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Agência de Jornalismo das periferias

Arquivo Pessoal

Por: Evelyn Fagundes

Notícia

Publicado em 22.02.2025 | 8:47 | Alterado em 22.02.2025 | 8:47

Tempo de leitura: 4 min(s)

Há sete anos, um grupo de poetas se reunia no Taboão, bairro do município de Guarulhos, na Grande São Paulo, para formar um sarau. Mesmo com um começo “despretensioso”, como lembra Vinicius Fidelis, 27, um dos idealizadores, naquele momento os participantes já enxergavam que para valorizar a cultura periférica era necessário transformar as rimas em ações.

Revitalizar uma praça do bairro, buscar doações para famílias em situação de rua e apoio em momentos de enchentes, estão entre as ações além da cultura que o grupo tem feito desde 2018. No domingo (23), haverá um sarau para comemorar o sétimo aniversário do coletivo, com apresentações de música, dança, exposições e microfone aberto.

Quando começou, o grupo formado por 13 membros observava o cenário cultural da cidade e verificava que muitos artistas das periferias não encontravam espaço para praticar e divulgar seus talentos e até desistiam de dar continuidade no meio artístico. Foi assim que começou o Prisma.

‘A falta de políticas públicas para a cultura é, sem dúvidas, o principal motivo da desistência de muitos artistas em Guarulhos, cidade cuja arrecadação é gigantesca, mas que não reflete o investimento no setor cultural local’

Vinicius Fidelis, idealizador do Prisma

Noara de Souza, 26, que é artesã e poetisa, chegou a deixar de lado a veia artística pela falta de perspectivas na cidade. “A arte não é incentivada na cidade e, principalmente na periferia, não temos oportunidades como quem mora, por exemplo, na capital, em São Paulo”, diz a moradora do Taboão. “Em 2018, conheci o Prisma, que me deu um gás e uma inspiração para expor minhas artes e poesias nos eventos”.

A artista conta que desde 2017 faz arte reciclagem, transformando garrafas de vidro em bonecas africanas; faz bonecas de pano; pinturas em tecido e, no ramo das poesias, escreve sobre temas românticos, autoconhecimento, mas também aborda ideias sobre resistência política.

Segundo Noara, sem contar a ASBRAD (Associação Brasileira de Defesa da Mulher da Infância e da Juventude), onde foi voluntária naquele ano – não existiam espaços na cidade para expor, o que mudou com a criação do coletivo.

“O refúgio que eu tinha era e é Prisma. Nos eventos consigo recitar e expor meus artesanatos. Também já tive um brechó que abri em casa e quando tinha edições do sarau eu expunha também”, lembra Noara.

Segundo a artista, conhecer o projeto também fez com que ela mergulhasse em outros espaços culturais independentes. “Com a vivência, fui conhecendo outras cenas artísticas como eventos de slam e já fui jurada de alguns”.

A base do solo do Prisma é a arte. O coletivo organiza saraus para que os artistas do município recitem poesias, divulguem textos ou ideias, cantem músicas autorais e apresentem outros tipos de arte. No entanto, nesse solo, foram cultivadas outras sementes.

Apresentação no Sarau Prisma @Arquivo Pessoal

“Para além de um projeto ‘físico’, o Prisma é uma ideologia. Entrou para cobrir a brecha de uma falta de uma política pública voltada para o incentivo à cultura”, diz a artista Tainá Salomão, 29, conhecida como Estrela Cadência.

Nos primeiros anos do projeto, foi possível organizar doações de roupas e alimentos para comunidades do distrito do Taboão, como o bairro Santa Emília.

Para um dos idealizadores, Pedro Melo, 21, o coletivo sempre teve o objetivo de provocar mudanças no território e, quando possível, ajudar outros locais que precisassem de apoio. Houve arrecadação de roupas e de dinheiro para sopas que foram feitas pela voluntária Cláudia.

“Em 2019, com os desastres causados pelas enchentes na região do Campo da Paz, Taboão – Guarulhos, nós viramos um dos pontos de arrecadação de doação de móveis, produtos de higiene, roupas e alimentos”, destacou o organizador.

Durante a pandemia de Covid-19, o grupo organizava lives nas redes sociais para arrecadar alimentos para as comunidades da região. “A gente arrecadava através dos saraus virtuais e de mutirões no bairro e repassava para a Rede de Solidariedade de Guarulhos, que distribuía alimentos e produtos de higiene para as pessoas que mais precisavam durante a pandemia”, lembra Pedro.

Em 2021 também foram arrecadadas doações para moradores do Taboão que foram afetados por enchentes naquele ano. “No ano passado, em 2024, os membros do Prisma atuaram na revitalização de uma praça. Além dos membros do projeto, outros moradores ajudaram na na ação, como o Beto, o Antônio – que é meu avô, e pela Valdelice”, disse o organizador.

Ainda em 2024, houve a primeira festa junina e o primeiro natal solidário, evento em que 25 crianças foram presenteadas por pessoas que “apadrinharam” seus pedidos. No mesmo ano, o coletivo realizou, pelo quarto vez, a festa do Dia das Crianças.

“Conseguimos fazer com que aquelas crianças tivessem memórias afetivas com o lugar em que elas vivem e fazer com que elas tivessem oportunidade de conhecer mais sobre cultura, arte e lazer”, destaca Noara.

A barbeira Mah Bronks e a transcista Evilyn Oliveira atuaram no voluntariado durante o evento e trabalharam no cabelo e várias crianças. “Fui voluntária porque acho que a quebrada merece mais atenção e esses projetos sociais agregam muito no crescimento das crianças. A quebrada é um grupo de resistência que merece ser livre e feliz”, diz.

No final do ano, o grupo ainda denunciou a situação precária que moradores do Jardim Santa Emília estavam vivenciando em vista das enchentes da época. O episódio foi causado por problemas no tratamento de esgoto.

Raízes para frutos futuros

Depois de terem atuado na revitalização da praça, o grupo criou um terreno, literalmente, fértil: uma horta comunitária no local. A Favela da 6 possui um espaço que está abandonado há décadas e que, segundo residentes, está servindo como descarte irregular de lixo e, consequentemente, focos de mosquitos.

A ideia é revitalizar o local e a ação será uma parceria com o Projeto Prato Verde Sustentável, iniciativa socioambiental que atua na zona norte de São Paulo com uma plantação agroecológica em uma área que antes era subutilizada.

Segundo conta Tainá, que atua no Prato Verde, o projeto iniciou em 2013, em um canteiro ministrando aulas e treinamentos sobre educação ambiental para crianças e, hoje, é uma organização que alimenta mais de 500 famílias por mês por meio de doações. Para a realização da horta, o Prisma está arrecadando doações.

7º Aniversário do Prisma

Horário de funcionamento: 23 de fevereiro – das 15h às 20h

Endereço: Avenida Candéa, nº 1717 – Cidade Seródio, Guarulhos

Formas de pagamento: Gratuito

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Evelyn Fagundes

Jornalista formada pela PUC-SP, instituição onde desenvolveu sua pesquisa premiada sobre o Racionais MC's. Mãe de pet e planta, é uma canceriana apaixonada por música. Correspondente de Guarulhos, na Grande São Paulo, desde 2022.

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