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Cidade Tiradentes é o distrito com menos oportunidades de emprego

Distrito da zona leste de SP é o que tem a menor proporção de postos formais de trabalho em toda cidade, segundo Mapa da Desigualdade 2018

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Por: Redação

Publicado em 29.11.2018 | 16:22 | Alterado em 29.11.2018 | 16:22

Tempo de leitura: 4 min(s)
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Cidade Tiradentes, na zona leste, tem 0,2 postos de trabalho para cada 10 habitantes (Giacomo Vicenzo/32xSP)

Em Cidade Tiradentes, distrito do extremo leste de São Paulo, a paisagem predominante são os numerosos e coloridos prédios da Cohab (Conjunto Habitacional) que ultrapassam o campo de visão.

Junto deles, dezenas de comércios acompanham o ritmo de crescimento do bairro com cerca de 220 mil habitantes.

Mecânicas, farmácias, armazéns, mercadinhos, restaurantes, cabeleireiros e açougues. Os ramos são variados e estão espalhados por todas as ruas. Alguns se concentram e criam pequenos centros comercias.

No entanto, mesmo com diversos estabelecimentos comerciais locais, o distrito é o que tem a menor proporção de postos de trabalho formais de toda a cidade.

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São apenas 0,2 postos para cada 10 habitantes, de acordo com o estudo Mapa da Desigualdade 2018, divulgado nesta quarta-feira (28), pela Rede Nossa São Paulo.

A pesquisa também aponta que as chances de conseguir um emprego formal em Cidade Tiradentes são 246 vezes menores em comparação ao distrito de Barra Funda, na zona oeste, detentor do melhor indicador de oferta de trabalho da capital, com 59 postos desse tipo para cada 10 moradores.

“A falta de oportunidades dentro do bairro acaba forçando as pessoas a irem procurar emprego longe ou em outro município. Algumas empresas não querem pagar vale-transporte e a pessoa precisa pagar do próprio bolso”
Bárbara dos Santos, 28, moradora de Cidade Tiradentes

Bárbara estudava publicidade e propaganda em uma universidade privada, mas teve que abandonar o curso na metade por razões financeiras. Tendo dedicado seu tempo aos estudos, a experiência ficou de lado. Hoje ela luta para conseguir uma vaga no mercado de trabalho e poder voltar a estudar.

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Bárbara dos Santos abandonou a faculdade e agora busca emprego, sem experiência profissional (Giacomo Vicenzo/32xSP)

“Atualmente tenho a impressão de que a experiência tem sido mais cotada que a formação quando procuram um funcionário. Preciso ter um trabalho para poder levantar um dinheiro e conseguir estudar sem problemas paralelos”, lamenta a jovem.

Para Ricardo Costa, 33, que trabalha como redator publicitário na Barra Funda, o distrito concentra mais oferta de trabalho formal por conta da quantidade de empresas presentes na região. “Principalmente na área de automóveis. Venda, revenda e mecânicas”, comenta.

Com menos oferta de trabalho formal, quem sofre é a população local de Cidade Tiradentes, que precisa percorrer grandes distâncias até a zona central. Com isso, está sujeita a aceitar trabalhos informais ou, na pior das situações, ficar desempregada.

“Estou sem emprego há três meses, devendo aluguel e correndo o risco de ter que sair da casa onde moro. Desde 2010 trabalho sem registro, mas agora as coisas apertaram”
Riolando Bueno Junior, 38, morador de Cidade Tiradentes

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Morador da Cidade Tiradentes, Riolando Bueno está sem emprego formal (Arquivo pessoal)

CONFIRA
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O segurança Riolando Bueno Junior, 38, trabalhou por muitos anos em casas noturnas do centro da cidade de São Paulo, mas hoje, para conseguir alguma renda, vigia carros em um bolsão de estacionamento do bairro. Eventualmente, também ajuda em uma academia da região.

“Precisa de mais investimento no bairro, temos muito espaço para indústria e comércio”, comenta.

Para Fábio Mariano Borges, doutor em Sociologia do Consumo (Ciências Sociais) pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), falta um programa de estado que incentive a criação de vagas nas periferias da capital.

“Há uma ausência dos órgãos e entidades responsáveis, como Sebrae e Fiesp nesse sentido. Eles existem para identificar pequenas e médias empresas e indústrias e não criam programas que deem conta disto. O maior número de micro e pequenas empresas está nas periferias. É preciso fazer que essas empresas gerem vagas locais formais”, explica Borges.

O sociólogo acredita que um dos impeditivos para que isso aconteça é a falta de incentivo governamental.

“O estímulo que existe para isso hoje é perverso. É comum ouvir nos treinamentos cedidos por esses órgãos para empreendedores coisas relacionadas com economia do transporte do funcionário, que ele não perderá a hora e que poderá fazer mais horas extras por morar próximo ao trabalho”
Fábio Mariano Borges, doutor em Sociologia do Consumo pela PUC

E ainda sugere: “Precisa-se de um estímulo sistematizado que ofereça descontos no imposto de renda de empresas que contratem funcionários do entorno, por exemplo”.

Na Cidade Tiradentes, o subprefeito, Oziel Souza, 38, tem conversado com comerciantes locais, orientando a formalização e cadastro de vagas no Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT) do distrito.

“Faço reuniões com os comerciantes para tratar sobre a adoção de praças do bairro e aproveito e reúno serviços da Vigilância Sanitária, CAT e Sebrae para assisti-los com informações”, explica Oziel.

O subprefeito também planeja visitar os 15 setores do bairro para orientar os comerciantes, mas afirma que é apenas um planejamento, ainda sem prazo para acontecer.

“Os comerciantes criaram uma rede de comunicação no WhatsApp e trocam essas informações entre si, está ajudando nessa comunicação também”
Oziel Souza, subprefeito de Cidade Tiradentes

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Oziel Souza é subprefeito de Cidade Tiradentes desde 2017 (Eduardo Silva/32xSP)

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Para o sociólogo Borges, a discussão sobre geração de emprego nas zonas periféricas vai ainda mais longe e perpetua preconceitos, criando a falsa sensação que trabalhar em um bairro central é melhor, mesmo que seja na mesma empresa, com o mesmo salário e executando o mesmo serviço.

“Tem diferença na roda dos amigos quando se diz que trabalha nos Jardins. O sujeito que trabalha na periferia é desvalorizado inclusive dentro da própria periferia. Ele é visto pela própria comunidade sem nenhuma distinção. Existe uma ausência de incentivo, inclusive simbólica, e isso é muito forte”, completa.

“Viver na Cidade Tiradentes é ter que pagar pedágios simbólicos”

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