Educadores e alunos cobram melhorias no novo espaço do CAV, referência na formação audiovisual na cidade
Gabriel Negri/Agência Mural
Por: Gabriel Negri
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Publicado em 29.04.2025 | 13:42 | Alterado em 29.04.2025 | 13:42
Mesmo com goteiras, problemas estruturais e equipamentos antigos, o CAV (Centro de Audiovisual) de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, segue como o principal espaço de formação gratuita para profissionais nos cursos de cine/TV e animação. Profissionais e estudantes do espaço relatam que o trabalho tem sobrevivido a promessas não cumpridas desde a gestão passada da prefeitura.
Fundada há quase 13 anos, a instituição, com cerca de 240 alunos matriculados, divide atualmente espaço com a Biblioteca Municipal Malba Tahan.
Antes de ocupar o novo espaço, na Rua Helena Jacquey, 171, no bairro Rudge Ramos, a escola ficava em um prédio dentro do espaço do Cenforpe (Centro de Formação dos Profissionais da Educação), localizado próximo ao bairro do Planalto.
A mudança ocorreu em outubro de 2024, durante a gestão do ex-prefeito Orlando Morando, que prometeu a realocação após a reforma da biblioteca. No entanto, o novo prédio foi entregue com pontos da obra inacabados.
Desde 2012, escola vem formando profissionais para o audiovisual @Gabriel Negri/Agência Mural
João Miguel Valencise, 73, supervisor geral de formação do CAV, conta que a escola nasceu a partir de uma iniciativa conjunta entre os governos federal e municipal, com uma solicitação da SAV (Secretaria do Audiovisual). Segundo ele, a atual situação da escola é resultado de pendências deixadas pela gestão anterior.
“Em relação a esse prédio (atual espaço), o problema é que ele ainda está em fase de negociação para coisas que não foram resolvidas. Vazamento de telhado, calha etc. Então é uma negociação que a secretaria precisa fazer com a empresa responsável. Esse problema nem pertence a esta gestão, mas sim à passada”, observa.
Partes do teto do prédio foram danificadas em período de chuva no fim de 2024 @Gabriel Negri/Agência Mural
Um dos banheiros da escola em manutenção @Gabriel Negri/Agência Mural
Partes do teto do prédio foram danificadas em período de chuva no fim de 2024 @Gabriel Negri/Agência Mural
Bebedouro da escola está em manutenção @Gabriel Negri/Agência Mural
Apesar da localização estratégica e do esforço da equipe pedagógica, o prédio apresenta uma série de problemas, principalmente relacionados à manutenção do telhado, calhas e infiltrações. João explica que, com uma maior intensidade das chuvas no fim do ano passado, vieram à tona falhas estruturais como, por exemplo, o acúmulo de sujeira que provocou oxidação do metal em pontos específicos do prédio.
“Essa questão foi levada para a nova gestão, a situação foi considerada e eles entraram em contato com as empresas responsáveis, e já está prometido que isso será resolvido”, afirma.
Outro ponto crítico frequentemente apontado por alunos e professores é o estado dos equipamentos. Computadores, câmeras e outras ferramentas usados nas aulas são os mesmos desde a criação do CAV, em 2012. Na época, foi destinado um orçamento específico para montar a estrutura física do local.
“A prefeitura deu o prédio, que era o local no Cenforpe, e a SAV financiaria parte do projeto de aparelhagem (estúdio, câmera, máquinas etc). A partir deste ano, nós propusemos uma parceria com a secretaria no sentido de eles atualizarem a parte do equipamento, e isso, segundo soube, já tinha sido enviada uma carta para Brasília para consultar a possibilidade de atualizar os equipamentos”, explica o supervisor.
Maioria dos equipamentos utilizados estão obsoletos @Gabriel Negri/Agência Mural
Mauro Moro, 37, produtor do núcleo de apoio do CAV, reforça que a maioria dos equipamentos da escola são bons, mas antigos. “Muitos já quebraram, seja na mão de aluno ou seja pelo tempo. Algumas câmeras, que são mais difíceis de consertar, já passaram por reparo e logo quebraram de novo, porque é equipamento de uso frequente, né?”, comenta.
A estudante Mariana Machado Buzato, 18, conta que, apesar das dificuldades, teve uma experiência muito rica desde que começou o curso de animação no CAV.
‘Aprendi bastante coisa com muitos professores incríveis, mas a estrutura deixa a desejar. Muitos materiais danificados ou que não têm o desempenho que eles deveriam ter’
Mariana Machado Buzato
A aluna conta que já enfrentou problemas com itens básicos, como mouses que não funcionam, até com dispositivos próprios para projetar animações.
Com turmas nos períodos da manhã e da noite, o centro realiza processos seletivos semestrais para a entrada de novos alunos.
Já Marcos Roberto, 51, beatmaker e produtor, conhecido profissionalmente como ‘Marcos Black’, formou-se no CAV durante a transição de estruturas, no segundo semestre de 2024. “Infelizmente, os equipamentos da escola estão obsoletos, né? Os professores acabam operando milagres. Os softwares que temos disponíveis são muito obsoletos, e as máquinas também. No final a gente até consegue fazer, mas não do jeito que, hoje em dia, o mercado tá trabalhando “, diz.
Black atualmente se prepara para entregar seu mais recente trabalho, contemplado pela lei Paulo Gustavo: “Posse Raul: Se eu for de Baobá”.
Procurada, a Prefeitura de São Bernardo, por meio da Secretaria de Cultura, afirmou que a modernização do CAV faz parte de uma reestruturação mais ampla dos processos formativos oferecidos pela cidade, com foco na criação de um plano pedagógico específico para o audiovisual.
Segundo a administração, a proposta busca integrar formações iniciais, intermediárias e avançadas em diferentes espaços culturais da cidade, incluindo os Centros Avançados de Linguagem Artística, como é o caso do CAV. A mudança prevê também a reestruturação de recursos materiais e humanos.
A pasta informou ainda que, em 2025, o CAV conta com uma previsão orçamentária de R$ 734,7 mil para atender os cerca de 240 alunos matriculados. A prefeitura reconheceu os problemas estruturais do prédio, especialmente os relacionados ao telhado, e disse que a nova gestão vai priorizar a manutenção desses pontos, herdados da administração anterior. No entanto, destacou que a aplicação de recursos está condicionada à Lei Orçamentária Anual (LOA) vigente.
Jornalista, projeto de aventureiro, aspirante a escritor e aficionado por história. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2023.
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