Cinco anos depois da morte de dezenove pessoas nos municípios de Osasco e Barueri, falta de apoio e resolução do caso preocupam famílias
Por: Ariane Costa Gomes
Notícia
Publicado em 17.08.2020 | 13:44 | Alterado em 22.11.2021 | 16:11
Cinco anos depois da morte de dezenove pessoas nos municípios de Osasco e Barueri, falta de apoio e resolução do caso preocupam famílias
Tempo de leitura: 3 min(s)Passava das três horas da tarde quando mães, familiares e moradores do Munhoz Júnior, bairro da zona norte de Osasco, na Grande São Paulo, começaram o ato em memória dos cinco anos da maior chacina do estado de São Paulo.
Na noite de 13 de agosto de 2015, 19 pessoas foram mortas enquanto estavam nas ruas ou em bares da região: 16 vítimas em Osasco e três em Barueri.
Realizado no último sábado (15), o ato organizado pelo grupo Mães de Osasco e Barueri contou com a participação de integrantes do Mães de Maio, Mães da Leste e da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio.
Além de compartilharem a dor pela perda dos filhos, o ato marcou a cobrança por justiça e respostas para o crime que, cinco anos depois, permanece sem resolução.
Três policiais militares e um guarda civil municipal foram condenados pelo crime a cumprir penas que somadas passam de 700 anos de prisão. No entanto, em julho do ano passado, o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) anulou a decisão e mandou refazer o julgamento de dois dos acusados por entenderem haver falta de provas. O policial e o guarda municipal permanecem presos aguardando a sentença.
“Estamos reunidas há muito tempo e a dor delas é a minha dor. Nós lutamos juntas por um dia melhor”, diz Rosa Correa, 52, mãe de Wilker Thiago Correa Osório, assassinado aos 29 anos na chacina.
O ato ficou concentrado em frente a um bar da região. As mães relembraram a memória dos filhos, a demora na resolução do caso e cobraram que o estado pague uma indenização aos familiares das vítimas.
“Está sendo um período muito difícil, já passei por muitas dificuldades. Ele era meu ‘braço direito’, me ajudava. Cuidava muito de mim e da irmã. A dificuldade vem, a saudade aumenta e nada se resolve”, conta a mãe sobre a perda do mais velho de seus três filhos.
Rosa trabalha como diarista, mas está com dificuldades para trabalhar devido a pandemia de Covid-19, e conta com a ajuda da filha caçula Mayrini Correa, 25, para se manter.
Moradora do bairro Munhoz Júnior desde criança, Eliane de Sousa, 37, conhecia boa parte das vítimas da chacina. “É muito triste né, perdemos vidas. Esperamos a proteção da lei e a lei faz isso, tira a vida de pessoas inocentes. A gente não acredita que a própria polícia vai fazer isso, acreditamos que vá fazer nossa defesa. Não vir aqui e fazer uma barbaridade dessas com pessoas inocentes”, lamenta a ambulante.
SEM OPÇÕES DE LAZER
O Munhoz Júnior é um bairro da periferia de Osasco e Eliane conta que uma das poucas opções de lazer da região é o bar na rua Antonio Benedito Ferreira, onde houve o maior número de vítimas. Foram oito mortes.
“Aqui falta atenção do governo em todos os sentidos para a comunidade. Falta policiamento, falta tudo. Mas a polícia que a gente precisa é para proteger a sociedade e não para vir executar as pessoas porque estão no bar, porque são pretos, gays ou outro motivo. Isso não é proteção, é injustiça”, diz.
Era amiga de infância de Fernando Luiz de Paula, 34, pintor assassinado dentro do bar. Fernando era o único filho de Zilda Maria de Paula, 67. “A gente não quer nada do governo”, afirma Zilda. “A gente quer respeito. A gente é negro, pobre, favelado. Os meninos da favela, negros e brancos, querem respeito. Os maiores ladrões desse país são os de colarinho branco”.
Ela demonstra preocupação com a falta de pagamento de indenização às famílias das vítimas que passam por dificuldades financeiras.
Os familiares afirmam que ninguém recebeu nada e que os processos têm sido lentos na justiça. A PGE (Procuradoria Geral do Estado) afirmou que pelos crimes terem sido cometidos fora do expediente dos policiais, a indenização não seria possível segundo a legislação estadual.
Maria José de Lima Silva, 54, trabalhou como empregada doméstica durante boa parte da vida. Mãe de seis filhos, mesmo afastada do trabalho por problemas de saúde ela continua buscando alternativas. “Trabalho porque eu sou teimosa, mas ela [filha Fabiana] não quer. Mas eu preciso de um trocadinho”, conta.
O filho dela Rodrigo Lima da Silva tinha 16 anos quando foi assassinado e não chegou a conhecer a filha que hoje tem 4 anos.
A morte do irmão incentivou um novo caminho para Fabiana Lima da Silva, 25. Bancária, ela cursa o sexto semestre de direito e sonha em ser juíza. “Já me interessava pela área quando via algo na televisão, mas a morte do meu irmão me impulsionou. Quero fazer justiça por ele e pelos demais, mas também contribuir para um país melhor em que as pessoas possam viver de forma segura”.
Jornalista, acredita que a informação e a educação são ferramentas fundamentais para transformar as pessoas e a sociedade. Gosta de aprender e conhecer coisas novas, estar ao lado das pessoas que ama, ouvir música e ficar junto de suas duas cachorrinhas. Correspondente de Osasco desde 2015.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.
Envie uma mensagem para [email protected]