Escolas campeãs dos bairros cantaram os orixás, o samba e o nordeste nos desfiles da Vila da Paz e do Butantã; vencedoras do grupo especial irão ao Anhembi em 2021
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Por: Lucas Veloso
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Publicado em 28.02.2020 | 16:55 | Alterado em 03.03.2020 | 10:48
Escolas campeãs dos bairros cantaram os orixás, o samba e o nordeste nos desfiles da Vila da Paz e do Butantã; vencedoras do grupo especial irão ao Anhembi em 2021
Tempo de leitura: 4 min(s)Logo na segunda sexta-feira do ano, dia 10 de janeiro, os componentes da Unidos de Guaianases promoveram o primeiro ensaio do ano. “Eu ouvi primeiro ensaio? Garanta já seu lugar, sua fantasia, venha cantar e dançar com a gente”, dizia o texto.
Neste carnaval, a escola foi a quinta a desfilar no ‘Grupo Especial de Bairros’ da UESP (União das Escolas de Samba), no bairro do Butantã’. A escola veio com tema “Nas águas claras de Oxum, um encontro pela fé” no último dia 24 de fevereiro, segunda-feira.
A agremiação do extremo leste foi a segunda colocada no grupo. O título foi para a Brinco da Marquesa, da Vila Brasilina, na região sudeste da capital, que também se inspirou na origem africana: exaltou a expressão Oxalá, usadas nas religiões de matriz africana que significa ‘se Deus quiser’.
Com o título, a Brinco subiu de grupo e disputará o Carnaval do Anhembi em 2021, mantido pela Liga das Escolas de Samba. A Unidos segue no grupo de Bairros.
No carnaval de São Paulo, há 80 escolas de samba em um sistema que tem sete grupos. No Anhembi desfilam as escolas que fazem parte da Liga das Escolas de Samba em três divisões: Especial, Acesso 1 e Acesso 2.
Quem não está nesses grupos, as agremiações de bairro, fazem parte da Uesp (União das Escolas de Samba de São Paulo), ali são outros quatro grupos (Especial de Bairros e Acessos 1, 2 e 3). Era no Especial de Bairros que estavam a Brinco da Marquesa e a Unidos de Guaianases, que havia sido rebaixada em 2019.
QUEM SUBIU
Especial de Bairros: Brinco da Marquesa
ACESSO 1: Imperatriz da Paulicéia e TUP
ACESSO 2: Lavapés e Isso Memo
ACESSO 3: Saudosa Maloca e Império RealQUEM DESCEU
Especial de Bairros: Império Lapeano e Mocidade Robruense
ACESSO 1: Só Vou se Você For e Dragões da Vila Alpina
ACESSO 2: Primeira da Aclimação e Iracema Meu Grande Amor
CAMPEÕES
Maria Aparecida Dias, mais conhecida como Dona Nena, foi uma das fundadoras da agremiação há 32 anos. Recém operada, ela não pôde acompanhar a escola na avenida, mas gravou um depoimento para parabenizar a conquista da escola.
Em 2015, Dona Nena foi eleita a Cidadã Samba da cidade. Em suas palavras, ela saudou o trabalho do atual presidente, Adriano Bejar e demais envolvidos.
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“Gostaria de agradecer a força do universo [que me permitiu] ver o sucesso da escola de samba, da qual eu sou uma das fundadoras”, disse. “Queria agradecer a comunidade, pois sem o amor e carinho não teríamos ganho”.
Já a agremiação de Guaianases foi criada em fevereiro de 1980 por um grupo de amigos que se reuniam para fazer samba após os jogos de futebol de um time do bairro. Segundo memórias dos moradores, o sentimento entre eles foi o que deu nome à escola.
Por décadas, a ‘Unidos’ desfilou na região. Em 1989, entrou no Carnaval oficial de São Paulo, sendo a primeira escola a desfilar no sambódromo do Anhembi após sua inauguração.
Na última década, vários temas permearam a história da agremiação. Os orixás, o rio Xingu, o nordeste são alguns exemplos, sendo que em 2011, 2014 e no ano passado, a própria escola foi a homenageada. Já em 2016 e 2018, o bairro foi escolhido na homenagem.
A diretora de carnaval Michele Gedor, 33, disse que a lembrança deste ano ‘é o povo trabalhando incansavelmente, sem dormir, sem medir esforços para colocar o sonho na avenida’. “Essa é a melhor lembrança de qualquer carnaval”, arrematou.
OUTRAS DIVISÕES
No Acesso 1, a Imperatriz da Paulicéia, na Vila Fidelis Ribeiro, na zona leste, e a TUP, na Barra Funda, conquistaram o título e o vice. As duas subiram o Grupo Especial de Bairros com homenagens à própria escola e ao nordeste, respectivamente.
No Grupo de Acesso de Bairros 2, a Lavapés escolheu a África como tema central, e a Isso Memo, no Parque Peruche, falou da ‘saga dos quilombolas perucheanos’.
Já no Grupo de Acesso de Bairros 3, a Saudosa Maloca homenageou os 40 anos da escola e a Império Real, na zona leste da cidade, que usou um trecho do Canto das Três Raças, de Clara Nunes, subiram para o acesso 2.
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Essas escolas disputam um carnaval menos badalado, mas que está perto de diversas periferias da cidade. A Agência Mural mostrou a desigualdade nos repasses de recursos públicos para o carnaval oficial de São Paulo.
Os cachês para os desfiles deste ano custaram R$ 30 milhões aos cofres municipais, sendo que 90% desse valor [R$ 27 mi] foi distribuído entre as 34 escolas que desfilaram no Sambódromo do Anhembi. Os outros 10% ficaram para as 46 escolas que participaram dos carnavais nos bairros.
Enquanto uma escola de bairro recebe R$ 93 mil no grupo especial, quem vai ao Anhembi chega a receber R$ 1,2 mi de cachê artístico.
CORREÇÃO: Ao contrário do publicado inicialmente, a escola Unidos de Guaianases não irá disputar o grupo da Liga das Escolas de Samba no Anhembi, em 2021. A UESP informou que houve uma mudança no regulamento neste ano e que apenas a escola campeã, a Brinco da Marquesa, subiu de categoria. Vice-campeã, a Unidos segue no grupo especial dos Bairros no próximo ano.
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