Manifestantes da Cidade Líder afirmam que a obra prejudicou o comércio local; ciclistas comemoram a construção
Por: Redação
Publicado em 02.02.2021 | 15:51 | Alterado em 02.02.2021 | 15:51
Quem mora perto da avenida Maria Luíza Americano, no distrito de Cidade Líder, na zona leste de São Paulo, percebeu uma movimentação diferente na região durante a tarde de segunda-feira (1º). Um carro de som percorria as ruas residenciais, convidando a população para protestar contra a ciclofaixa construída na região em dezembro de 2020.
“Começaram a fazer essa faixa sem nos comunicar, de surpresa. Como esse é um bairro no qual o comércio está crescendo muito, também temos um grande volume de carros e de trânsito. É por isso que os comerciantes e os moradores não querem a ciclofaixa”, explica Adriana Maresca Simões, 47, dona de uma clínica veterinária e criadora da petição contra a obra, que até o momento da passeata reuniu 726 assinaturas no Avaaz.
Rafaela Amorim, 31, é empresária do ramo de estética e percorreu a manifestação carregando um cartaz com os dizeres: “Não vamos deixar o comércio morrer”.
Ela diz ter sido prejudicada pela obra. “Aqui já temos uma deficiência de naturalmente nem ter vagas para estacionar, então as minhas clientes estacionam na rua. Com a ciclofaixa, já senti o meu faturamento cair. As queixas não param de chegar, tanto das funcionárias quanto dos fornecedores”, argumenta.
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A comerciante também critica o valor gasto pela prefeitura na obra. “A avenida não tinha buraco, eles fizeram esse recapeamento, sem sentido, enquanto existem muitas outras coisas que precisam ser melhoradas no bairro”, critica.
De acordo com o Diário Oficial do Estado, a implantação da ciclofaixa na avenida Maria Luiza Americano custou R$ 508.018,61. O trecho, com 4.072 metros de extensão, faz parte do plano de expansão de ciclofaixas e ciclovias da capital paulista pela prefeitura.
DESCONTENTAMENTO NÃO É UNÂNIME
O plano cicloviário de São Paulo tem como objetivo incentivar o uso da bicicleta, além de tornar o trajeto mais seguro para o ciclista. Atualmente, o estado paulista lidera o número de internações e mortes de ciclistas no Brasil, como mostra o levantamento da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), realizado a partir de dados do SIH (Sistema de Informações Hospitalares) e do SIM (Sistema de Informação de Mortalidade).
Euzeniro Santiago da Silva, 46, é morador da Cidade Líder e todos os dias utiliza a bicicleta como meio de transporte até o trabalho. “Ando de bicicleta desde que eu era menino, e me sinto seguro usando a ciclofaixa. É bem melhor do que estar no meio dos carros”, afirma.
Mateus Muradás, morador e conselheiro participativo do Parque do Carmo, 30, também é a favor da obra. “Eu acredito que a ciclovia é um ganho para a cidade toda. A região nobre da cidade já tem ciclovia, então isso já é uma realidade. Incentiva a parte esportiva, é um ganho para a saúde das pessoas e é uma possibilidade de ampliar os modais de transporte dentro do bairro”, diz.
Segundo ele, a manifestação é legítima e democrática. No entanto, o enfoque deveria ser outro, não à ciclovia.
“Ela atrai outro tipo de público, que muitas vezes não conhece o comércio local e que vai passar de bicicleta e observar com mais detalhe o comércio do bairro”, ressalta Muradás, que sugere à prefeitura adotar medidas compensatórias para que os comerciantes não sejam impactados.
Dados da CET (Companhia de Engenharia de Trânsito) mostram que, atualmente, a cidade de São Paulo possui 567,5 km de vias com tratamento cicloviário permanente, sendo 537,2 km de ciclovias/ciclofaixas e 30,3 km de ciclorrotas.
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