O estudo faz parte de uma trilogia, em parceria da Rede Nossa SP e o IBOPE
Ira Romão/Agência Mural
Por: Lucas Veloso
Notícia
Publicado em 14.08.2020 | 15:18 | Alterado em 17.08.2020 | 22:06
Antes do início da pandemia de Covid-19, em março, a contabilista Flávia Lima, 26, saia por volta das 7h de casa para chegar no trabalho. Depois do decreto da quarentena, passou a trabalhar em regime de homeoffice. A mudança também alterou sua relação com os comércios locais.
Moradora de Guaianases, na zona leste, ela diz que nos últimos meses, passou a comprar mais produtos perto de casa, como padaria e mercado. “Tem uma lojinha aqui na esquina. Sempre compramos uma coisinha ou outra que está faltando em casa”, comenta. “O carro dos ovos, a gente sempre compra também”.
A tentativa de se locomover para longe foi um dos dos motivos que a levou aos comércios no bairro. “Tenho preguiça de ir longe, mas também comprar perto evita que eu ande mais de vinte minutos para conseguir algo que procuro”, indica.
A resposta de Flávia vai de encontro com informações da terceira e última parte da pesquisa “Viver em São Paulo: Especial Pandemia”, divulgada na semana passada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope.
Os pesquisadores entrevistaram 800 paulistanos com mais de 16 anos, das classes A, B e C, entre os dias 20 e 28 de julho. Uma das perguntas questionou quais as principais mudanças causadas pela pandemia e pelo isolamento social em relação com o bairro.
De acordo com o estudo, 45% disseram que passaram a dar mais valor ao comércio e aos prestadores de serviços locais. Outros 23% afirmaram que conheceram e compraram em estabelecimentos comerciais que não conheciam antes da pandemia.
No caso de Flávia, a ida ao mercado passou a ser somente quando não tem mais o que comer em casa. “Vamos quando falta muita coisa também e precisa comprar as coisas para o mês todo, caso contrário, preferimos os mais próximos”.
Outra coisa que motivou a mudança foi o café da manhã. Geralmente, tomava a refeição quando chegava no escritório, mas no trabalho casa houve a necessidade de comprar pães diariamente na padaria mais próxima de casa.
Morador do Jardim Jaqueline, na zona oeste, o produtor audiovisual Igor Camilo, 26, também concorda que a pandemia fez com que olhasse com mais atenção para os comércios locais.
“Esse período só ressaltou o quanto o trabalho deles é importante no nosso cotidiano”, pontua. “Antes era tudo muito no automático, tipo, só mais um pedido, mas agora a gente enxerga os riscos que eles correm e o quanto eles precisam de reconhecimento por isso, principalmente o financeiro”, completa.
Outro ponto é que a situação da crise sanitária fez com que moradores se desdobrassem para manter as contas em dia.
Nos bairros da capital, iniciativas locais surgiram durante a pandemia, com novos serviços. Alguns comerciantes começaram a apostar nas entregas em casa, alguns exemplos mostrados pela Agência Mural na página A boa do delivery.
Na Grande São Paulo, o delivery com produtos de feira foi outra saída comum. Outros chegaram a mudar de ramo para se adaptar ao período de isolamento e manter a renda.
Em Santana, na zona norte, o motoboy Luan Santana, 35, comenta que antes da pandemia já tinha o costume de comprar comida, como pastel e pizza no bairro em que mora, mas a pandemia fez aumentar a frequência do hábito.
“Por mais que eu comprasse bastante por aqui, não ficava o tempo todo em casa, mas agora não tem o que fazer, né? Fico o dia todo em casa trabalhando, me exercitando”, relata. “Então recorrer aos lugares que confio é a coisa mais provável a fazer”.
Luan também diz que comprar dos comerciantes do bairro pode ajudar a não fechar estabelecimentos. “Sei que eles, por serem de pequenos portes, são os mais fragilizados com a crise. E é agora que nós, como clientes, podemos colaborar com o consumo”.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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