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Agência de Jornalismo das periferias

Ewerthon/Reprodução

Por: Egberto Santana | Mateus Fernandes

Notícia

Publicado em 25.11.2022 | 17:59 | Alterado em 01.12.2022 | 12:58

Tempo de leitura: 3 min(s)

Em agosto de 2022, surgia uma nova tendência na utilização de símbolos e cores da bandeira brasileira pelo mundo. Totalizando mais 600 milhões de menções no Instagram e TikTok sob o uso das hashtags “Brazilcore” ou “Brasilcore”, modelos norte-americanas viralizaram usando diversos looks com a estética da seleção brasileira.

O termo, do inglês, significa essência do Brasil, e foi visto como inovador na moda em diversos países. No entanto, o estilo é predominante em bailes funks e nas ruas dos bairros periféricos há muito tempo.

Atento à discussão nas redes sociais, o compositor Thiago Rueda, 22, mais conhecido como Kunde, questiona a origem do termo e busca ressignificar este movimento.

“É só mais um nome americanizado de um estilo que nóis usava quando era moleque. A moda já estava aqui, presente em jovem negros e periféricos”, cita Kunde, que é morador da Vila Augusta, no município de Guarulhos, na Grande São Paulo.

As camisetas de times e looks das cores verde e amarelo são culturais, e o uso delas está relacionado com a história brasileira, nos esportes e expressões estéticas de um povo.

Kunde com a camisa da seleção brasileira, look comum nas quebradas @Rafael Vilares/Divulgação

Diversas marcas, como a Puma e a Tomy, usaram o verde e o amarelo nas passarelas de eventos de moda, como o Copenhagen Fashion Week, na Dinamarca. O mesmo tom se repetiu no desfile de Nova York, nos Estados Unidos, fortalecendo o nome da tendência, em 2022.

“É estranho, já estava presente essa moda. Porém, toda vez que eu usava, não era considerada a minha melhor roupa para quem estava de fora”, comenta Mayra Souza, 28, moradora do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, e designer da plataforma Steal the Look.

Mayra também comenta que a estética das periferias é distanciada do mundo da moda. E que o universo do futebol, reproduzido na camiseta, raramente é visto como algo legal, um símbolo fashion. “Era marginalizado. Sempre foi algo que fez parte do meu dia a dia, só que não tinha o nome de Brasilcore.”

Camisetas de time não são vistas como símbolo fashion, diz moradora do Capão Redondo

Percebendo esse distanciamento provocado pela tendência, Mayra escreveu um texto na Steal the Look, sob o título “Brazilcore: a tendência de moda que sempre esteve nas ruas da minha casa”.

Politização e pertencimento

Não foi apenas dentro do espaço dos flashes e desfiles que o tradicional verde-amarelo foi notado. O simbolismo da bandeira brasileira ganhou novos significados a partir do slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) em 2018.

O uso da camisa da seleção se tornou político nos últimos anos, sendo cada vez mais associado aos apoiadores de Bolsonaro. As cores se tornaram frequentes em passeatas em apoio ao presidente derrotado nas eleições deste ano.

Em abril, em uma apresentação no Festival Breve, em Belo Horizonte (MG), o rapper mineiro Djonga utilizou a camiseta da seleção brasileira no show e discursou a respeito do sentido que a peça tem para ele.

“Eu vou usar para ressignificar, os caras acham que tudo é deles, eles [apoiadores de Bolsonaro] se apropriam de tudo, até do nosso hino”, desabafa o rapper no momento da performance.

Esse movimento também tem se espalhado pelas quebradas da Grande São Paulo com o objetivo de trazer um novo olhar sobre a bandeira. Gustavo Arruda, 22, fundador do Comunicação de Quebrada e morador de São Mateus, na zona leste de São Paulo, cita que vem lutando pelo resgate das cores.

“Os caras estão tomando nossa camisa, nossa história, tá ligado? Eu precisava trazer de volta o que é nosso”

Gustavo Arruda, 22, fundador do Comunicação de Quebrada

Gustavo, em conjunto com os amigos do bairro, tomaram a iniciativa de produzir camisetas do Brasil de maneira acessível, no intuito trazer novos significados das cores dentro da quebrada.

“Parei para trocar uma ideia com os parceiros e minha companheira, e começamos a pensar qual blusa do Brasil poderia nos representar.”

Em setembro de 2022, iniciaram as buscas por costureiras e fornecedores de São Mateus, e com o dinheiro de familiares e amigos deram início à confecção da própria camiseta da seleção.

Camisetas produzidas pelo coletivo Comunicação de Quebrada @Ewerthon/Reprodução

Em referência ao popular futebol de várzea nas favelas, a blusa combina o verde e amarelo com símbolos como campinho de terra, pipas e crianças brincando. “Pensamos em um bagulho que representa para a gente se orgulhar das nossas cores, sem associar a política”, diz.

Com a Copa do Mundo no Qatar, cada vez mais pessoas de diferentes ideologias têm buscado pegar a camiseta da seleção do fundo do armário e torcer novamente pela seleção brasileira. Porém, as quebradas têm mostrado que ela sempre foi a peça principal.

“É sobre entender que o significado nunca saiu da periferia, ele nunca deixou de ser da periferia”, reforça Mayra.

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Egberto Santana

Jornalista, também é crítico de cinema e redator. Sempre ouvindo ou assistindo alguma coisa, do novo ao velho, do longa-metragem ao reels do Instagram ou Tik Tok. Correspondente de Poá desde 2021.

Mateus Fernandes

Favelado metido a palestrante, contrariando as estatísticas por aí! Graduando em Psicologia pela Universidade São Judas Tadeu. Coordenador do Cursinho Popular Cora Coralina. TEDx Speaker de GRU/SP. Apaixonado pelo rap e o funk. Correspondente de Guarulhos desde 2021.

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