Idosos que tomaram a vacina da Covid-19, nas periferias de São Paulo, aconselham a imunização contra a doença e contam os planos para o fim da pandemia
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Por: Lucas Veloso | Bruna Nascimento | Jessica Silva | Ana Beatriz Felicio
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Publicado em 05.03.2021 | 10:24 | Alterado em 05.03.2021 | 10:55
O baile da terceira idade é uma das saudades na vida de Alvarina Communi Ronseiro, 88, conhecida como Dona Marina. Moradora do Bairro Sesc, em Suzano, na região do Alto Tietê, na Grande São Paulo, ela já tomou a primeira dose da vacina contra a Covid-19, em fevereiro.
Aos risos, diz que mantém boas memórias das festas que frequentava. “Como não danço muito, participo do bingo. Tem dia que me mandam embora porque ganho muito”.
Dona Marina se locomove com a ajuda de um andador, mas isso nunca limitou a autonomia dela. Além dos bailes, ela sente falta de fazer as compras do mês e visitar as amigas. “Fiquei desesperada aqui dentro [de casa]”.
Apesar da vontade de retomar ao ‘velho normal’, ela não queria tomar a vacina, pois tinha medo da doença se manifestar após a aplicação. Foi a filha Cirbelia Ronseiro Gandra, 67, quem a convenceu. “Mãe, a gente está tão agoniado com essa história de ficar em casa fechado e de máscara. A gente precisa tomar essa vacina pra ver se saímos disso”, lembra a filha.
Agora vacinada, Alvarina diz que vai incentivar as amigas a se imunizarem também. Da mesma forma que ela, outros idosos e idosas têm sido otimistas com a retomada de atividades com o início da campanha de vacinação contra a Covid-19.
No entanto, sabem que esse processo ainda vai levar um tempo até que a maioria da população esteja imunizada. “Tem que continuar a rotina de proteção até quando isso passar de vez. Não é porque vai tomar a segunda dose que tem que deixar de se cuidar, mas estou com muita vontade de tomar para ficar mais aliviada”, afirma Josefa Menezes de Lima, 82, a Dona Lena, também de Suzano.
Ela esperou com ansiedade a primeira dose. “Estava sempre perguntando quando ia chegar”.
Para Dona Lena, a maior dificuldade está sendo ficar sem os abraços dos filhos e netos, que foram substituídos por cumprimentos rápidos com a mão. “Não vejo a hora de poder abraçar, mas tenho que respeitar o cuidado que eles têm comigo. Se meu filho vem da rua, ele não se aproxima, todos têm cuidado”, conta.
Para quem duvida da eficácia, ela manda um recado. “Espero que todos tomem a vacina. Não tenham medo. Não fique pensando que ‘fulano no canal não sei o quê’ falou alguma coisa. Vá tomar sua vacina”, aconselha.
A centenária Chiaki Tanoue, 101, não teve medo da vacina, diz que ficou feliz com a chegada da imunização e garante que não há motivo para receio: “Não dói, não senti nada, só a picada no braço. Se não tomar a gente fica doente, aí como é que faz?”, questiona.
Moradora da Vila Nhocuné, distrito da Penha, zona leste da capital, a idosa elenca os compromissos logo que estiver liberada para rotina normal. Ir ao médico para tratar de um problema na mão, além da feira e receber a família em casa, já que a pandemia impediu tais atividades, são alguns deles.
“Não dá pra fazer compra direito, não dá pra sair de casa. Não posso mais receber visitas da minha família. Duas bisnetas minhas nasceram ano passado e eu não conheci, só de longe”, lamenta.
Avó e bisavó, Marionilia Barbosa de Souza, 84, não hesita quando perguntada sobre a sensação de receber a vacina. “Foi muito bom. Foi muita alegria, porque a gente estava esperando isso”.
Moradora da Vila Nossa Senhora Aparecida, em Carapicuíba, região oeste da Grande São Paulo, a idosa comenta que, para quem desacredita da imunização, ela diria que a vacina é uma solução para uma saúde melhor. “Tomei de boa e recomendo que as pessoas também tomem”, indica.
Deixar de receber os filhos, netos e bisnetos foi a principal queixa na pandemia. Ficar perto de quem ama faz parte dos planos depois da segunda dose, além de voltar a frequentar a igreja.
Também vacinado, Apolônio Félix de Matos, 83, mora no bairro Miguel Badra, em Suzano, também na região metropolitana. Mais caseiro, não costumava sair muito de casa, porém conta que esperou ansioso pelo imunizante. “Não senti nada, nem sinal deixou. Antes da vacina, ficava pensando pra vir logo”, comenta. “Graças a Deus chegou a data, vacinei tranquilamente. Não doeu nada e estou pronto para vacinar a outra dose”.
De acordo com o idoso, todos precisam do remédio, já que a vacina é a alternativa da população contra a Covid-19. “Se a pessoa sabe que é uma doença perigosa e diz que não quer vacinar é porque não está querendo vida. E a nossa vida é boa. Se é um benefício nosso, todos têm que se vacinar”, diz.
Na cidade vizinha, Mogi das Cruzes, Ana Siqueira Pinto, 90, concorda com Lena no conselho. “Acredito que por ouvirem algumas pessoas falarem que a vacina não é boa, as outras pessoas ficam com medo. Diria para essas pessoas irem tomar a vacina, porque pra mim nem que falem, eu não vou pela cabeça dos outros”.
A dona de casa comenta que a pandemia não afetou o dia a dia dela. Diz que a única coisa que sente falta é de ir ao supermercado. “Gostava muito de ir ao supermercado.” Com sorriso no rosto, planeja uma saída depois da segunda dose. “Quero dar uma passeada”.
Até a última terça-feira (2/03) o país chegou a um total de 7 milhões de brasileiros vacinados, segundo o levantamento realizado pelo consórcio de veículos de imprensa brasileira.
De acordo com o Vacinômetro, plataforma digital criada para monitorar a campanha de vacinação contra a Covid-19 no estado de São Paulo, os municípios que mais vacinaram até agora são Campinas (95.354), Santos (55.889) e São Bernardo do Campo (55.623).
Fotojornalista, sonhadora, observadora e ouvinte de 'causos' profissional. Corinthiana maloqueira e sofredora (graças a Deus), boa sujeita, pois gosta de samba e tal qual Candeia na voz de Cartola, precisa se encontrar e vai por aí a procurar. Correspondente de Suzano desde 2019.
Jornalista formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Pedagogia e Mestra em Educação pela PUC-SP. Ama fotografias, séries, filmes e não vive sem Netflix. Correspondente de Mogi das Cruzes desde 2013.
Jornalista, curiosa, já foi apresentadora do Próxima Parada. Gosta de conhecer pessoas novas e descobrir o que as motiva a acordar todos os dias. Correspondente de Carapicuíba desde 2018.
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