No distrito do Campo Limpo, Marcelino Melo criou o 'Quebradinha' e faz peças que retratam as moradias na zona sul de São Paulo
Léu Britto
Por: Lucas Veloso
Notícia
Publicado em 07.07.2020 | 17:18 | Alterado em 31.07.2020 | 15:15
No distrito do Campo Limpo, Marcelino Melo criou o 'Quebradinha' e faz peças que retratam as moradias na zona sul de São Paulo
Tempo de leitura: 2 min(s)Morador do Jardim Piracuama, distrito do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o fotógrafo Marcelino Melo, 25, mais conhecido como Nenê, improvisou no próprio quarto um ateliê. Com uma tábua e um banco ele produz algumas casas em miniatura.
Nenê é criador do ‘Quebradinha’, iniciativa que reutiliza materiais recicláveis, como papelão e garrafas pet, para produzir réplicas de como são as casas nas periferias da cidade. “Quis materializar pensamentos e memórias das quebradas que fazem sentido pra mim”.
O fotógrafo lembra que a ideia de reproduzir as casas nasceu sem intenção. “Nós, artistas, temos uma inquietação. E isso nasceu assim, já que eu crio as coisas sem fim, vivo inquieto querendo criar coisas e projetos”.
Ele diz que a fotografia, principalmente a aérea, o ajudou a ter uma memória recorrente de telhados e das cenas comuns das casas nas periferias. Há cinco anos, ele registra imagens da zona sul com um drone.
Durante a pandemia, por exemplo, tem registrado a mudança do cemitério São Luiz, na periferia da zona sul. No período, produziu séries fotográficas com imagens aéreas sobre a transformação do local, como a abertura de centenas de covas para as vítimas da Covid-19 na região.
As imagens do alto inspiraram a retratar as pequenas residências. A primeira casa foi feita em janeiro do ano passado.
A caixa d’água foi o pontapé da primeira obra. Depois veio o telhado, as paredes e demais elementos que dão forma a uma casa. Em média, ele gasta cerca de dois meses para fazer uma miniatura e vê a atividade como algo terapêutico, pois precisa se atentar aos detalhes.
“É uma espécie de terapia que não me forço a fazer. Aí quando vem a referência na minha cabeça, decido que quero fazer uma casinha, como ela vai ser e aproveito os dias em que estou bem”.
Atualmente ele está dedicado à quinta miniatura, mas acrescenta que não é fácil. “Dá muito trabalho, mas eu não gosto de ficar sem fazer nada. Testo as coisas e tento materializar aquilo que, muitas vezes, está no meu subconsciente”, resume.
Os materiais usados na produção são encontrados nos lixos do bairro. A madeira, encontrada em móveis como guarda roupas e estantes, e papelão são os itens mais usados por Marcelino.
“Uso basicamente o que acho nas ruas. Encontro bastante coisa nos mercados e nos lixos. Não me formei para fazer essa parada, então vou descobrindo na hora, os materiais e as técnicas”.
Uma das técnicas é utilizar o papel machê. A massa produzida com papel picado molhado na água, coado e depois misturado com cola permite os formatos desejados.
Depois de produzidas, as casas são fotografadas e postadas nas redes sociais. Uma das coisas que Marcelino mais escuta são perguntas sobre o futuro das obras. Ele lembra que alguns se interessaram em comprar, mas ainda não decidiu se venderá as miniaturas. Pretende, contudo, fazer uma exposição.
Para dar vazão à ideia, Marcelino cita duas referências artísticas. Um deles mora perto de sua casa, o artista plástico especializado em grafite, Michel Onguer, e o cubano Jorge Mayet. “Falo muito com o Michel, meu amigo. O Mayet me provocou desde que vi uma exposição dele aqui em São Paulo com umas esculturas”, lembra. “As obras dele me trouxeram lembranças das casas na periferia”.
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