Por: Redação
Publicado em 29.05.2017 | 14:11 | Alterado em 29.05.2017 | 14:11
Quando se fala em Butantã, talvez as primeiras referências que venham à cabeça sejam a Linha 4- Amarela do Metrô, o Instituto Butantã e a Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, onde está sediada a USP (Universidade de São Paulo). Butantã significa “terra duríssima” ou “lugar de vento forte” e é uma das principais regiões na zona oeste da capital. Ela dá nome a um distrito e à prefeitura regional que administra mais outras quatro zonas distritais bem diferentes entre si.
O Observatório Cidadão evidencia grandes abismos na prefeitura regional, principalmente no que se refere ao acesso à cultura e á expectativa de vida. O distrito do Butantã, por exemplo, tem 28 vezes mais equipamentos culturais públicos do que que Vila Sônia e Raposo Tavares; 14 a mais do que o Rio Pequeno; e quase o sêxtuplo que o Morumbi.
Traduzido em números absolutos, o Butantã registra 28 equipamentos públicos destinados à cultura. O Morumbi tem cinco; Raposo Tavares tem um; o Rio Pequeno tem dois; e a Vila Sônia também apenas um, para cada 100 mil habitantes. Esse contraste também pode ser percebido em outras subáreas, como cinema, teatros, salas de concerto. Todos com taxas baixíssimas em comparação ao distrito do Butantã.
Outro contraste gritante é a expectativa de vida na região. Os moradores do Butantã vivem em média 74,71 anos, ou seja, 13 anos a mais do que os de Raposo Tavares (61,65). No Rio Pequeno esse índice também é baixo (66,62), ao contrário do Morumbi (72,38) e Vila Sônia (71,38), dois dos distritos mais ricos da capital.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a expectativa de vida do brasileiro em 2015 era de 75,5 anos.
Dos cinco distritos, o Butantã ocupa a segunda posição no ranking de maior número de moradores, com 55 mil. Está à frente apenas do Morumbi, um dos distritos mais ricos de São Paulo, com 47 mil habitantes. Os outros três vizinhos (Raposo Tavares, Rio Pequeno e Vila Sônia) têm uma população de mais de 100 mil, cada. Juntos, eles somam 420 mil pessoas e ocupam uma área de 56,1 km², a terceira maior das 32 prefeituras regionais, atrás somente do M’Boi Mirim (62,1 km²) e de Parelheiros (353,50 km²), localizadas no extremo sul da capital.
Moradora do distrito mais pobre do quinteto, Maíra Gomes, 30, enfrenta o trânsito caótico da via que batiza seu endereço, a Raposo Tavares. Na região, formada por pouco mais de 20 bairros, estão instaladas algumas indústrias e dois importantes conjuntos habitacionais, as Cohabs Educandário e a Raposo Tavares. “Não vou entrar no mérito do trânsito caótico, até porque a Raposo [Tavares] é uma rodovia que recebe de tudo”, afirma a contadora, que pontua outros aspectos do bairro.
“A falta de segurança existe sim, como já presenciei. Temos o CEU Uirapuru, que oferece cursos e alimentação adequadas para as crianças, e na favela do [Jardim] Jaqueline sempre vejo um ponto que entrega leite”, comenta, emendando sobre o acesso à saúde. “Confesso que o SUS está bem melhor do que muito convênio particular”, diz.
Índices mais recentes do Observatório Cidadão mostram que existem quatro USBs (Unidades Básicas de Saúde) em Raposo Tavares, para cada 100 mil habitantes — número considerado acima da média.
Tiago Santos, 17, morador do Real Parque, no Morumbi, não partilha da mesma avaliação. O bairro tem apenas uma UBS, o que o torna um dos distritos com os piores índices no quesito. “A UBS Real Parque é pequena e existem diversos equipamentos que estão quebrados e velhos, que não funcionam mais. Também sofremos com a falta de médicos e medicamentos”, reclama o jovem. “Temos uma equipe de agentes de saúde bem pequena, portanto, pela grande demanda, elas não dão conta de atender toda a comunidade”, complementa ele, que em 2015 diz.
Morador do bairro desde que nasceu, o jovem trabalha como aprendiz em uma construtora, pela manhã, e à noite estuda o terceiro ano do Ensino Médio na Escola Estadual Padre Saboia de Medeiros. Tiago conta que fez parte do movimento contra a reorganização escolar, que previa o fechamento de dezenas de escolas no estado. “Esta luta foi linda, algo histórico. Nela, eu fui a diversas manifestações e audiências públicas, mas não surtiu nenhum efeito. Então foi aí que decidimos fazer a ocupação na escola”, relembra a militância.
Segundo ele, a experiência ao longo das ocupações escolares foi fundamental para encarar outras reivindicações locais. “Estamos lutando para a construção da UBS Integral, um equipamento que trará muito benefício ao nosso bairro. Somente a UBS Real Parque não supre a nossa necessidade”, diz ele, que também atua como voluntário em um projeto social no bairro.
Foto: Rafael Vianna Croffi/ Flickr
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