual Ingrid Félix, 30, atua na formação de jovens e adultos sobre a produção e interpretação jornalística. 

“Hoje na reunião há um sentimento de retomada, sentimento da gente ganhar um fôlego. Falar ‘cara, a gente pode fazer para além da lei’. Para além de um fomento. Para além do edital que é de alguém. Não, é de todos. Acho que hoje é essa retomada. Ver caras novas, a galera afim de compartilhar”, diz Ingrid.

É preciso respeito a memória dessa luta, o respeito a esse princípio de que é para fomentar a resistência dos territórios. Não é pra fazer atos artísticos e só. Não deixar cair no comum da captação de recursos”, ressalta José Soró, 54, coordenador do Comunidade Cultural Quilombaque e integrante do MCP.

Para o articulador cultural, os coletivos devem enxergar além das possibilidades dispostas. “Agora há o desafio de um amadurecimento muito grande. O desafio é como a gente sai da marginalidade e entra na sociedade com as suas regras”, afirma Soró.

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Os toques dos tambores de jongo simbolizaram luta e a causa coletiva dos movimentos da periferia (Matheus de Souza/Agência Mural)

Ele defende que os grupos tenham mais participação das decisões da cidade. “Não podemos cair na tentação de pedir um paiEstado. Vamos produzir as nossas capacidades. É um desafio pedagógico dentro do próprio movimento, ter essa compreensão de que a lei tem outra finalidade, financiar a resistência”, completa.

A confluência de ideias tomou conta do antigo prédio ocupado por artistas há quatro anos no número 63 da Rua do Ouvidor. O desejo de ir além do conquistado é o que possibilita a cultura periférica existir. “Esse é só mais um passo, pra gente tentar a possibilidade da democratização, mas que também não para por aí. Insista, porque o dinheiro e o mundo é nosso e temos que buscar de volta”, reitera Jesus.

Matheus de Souza é correspondente de São Mateus
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