De chinelo no pé, com a temperatura na casa dos 13ºC, Alana Evelyn, 24, segura uma bandeira do candidato a deputado estadual Enio Tatto (PT) na avenida Senador Teotônio Vilela, uma das principais vias que dão acesso ao terminal Varginha, na zona sul de São Paulo.
Moradora da região, Alana tem trabalho fixo como babá, mas está de férias e aceitou atuar na campanha para conseguir uma renda extra. O turno dela começa às 7h e vai até às 16h. “Temos um período de descanso de duas horas. Isso numa rotina de terça a domingo, até a véspera da eleição [1º de outubro]”, aponta.
Ela é uma das mulheres que vivem nas periferias e estão atuando nas campanhas eleitorais como cabo-eleitoral contratada. Recebem o valor para fazer propaganda do candidato nas ruas.
Em meio ao cenário de mais de 10 milhões de desempregados, várias pessoas estão trabalhando como “bandeirinhas”. Algumas ganham um salário mínimo pelo trabalho.
A Agência Mural ouviu algumas dessas trabalhadoras. Apesar de todas ressaltarem que esse “bico” é bem-vindo por conta do desemprego, elas afirmam que também apoiam os candidatos por trás dessas bandeiras.
“Se não fosse por ele, eu não teria conseguido vaga na creche para minha filha”, comenta Alana, que é eleitora de Tatto. “Mesmo se eu tivesse trabalhando para outro candidato, eu votaria nele”.
Essa é a primeira vez que ela atua com as bandeiras em uma campanha. Conta que aceitou o trabalho mesmo sem ter um valor definido, pois a quantia dependerá dos turnos que conseguir fazer.
Em Osasco, o cenário não é diferente. Entre barracas de hot dog, camelôs e panfletistas, lá estão eles: um grupo com camisetas roxas, com bandeiras em punhos, do rosto estampado e sorridente do candidato a deputado estadual Gerson Pessoa (Podemos), nome mais espalhado pela cidade por ser apoiado pelo prefeito Rogério Lins (Podemos).
“Nós ficamos revezando, ficamos em pé, depois sentamos, vamos para eventos, feiras e fazemos passeatas”, conta a costureira Maria Regina de Oliveira, 55, que também aceitou o trabalho como renda extra.
Maria conseguiu esse bico com duração de 30 dias, no valor de R$ 1.300, pagos quinzenalmente, e finaliza ao dizer que apoia o candidato. “Vou votar no Gerjão”.
Com um sorriso no rosto e um adesivo colado na camiseta, Luci Maria, 50, uma hora entrega os “santinhos”, outra hora segura a bandeira de um candidato da região na calçada da estação Capão Redondo, na zona sul. Ela morava no Rio de Janeiro, mas desde que perdeu o emprego de cobradora de ônibus, em 2016, mudou-se para São Paulo a procura de recolocação.
Sem emprego formal, trabalhou nas eleições pela primeira vez em 2018 segurando bandeiras de candidatos. Neste ano, irá ganhar R$ 1.214 ao fim do trabalho, o equivalente a um salário mínimo. “Desde que fiquei desempregada, vivo como autônoma. Esse bico caiu na hora certa”, comenta Luci.
Na avenida Dona Belmira, no Grajaú, Alcélia Melo, 55, conseguiu o trabalho por indicação de uma amiga e é a segunda vez que está trabalhando nas eleições.
Diz achar muito bom trabalhar oito horas por dia, perto de casa e com o salário de R$ 1.214. Antes de trabalhar como autônoma, Alcelia atuava em uma gráfica, mas conta que, com a pandemia de Covid-19 e a dificuldade de conseguir um emprego, atualmente se mantém com trabalhos freelancer.
Ela relata que irá votar na candidata a deputada estadual Anadethy Caravanista (MDB), para quem está trabalhando, por ter se identificado. “A história dela é de uma mulher sobrevivente, minha conterrânea, somos alagoanas. Acredito que ela vai trazer melhorias”, aponta.