Por: Thauane Blanche | Gabriel Negri | Isabela Alves | Livia Alves | Simony Maia
Notícia
Publicado em 02.10.2024 | 17:28 | Alterado em 03.10.2024 | 11:39
São Paulo é a cidade com a maior Parada do Orgulho LGBTQIA+ no mundo, mas também é a que lidera o número de mortes de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersexo em todo o país, de acordo com o Observatório de Mortes e Violência LGBTI+ no Brasil.
Uma das formas de resistência da comunidade é a luta para ocupar cargos no legislativo, que possibilitam a formação de políticas públicas para o enfrentamento desta realidade desigual. O estado de São Paulo está em primeiro lugar no ranking de candidaturas LGBTQIA+, somando 357 postulantes.
Para Carolina Iara, 31, travesti, intersexo, mestra em ciências sociais e candidata a vereadora de São Paulo pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), além de elaborar projetos de lei, é necessário usar a autoridade de parlamentar para levantar debates essenciais e convencer o poder executivo para que essas demandas sejam atendidas.
“Cabe a nós fazer com que a nossa existência de forma política e coletiva, construa uma situação melhor para a luta de classes, que somos nós, a classe trabalhadora”, ressalta. Com as palavras de ordem, “orgulho, axé e luta”, a candidata traz projetos que tratam desde a diversidade na empregabilidade e educação até medidas ecoambientais.
Recentemente, Iara encerrou um mandato como co-deputada estadual da Bancada Feminista, para concorrer ao pleito de vereadora municipal. A passagem foi marcada pelo combate ao racismo e à homofobia, em projetos como o de auxílio aluguel para pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade – o PL 463 /2024 está em tramitação.
Candidata à reeleição como vereadora pelo PSOL, Luana Alves, 30, psicóloga, bissexual, desenvolveu projetos de lei voltados para o grupo. Um deles foi a capacitação de médicos e profissionais da saúde para atender mulheres lésbicas e bissexuais dentro do SUS (Sistema Único de Saúde).
“A gente sabe que muitas mulheres que se relacionam afetivamente e sexualmente com mulheres não têm o atendimento correto e têm experiências traumáticas com o ginecologista, por exemplo”, explica Alves.
Outra contribuição é relacionada à memória e legado das pessoas LGBTs em São Paulo, como um memorial em homenagem ao levante do Ferro’s Bar, que ocorreu em 19 de agosto de 1983, na Bela Vista, no centro da capital. Trata-se de um bar frequentado por lésbicas que enfrentaram a violência policial durante a ditadura militar.
‘Não há uma placa que indique o que aconteceu. Muitas cidades no mundo tem monumentos e políticas envolvendo cultura, mas São Paulo ainda não tem’
Luana Alves, candidata
A missão é fazer esse debate ganhar força dentro das periferias. “Eu sou preto, periférico, tenho TDAH e sou bissexual, tenho a obrigação de trabalhar diretamente com essas questões”, declara Alan Fernandes, 43, produtor artístico e candidato a vereador em Diadema pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) – partido de centro.
Apesar de ter se filiado ao PSDB para concorrer pela primeira vez a um cargo político com pautas que são majoritariamente abordadas pela esquerda, Alan conta que tem, dentro do partido, liberdade para expressar ideias e defender o que acredita: inclusão para pessoas com deficiência e para a comunidade LGBTQIA+.
Em São Bernardo do Campo, Ananias Andrade (PT), 38, publicitário e comunicador social, está na corrida por uma cadeira na Câmara Municipal. Andrade conta que se entendeu como um homem gay ainda cedo. “Acredito que a partir do primeiro desenvolvimento da fase da juventude, você vai despertando em relação a sua identidade”, disse.
O candidato a vereador relata que durante a fase de crescimento teve que lidar com a rejeição e a tentativa de esconder a orientação sexual por conta do preconceito. No entanto, encontrou em políticas públicas e no antigo Juventude Cidadã [iniciativa de desenvolvimento sociocultural nas periferias] apoio que precisava.
“Isso me dava uma certa auto defesa, pois ao mesmo tempo que eu não estava na minha rua, no meu núcleo, eu estava em contato com jovens com objetivos comuns”, relata Ananias.
“O ambiente da política é muito hostil, você é assediada o tempo inteiro”, relata Ana Rodrigues, 33, jornalista e candidata a vereadora em Taboão da Serra, pelo PSOL. Levantar a bandeira deixa de ser militância e passa ser, resistência. E são várias bandeiras que Rodrigues precisa manter estendidas, como mulher, negra, periférica e bissexual.
“Eu só passei a ser ouvida e respeitada como jornalista e política, no momento em que passei a agir como homem”,
Ana Rodrigues, candidata em Taboão da Serra
Hoje, Ana diz que romper as barreiras da misoginia é um dos maiores focos em um eventual mandato.
King Abraba, 23, é arte-educadora, pansexual, e candidata de Itapecerica da Serra pelo PT (Partido dos Trabalhadores). Ela lembra um episódio de LGBTfobia quando, durante um evento chamado “Caminhada da Diversidade”, o prefeito da cidade, Francisco Nakano (PL), foi com uma camiseta contra o abuso infantil.
“Foi uma caminhada bem simples, com pouquíssimos recursos, porque foi um enfrentamento pra gente aprovar a Lei do dia da diversidade na Câmara Municipal”, conta.
A fundadora do “Sarau Boa Obá” complementa: “você vendo ali de fora não parece, mas a gente sabe que sempre tentam relacionar comunidade LGBTQIA+ e abuso infantil. Essa atitude do prefeito não é por acaso”.
Casos como este reforçam a necessidade de uma frente parlamentar que assegure os direitos e a segurança da comunidade. Everton Moraes, 37, é jornalista e candidato a vereador pelo partido Solidariedade em Ferraz de Vasconcelos. A estreia dele na política se deu, justamente, por sentir falta de acolhimento para a população LGBTQIA+ na região.
“Ser assumidamente gay dentro da política, não é uma tarefa fácil, mas, eu sei da necessidade de ter um núcleo político que pense políticas públicas pra gente, através do nosso olhar. Então, a minha candidatura veio pela causa”, diz.
Informação de qualidade é a maior aliada para combater a violência e isso pode e deve ser trabalhado na formação de base. É o que defende Kiusam Oliveira, 58, mestre em psicologia escolar e candidata a vereadora de Santo André, pelo coletivo Quilombo Dandara.
“Nós temos como missão mudar os rumos da nossa história e por isso, uma educação de qualidade e comprometida com a primeira infância é a arma que nós temos para gerar transformação social”, afirma.
Hainra Asabi, 43, travesti, mestra em ciências sociais e co-candidata do coletivo Quilombo Dandara em Santo André, reforça a importância da representatividade para fazer essa transformação.
“Não adianta a gente esperar que um homem, hétero, possívelmente cis e branco olhe para as nossas pautas na Câmara Municipal. Precisamos estar lá, porque para nós não é só uma discussão política. É a nossa pele, nosso corpo, nossa identidade”, diz.
Resgatar a identidade, cultura e dignidade dos corpos negros, também é o objetivo da Telma Aparecida Mariano, 52, lésbica, Iyalorixá (Mãe de Santo) e candidata a vereadora pelo PCdoB (Partido Comunista do Brasil).
“Como toda pessoa preta da periferia, com todos esses estereótipos que carrego pela sociedade, tenho dificuldade de recursos para essa candidatura. Mas, posso ser a primeira Iyalorixá (Mãe de Santo) eleita na história da cidade de São Paulo e fazer um marco para o movimento e para as religiões de matrizes africanas”, afirma.
Candidato de Diadema, da Grande São Paulo, pelo PSDB. Tem como objetivo a criação de políticas públicas para a inclusão social, com foco nas famílias com pessoas do espectro autista, pessoas com deficiência em geral e pessoas LGBTQIAPN+.
Alguns dos projetos do candidato a vereador incluem: distribuição de PREP e PEP em todas as UBS da cidade; acesso a tratamento hormonal e cirúrgico para pessoas trans; apoio na construção do Centro TEA e a implantação de espaços criativos na cidade.
Ver essa foto no Instagram
candidata de Taboão da Serra, pelo PSOL. O foco do seu mandato será em políticas públicas para pessoas LGBT+, através da criação de um Conselho que olhe para toda a comunidade e casas de acolhimento. Atividades e eventos que promovam ações antirracistas e educação inclusiva. Além disso, a candidata pretende criar um espaço para que haja uma comunicação alternativa, voltada para as pessoas da periferia.
Candidato de São Bernardo do Campo, pelo PT, pretende destinar sua atenção a projetos destinados à juventude, como a questão do transporte público. Com a intenção de realizar subsídios para baratear o preço da tarifa. Além disso, também propõe tarifa zero aos domingos e o fim da limitação de transportes para estudantes.
Candidata da cidade de São Paulo, pelo PSOL, tem como norte três palavras de ordem: “orgulho, axé e luta”. Pretende trabalhar em prol da comunidade LGBT, mas tem projetos com foco na população intersexo, pessoas que vivem em vulnerabilidade social e luta contra o estigma de pessoas que vivem com HIV. Possui ações contra a intolerância religiosa, em especial, a de matriz africana. Além disso, tem um olhar para as demandas urgentes do meio ambiente.
Candidato de Ferraz de Vasconcelos, pelo partido Solidariedade. O pilar da sua campanha é políticas públicas voltadas para a população LGBT, que consiste na criação de um conselho exclusivo para as pautas da comunidade na região, com projeto com foco na saúde mental, renda e empregabilidade e prevenção de ISTs. Defende a ampliação de cultura nos espaços e educação inclusiva com qualidade.
Candidata de Taboão da Serra pelo PT pretende trabalhar 4 pilares: a diversidade, a cultura periférica, o antirracismo e a educação. Alguns desses projetos são o “Nossos Passos Vêm de Longe”, programa de formação antirracista para professores. Cursinhos populares chamados “Vida Louca é Quem Estuda” e a criação de centros de acolhimento para pessoas LGBTQIAP+, fornecendo trabalho e acompanhamento psicológico.
candidatura coletiva em Santo André, com Hainra Asabi e Elly Bayó, pelo coletivo Quilombo Dandara. Educação inclusiva e antirracista desde a primeira infância é um dos pilares deste mandato. Para além das pautas raciais, elas buscam trabalhar em prol da luta das mulheres e pessoas LGBTQAPN+ buscando equidade de gênero em todos os espaços. “Nós queremos devolver a dignidade para os nossos”.
candidata da cidade de São Paulo, pelo PSOL. Pretende criar fundos de combate ao racismo, ampliar equipamentos de acolhimento para pessoas LGBTQIAPN+ em vulnerabilidade social e defende a aprovação do Projeto de Lei 78/2014, que organiza a Política Municipal do Comércio Ambulante.
Candidata da cidade de São Paulo, pelo PCdoB (Partido Comunista do Brasil), destinará recursos para a permanência de pessoas com mais de 40 anos no mercado de trabalho obtendo benefício fiscal para empresas e deseja gerar um legado positivo contra a intolerância religiosa.
Jornalista em formação, fascinada por arte de rua que me inspira diariamente no quesito adaptação e coletividade. Correspondente do Itaim Paulista desde 2023.
Jornalista, projeto de aventureiro, aspirante a escritor e aficionado por história. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2023.
Graduada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e pós graduanda em Mídia, Informação e Cultura pelo Celacc/USP. Homenageada no 1° Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Correspondente do Grajaú desde 2021.
Jornalista apaixonada pela cultura brasileira. Pansexual, youtuber e streamer pelo canal LadoPan nas horas vagas. Correspondente do Campo Limpo desde 2021.
Jornalista que se aventura pelo universo das redes sociais falando sobre política, cultura e entretenimento. Em busca de sempre vivenciar novas trocas para contar boas histórias. Correspondente de Diadema desde 2023.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.
Envie uma mensagem para [email protected]