Isabela Alves/Agência Mural
Por: Isabela Alves
Notícia
Publicado em 30.07.2025 | 15:25 | Alterado em 30.07.2025 | 15:25
“Deus não dá uma oportunidade dessas para a gente desperdiçar. Ele me deu, e eu vou atrás”, afirma Tony Diego, 35, consagrado campeão nacional do WAR Muay Thai, uma das maiores competições profissionais da modalidade, promovida pelo WBC (Conselho Mundial de Boxe, em tradução livre).
Morador do Jardim Prainha, no distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo, Tony competiu na categoria Super Middleweight, destinada a atletas de até 76 kg. Na luta, enfrentou Marfio Canoletti, lutador renomado com experiência em MMA, kickboxing e Muay Thai.
“Treinei todos os dias. Dormia com dores no corpo, acordava cedo para dar minhas aulas e seguia treinando. Não ia deixar essa chance passar”, conta o atleta, que concilia a rotina intensa de preparação com o trabalho em sua própria academia, fundada em 2020.

Com 20 lutas profissionais, Tony já conquistou 6 cinturões @Isabela Alves/Agência Mural
Todos os dias, das 7h às 19h, Tony ministra aulas para cerca de 90 alunos, sendo 50 adultos e 40 crianças, dividindo seu tempo entre o tatame e o sonho de ensinar o valor do esporte na quebrada.
Tony mora no Jardim Prainha desde quando as ruas ainda eram de barro e tudo era mato. Na infância, costumava brigar com frequência na escola. Aos 15 anos, sofreu um acidente enquanto empinava pipa. Caiu de uma laje de dois andares e quebrou os braços.
“Depois que conheci o esporte, encontrei a minha paz. Fiquei mais calmo. Não queria mais brigar na rua, porque ganhei disciplina. Com o Muay Thai, você entende que todas essas brigas são besteira”, reflete.
Em sua primeira luta profissional, enfrentou Márcio Jesus, lutador brasileiro de Muay Thai, K‑1 e MMA, de quem é grande admirador. Até hoje, participou de 20 lutas, e na última conquistou um dos maiores cinturões nacionais.

Para participar da luta na WBC, o atleta treinou durante um mês e meio @Isabela Alves/Agência Mural
Para se preparar, Tony passou um mês e meio treinando e dando aulas diariamente. Mudou radicalmente a alimentação, corria 18 km, fazia treino de força e contou com a ajuda de um amigo próximo na preparação física.“O primeiro compromisso de uma luta é você bater o peso, senão nem sobe no ringue”, revela.
A luta contra Marfio Canoletti aconteceu em 30 de março de 2025, em Santo Amaro. Tony levou 80 pessoas do Grajaú para acompanhar o confronto, entre alunos e amigos, para lhe dar apoio.
Com 70 lutas no currículo, Marfio já acreditava que venceria e levou uma torcida de peso. O adversário é tão reconhecido no mundo das lutas que até se tornou personagem em um jogo de PlayStation 2.
Com muita serenidade, Tony usou a estratégia de neutralizá-lo com chutes. “Se você treinar, não tem para ninguém. Ele pode ter 100 lutas e você é uma. Vem tranquilo, que a gente também tem um trabalho aqui. Então, tem que respeitar”.

Tony dá aulas todos os dias em sua academia localizada no Jardim Prainha para crianças e adultos. Sete deles são atletas profissionais @Isabela Alves/Agência Mural
Hoje, ele exibe em uma prateleira de vidro na academia os seis cinturões profissionais que conquistou com muita garra. Um dos maiores desafios que enfrenta ao conciliar a vida de atleta e professor é equilibrar as duas rotinas intensas.
‘O atleta, hoje em dia, treina de quatro a cinco horas por dia, faz academia, preparação física, tem nutricionista e tempo para descansar. Eu não. Preciso correr atrás e cuidar da minha alimentação. Às vezes, nem dinheiro para comprar suplemento eu tenho’
Tony Diego, atleta de Muay Thai
Além das aulas na academia, ele também oferece treinos particulares como personal trainer e acompanha atletas nos fins de semana. Atualmente, sete alunos da sua academia são atletas profissionais.
“Eu preciso fazer por eles o que não fizeram por mim. Por isso, cuido deles e os levo para lutar”, conta. “Se você treinar muito, pode ter certeza de que o resultado vai vir. Tudo depende de você. O que você treinar aqui e a dor que aguentar, vai tornar o dia da luta muito mais fácil.”
Seu novo sonho é lutar no SFT Combate e no Attack Fight 37. Também deseja passar uma temporada na Tailândia, país onde a luta marcial nasceu e se tornou um símbolo nacional.

Os equipamentos para luta são os com sacos de pancada, luvas e ataduras @Isabela Alves/Agência Mural
Enquanto esses sonhos não se concretizam, Tony segue dando aulas no Jardim Prainha. De segunda, quarta e sexta são sete aulas por dia; às terças e quintas, cinco aulas por dia. A mensalidade custa R$130 para adultos e R$90 para crianças.
“O Muay Thai resgata a vida e ensina um caminho legal para viver, para ser melhor. A vida é muito curta para a gente ficar perdido no mundo”, conclui.
Jornalista e cineasta da quebrada. Pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura e em Gestão de Projetos Culturais pelo CELACC/USP. Fundadora da Parasita Filmes, produtora independente dedicada a contar histórias do extremo sul de São Paulo.
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