Isabela Alves/ Agência Mural
Por: Isabela Alves | Aline Almeida
Notícia
Publicado em 15.02.2024 | 10:56 | Alterado em 15.02.2024 | 20:32
Na Ilha do Bororé, localizada no distrito do Grajaú, extremo sul de São Paulo, uma iniciativa de agricultura familiar e sustentável vem ganhando espaço, gerando renda e resgatando tradições ancestrais de cultivo de alimentos. Trata-se do CoguLi, projeto dedicado ao cultivo de cogumelos shimeji na periferia mais populosa da capital paulista.
O casal à frente da produção, Ligiane Oliveira, 40, e Reginaldo Oliveira Santos, 44, tem como principal objetivo promover a sustentabilidade socioambiental da região e fortalecer a agricultura familiar nas quebradas de São Paulo.
Os cogumelos, ricos em nutrientes e proteína vegetal, ganham espaço entre consumidores e restaurantes como uma alternativa saudável e saborosa para alimentação. Além disso, o método de cultivo do CoguLi não envolve o uso de agrotóxicos ou outros produtos químicos, em uma produção 100% natural.
A inspiração para o projeto veio após uma viagem a Cunha, interior de São Paulo, em 2017. Durante a estadia na casa de uma produtora de cogumelos, o interesse pelo cultivo cresceu, levando o casal a iniciar a produção em casa, para consumo próprio.
“A produtora sugeriu que eu começasse a cultivar cogumelos na casa vazia que tínhamos ao lado [de onde morávamos]”, conta Ligiane. A ideia rendeu frutos: eles começaram a cultivar os primeiros shimejis e se surpreenderam com a quantidade produzida já na primeira floração.
Foram tantos que Ligiane – na época trabalhadora de um hospital na área de enfermagem – passou a compartilhar os cogumelos com colegas de trabalho, o que despertou interesse pelo alimento, ainda pouco consumido por parte das famílias paulistanas.
A iniciativa evoluiu para a criação de uma página no Instagram, por meio da qual passaram a vender os cogumelos para restaurantes e pessoas conhecidas. Com o crescimento do negócio, mudaram-se de casa e alugaram um galpão no Jardim Novo Horizonte, também no distrito do Grajaú.
Durante a pandemia, com o fechamento dos restaurantes, o casal precisou se adaptar e passou a comercializar marmitas congeladas com receitas à base de cogumelos, com destaque para o bobó de shimeji.
No período, parte da produção era doada para um instituição social da região. “Doamos 15 quilos de cogumelos para uma casa de recuperação de homens e no mesmo dia começamos a receber pedidos”, relata Ligiane.
A partir desse momento, o CoguLi passou a vender shimeji para clientes da região, uma opção mais lucrativa que fornecer para restaurantes. “A gente começou a vender para o cliente final porque agrega valor. O restaurante quer pagar R$12 no quilo e hoje o nosso quilo custa R$29”, destaca Ligiane.
Ainda durante a pandemia, o casal se mudou novamente, desta vez para a Ilha do Bororé, para expandir a produção. Quando as restrições sanitárias se flexibilizaram, Ligiane e Reginaldo passaram a oferecer hospedagem e visitas para turistas interessados em conhecer a região e a produção de cogumelos, como uma alternativa de turismo rural na capital paulista.
Eles contaram com apoio da prefeitura por meio do projeto Vai de Roteiro, no qual a Secretaria Municipal de Turismo divulga roteiros turísticos na capital paulista. “A gente recebe bastante grupos para almoçar e para conhecer o cultivo, fazer a colheita e ver o processo de trabalho”, explica Ligiane.
Após anos de produção, o casal de agricultores segue apostando nos cogumelos shimeji pela facilidade de manejo e pela maior aceitação no mercado, especialmente devido aos restaurantes de comida japonesa. “É um produto vegano, não tem nada de origem animal, não tem gordura e é rico em fibras, sais minerais e proteínas. É um bom substituto para quem não come carne”, diz Ligiane.
O cultivo, no entanto, requer atenção e cuidado, principalmente para manter as condições ideais de temperatura e umidade. “Não é algo que eu possa cuidar, sair e voltar só amanhã. Tem que deixar alguém aqui para olhar a temperatura, a umidade, colher e cortar os brotinhos que ressecam”.
Para que os shimejis cresçam fortes e saudáveis é preciso manter a umidade do ar acima de 80%. Para ajudar nesta tarefa, o casal construiu um galpão com a técnica ancestral e sustentável do pau a pique, na qual as paredes são feitas de barro, que proporciona um ambiente agradável tanto no verão quanto no inverno.
“A terra [para a construção] a gente tirou do barranco [do terreno] e os bambus utilizamos os do bairro. As únicas coisas que a gente comprou efetivamente foram as telhas e as toras de eucalipto tratado”, diz Ligiane.
Para garantir uma produção ainda maior e mais saudável, o casal prepara um composto orgânico que estimula o crescimento dos cogumelos, a base de capim, bagaço de cana e farelo de trigo. Após a pasteurização para eliminar fungos concorrentes, o substrato é misturado com a “raiz” do shimeji, chamada micélio. Ele então é ensacado em sacos furados para permitir a troca de gases.
Durante 15 a 20 dias, o fungo coloniza o substrato. Posteriormente, os sacos são transferidos para um ambiente com umidade e ventilação controladas, para que os cogumelos comecem a brotar pelos furos nos sacos.
Por fim, eles são colhidos manualmente quando atingem o tamanho ideal. Todo esse processo, permeado de muito carinho e cuidado, garante sabor e textura ideais para a produção de shimeji do extremo sul de São Paulo.
Graduada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e pós graduanda em Mídia, Informação e Cultura pelo Celacc/USP. Homenageada no 1° Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Correspondente do Grajaú desde 2021.
Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Ama livros, música e séries. Libriana apaixonada por pets. Correspondente do Grajaú desde 2022.
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