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Boulos e Marçal captaram sentimentos das juventudes no 1º turno, avalia Tiaraju

Em entrevista à Agência Mural, professor avalia divisão de votos força da máquina da prefeitura, do candidato à reeleição Ricardo Nunes

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Léu Britto/Agência Mural

Por: Artur Ferreira

Notícia

Publicado em 09.10.2024 | 13:12 | Alterado em 09.10.2024 | 17:57

Tempo de leitura: 4 min(s)

O segundo turno entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) marcou uma divisão dos votos nas periferias da cidade de São Paulo, mas não pode ser visto como definitivo, e sim como áreas em disputa. É o que avalia o escritor e professor da Unifesp Tiaraju Pablo D’Andrea, coordenador do CEP (Centro de Estudos Periféricos).

“Não podemos nos enganar pelo mapa, temos que observar na verdade o quão disputado foi o voto nessas regiões”, afirma em entrevista à Agência Mural. “Mesmo em regiões periféricas em que o Pablo Marçal se sobressaiu, houve uma disputa acirrada com Boulos ou Ricardo Nunes, não é possível dizer que Marçal ganhou na zona leste”, analisa o professor.

Segundo o Censo de 2022, a zona leste é a região mais populosa de São Paulo. São cerca de 4 milhões de habitantes, ou seja um pouco mais que 1/3 da população da capital (34,9% dos paulistanos), perto da zona sul, que possui 3,7 milhões. Sendo assim, é um foco dos candidatos se saírem bem na região.

“Guilherme Boulos, foi bem no extremo leste, Guaianases, São Mateus, Cidade Tiradentes, que são historicamente regiões que votam no PT”, afirma D’Andrea. “Mas é preciso olhar com atenção para a região da ‘periferia em transição’, Itaquera, São Miguel Paulista, Parque do Carmo, que são regiões ainda empobrecidas mas com mais equipamento público”.

Bairros do extremo leste como Cidade Tiradentes deram mais votos a Boulos @Magno Borges/Agência Mural

De acordo com D’Andrea, a “periferia em transição”, entre os bairros mais afastados da capital e regiões bastante ricas, como Tatuapé e a Mooca, são cruciais para a decisão de uma eleição municipal. “É como o estado de Minas Gerais para a eleição nacional, decide a eleição, e para onde vão esses bairros é possível prever quem vai vencer”.

Nessas regiões é possível observar o quão acirrada foi a eleição, com diferenças de cerca de mil votos para cada candidato. Em alguns bairros como em Itaquera e Parque do Carmo, Pablo Marçal e Guilherme Boulos disputaram a primeira posição com uma diferença mínima de votos válidos.

‘Temos que ver mais o conflito entre os candidatos e menos em quem foi o mais votado, porque a diferença é mínima’

Tiaraju Pablo D’Andrea

Os votos em Nunes

De acordo com o professor da Unifesp, Ricardo Nunes se diferencia dos outros dois principais candidatos, não somente por ser o atual prefeito, mas por estar ligado ao grupo político que já está no poder há cerca de 8 anos.

O período começa com João Doria (PSDB), eleito em 2016, e que dá lugar a Bruno Covas (PSDB), ainda em 2018. Covas venceu a eleição de 2020, mas morreu pouco tempo depois do segundo mandato, dando lugar a Nunes.

Atual prefeito disputa a reeleição e conseguiu boa votação em áreas da zona sul e norte @Magno Borges/Agência Mural

Esse contexto político de Nunes cria dois fatores determinantes, na visão de Tiaraju, para o resultado deste primeiro turno: o uso da máquina pública para intensificar a campanha eleitoral; e a vontade das juventudes periféricas em buscar a mudança em outros candidatos, fosse em Pablo Marçal ou em Guilherme Boulos.

“O Pablo Marçal é uma figura da internet que traz esse discurso do empreendedorismo, de vencer por si próprio, e de se declarar como antissistema, já o Guilherme Boulos conversa melhor com as minorias, a população LGBT, inspira mudança de outra maneira”, analisa o professor. “Acredito que o voto do jovem foi em busca dessas mudanças.”

Marçal ganhou votos em periferias em transição, avalia Tiaraju @Magno Borges/Agência Mural

D’Andrea complementa dizendo que “entender o impacto do Ricardo Nunes na zona sul passa pelo uso da máquina pública, dos conchavos com a política da região, e com as obras de infraestrutura muito recentes”.

Ele também entende que regiões tipicamente conservadoras, e que antes votariam no PSDB, como trechos da zona norte também se apoiaram no voto em Nunes. Região essa que também depositou muitos votos em Marçal, que buscava o apoio da parcela conservadora e bolsonarista que vive em bairros como Santana, Vila Maria e Tucuruvi.

Guilherme Boulos também saiu mais votado em partes da zona sul, como Jardim São Luís, Campo Limpo, Capão Redondo e Valo Velho. Na zona oeste, como no Morumbi e Pinheiros, a maior parcela dos votos foi para o candidato pela ligação com meios acadêmicos e progressistas da elite, mas como pontua o professor, a população periférica da região também depositou mais votos no candidato do PSOL, como no Rio Pequeno.

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O professor da Unifesp entende que Guilherme Boulos irá partir para uma estratégia de se mostrar como esse candidato da mudança. Segundo ele, Boulos irá “tentar captar os votos do eleitorado mais jovem, e com o objetivo de tentar também convencer partes do eleitorado que queria mudança, mas com o Pablo Marçal”.

Magno Borges/Agência Mural

De acordo com o analista, Boulos também deverá reforçar o apoio do atual presidente Lula (PT), um dos seus principais padrinhos políticos. Outro fator determinante que pode definir a reta final desta eleição é o tempo de tela igualitário para ambos os candidatos no segundo turno. No primeiro turno, Nunes teve mais tempo de TV, por ter mais partidos aliados.

Para Ricardo Nunes, segundo D’Andrea, a principal estratégia é intensificar o uso da máquina pública da prefeitura para aumentar o alcance da campanha. E, além disso, o atual prefeito provavelmente deve tentar assegurar o eleitorado mais conversador e/ou bolsonarista por meio “do discurso do anticomunismo e da acusação de baderneiro contra Boulos, por seu histórico nos movimentos sociais”.

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Artur Ferreira

Jornalista e redator. Atuou nas redações do Observatório do Terceiro Setor e Rádio CBN. Adora livros, cinema, podcasts e debater sobre política internacional. Palmeirense. Correspondente do Jardim São Luís desde 2022.

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