Flavia Zapata/Divulgação
Por: Carlos Pires | Felipe Barbosa | Guilherme Silva | Karine Gomes | Luis Antonio | Malu Marinho
Notícia
Publicado em 24.03.2025 | 11:45 | Alterado em 27.03.2025 | 17:26
Fazer ovos de Páscoa em casa se tornou uma opção de renda para muitas famílias. Mas como começar e quais as dificuldades para entrar nesse negócio temporário? A Agência Mural foi ouvir a experiência de sete vendedoras que atuam nas periferias da capital e da Grande São Paulo para ajudar quem está começando.
Criar espaços para degustação, evitar fiado, criar tamanhos menores e caprichar nas embalagens estão entre as dicas dessas vendedoras, que também relatam a “corda bamba” vivida para não aumentar muito o preço dos ovos, em meio ao alto custo de produtos como o chocolate.
Ovo de Páscoa da Muniz Doceria @Reprodução/Instagram
Para Michelli Sousa Muniz, 30, da Muniz Docceria, na zona leste de São Paulo, a dica principal para quem quer começar é ir em frente. “Se você quer trabalhar com ovos apenas comece. É uma ótima época para lucrar muito.”
Ela conta que no começo é comum que haja receio de ter prejuízo e não conseguir vender todo o produto comprado previamente. “Outra dificuldade é acertar o preço porque muita gente quer algo barato, mas a matéria-prima boa não é tão em conta.”
Michelly atua na zona de São Paulo @Arquivo Pessoal
Michelli aconselha explicar para os clientes a diferença entre um chocolate bom e um que tem mais gordura, para convencer sobre a questão do preço. “Também vale a pena criar opções menores e mais acessíveis, para atender diferentes bolsos.”
Teste receitas e encontre um bom chocolate
Invista em embalagens bonitas, porque a primeira impressão conta muito
Divulgue bastante, seja no boca a boca ou nas redes sociais
Trabalhar com chocolate exige paciência, porque qualquer erro pode fazer um ovo quebrar ou sair com defeito. Sem falar no calor, que pode atrapalhar o armazenamento e transporte
Explique sobre os produtos usados e o motivo do preço. Às vezes, um ovo com mais qualidade terá um valor maior do que um com chocolate com muita gordura
Crie opções menores e mais baratas para tentar atender o máximo de pessoas
O diferencial pode estar no sabor, na embalagem ou no atendimento. Um atendimento faz toda a diferença! Tratar cada cliente com carinho, lembrar do que ele gosta e entregar um produto bem feito são coisas que fidelizam
Maria vive em Itapevi, na Grande São Paulo, e dá conselhos para quem está começando @Arquivo Pessoal
Para Maiara Moraes de Paula, 24, de Itapevi, na Grande São Paulo, pesquisar os valores dos ingredientes é a primeira etapa fundamental. Ela cita, por exemplo, que vê pouca diferença entre a cobertura nobre e a fracionada, em relação ao sabor. Mas a marca, sim, tem relevância na qualidade.
A vendedora começou em 2016, quando iniciou com a venda de trufas ao lado de algumas amigas. “Quando começamos com os ovos, os desafios triplicaram, equipamentos (utensílios) improvisados, uma verdadeira bagunça que chegou ao ponto da minha mãe me proibir de produzir em casa”, relembra.
“Outro desafio foram os vários calotes que levei, vendi para muitas pessoas fiado e muitas não me pagaram”, relembra a vendedora, que hoje pede parte do pagamento adiantado.
Para ela, os preços são um desafio, mas também vê que mais pessoas procuram por ovos caseiros.
‘As pessoas estão buscando cada vez mais por ovos caseiros, justamente pela falta de criatividade do mercado e os altos preços’
Maiara, vendedora de Itapevi
Pesquise os valores dos ingredientes e veja qual chocolate quer começar a fazer. Veja se o produto mais caro realmente entrega um sabor melhor
Faça panfletos e distribua no bairro para que conheçam seu trabalho e saibam que está vendendo
Ofereça degustação teste para amigos e familiares e aproveita para criar conteúdo de divulgação em cima disso
Cuidado com o fiado. Muitas vezes vendemos para pessoas próximas na confiança, mas o ideal é receber ao menos 50% do pagamento antes da produção
Seja criativo, procure fazer outros sabores e com recheios. Adicione brindes
Em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, Vanessa Cardoso, 34, aponta que a principal dica é o treino. “Estudo para atender a necessidade de cada cliente”, afirma.
Para quem pensa em começar, ela ressalta que o primeiro investimento é o mais difícil, porque não é baixo. Além disso, é um período em que cada detalhe faz diferença. “Cada um quer o ovo de Páscoa de um sabor, um tipo de chocolate, um tipo de decoração, então isso me deixou um pouco insegura no início”.
Embora o preço seja um desafio, com o chocolate mais caro no mercado, ela cita que uma vantagem de quem trabalha em casa é que esse tipo de produção é mais transparente sobre como é feito o produto, em geral com menos conservantes, e o cliente pode escolher como quer a decoração.
Pesquise preços e conheça seu público para ter uma boa venda
Olho no detalhe. Cada um quer o ovo de Páscoa de um sabor, um tipo de chocolate, um tipo de decoração
Os gastos vão além do chocolate e ingredientes, é preciso levar em conta também despesas ‘invisíveis’ como luz, gás e água
Seja transparente sobre como é produzido e quais ingredientes você vai usar. Isso ajuda a mostrar o diferencial
Aposte em opções para o cliente escolher como quer a decoração do ovo de Páscoa
Ovos de colher tem sido uma opção muito usada por vendedoras @Arquivo Pessoal
Na Vila Medeiros, zona norte de São Paulo, Stephanie Torres, 28, lembra que manusear chocolate é complicado e exige paciência. “É preciso entender que com o tempo a prática que você cria deixa o processo mais rápido”, diz a criadora do Gostosuras de Garagem.
Ela não está otimista sobre as vendas em 2025, por conta dos preços. “Acredito que a venda esse ano vai ser mais fraca que de anos passados.” Mas considera que inventar coisas novas, como cookies e brownies, pode ajudar a manter as vendas.
Outro detalhe fundamental é a imagem. “Não adianta ter um produto delicioso e fotos e a apresentação ruim.” Sendo assim, é necessário trabalhar a estética e as fotos que serão publicadas do chocolate na hora da divulgação.
Tenha um cardápio com vários tamanhos e sabores, assim você consegue atingir mais pessoas
Capriche na apresentação dos produtos. Apresente o produto de forma bonita porque na internet o primeiro impacto é a visão
Tenha paciência. O manuseio do chocolate é complicado e pode ser frustrante no início até acertar a mão
Crie coisas novas para driblar a alta de preços
Cuide da estética e dos tamanhos. Ter um cardápio bem extenso em sabores, tamanhos e formatos ajuda. E pense em sabores clássicos e novos formatos
Ovos de Páscoa da Gostosuras de Páscoa @Arquivo Pessoal
Ovos de colher tem sido uma opção muito usada por vendedoras @Arquivo Pessoal
Ovos de Páscoa da Gostosuras de Páscoa @Arquivo Pessoal
Ovos de Páscoa da Gostosuras de Páscoa @Arquivo Pessoal
Ovos de Páscoa da Gostosuras de Páscoa @Arquivo Pessoal
Ovos de Páscoa da Gostosuras de Páscoa @Arquivo Pessoal
Ovos de Páscoa da Gostosuras de Páscoa @Arquivo Pessoal
Para Eliane Neves de Oliveira Vasconcelos, 49, que vende ovos de páscoa no Grajaú, na zona sul de São Paulo, o começo tem como primeiro desafio a confiança. “Provar que seu produto tem qualidade tanto no sabor, quanto na decoração” é o ponto de partida para quem vai começar.
Por conta disso, apresentar o produto para as pessoas próximas, com degustação, pode ser um bom ponto de partida, “para que as pessoas possam fazer seus pedidos sem medo de ter comprado algo ruim.”
Além dos preços dos ingredientes, ela cita que as embalagens também estão mais caras.
Compre chocolate de boa marca, que não seja com gosto de gordura hidrogenada
Mostre para o cliente com uma degustação o seu produto
Ovos de Páscoa de Larissa Rodrigues, em Parelheiros @Arquivo Pessoal
“Faça agora!”, aconselha Larissa Rodrigues, 28, da Doce Ofício, em Parelheiros, no extremo sul de São Paulo. Ela avalia que começar é importante, pois os clientes podem estar bem perto, além de fazer uma boa pesquisa de mercado. “Todo mundo conhece alguém que tem um filho pequeno, e essa criança não pode ficar sem ovo de Páscoa, né? Então, seja você a confeiteira para essas pessoas”.
Ela avalia que uma das principais dificuldades no começo foi o tempo e pouco conhecimento sobre precificação.
A dificuldade com relação aos preços sempre existiu, avalia, o que faz com que as vendedoras fiquem na corda bamba para não aumentar muito o custo. “Não tem jeito, a gente tem que repassar isso, porque contamos com o lucro”.
Produção de Larissa Rodrigues, em Parelheiros @Arquivo Pessoal
Produção de Larissa Rodrigues, em Parelheiros @Arquivo Pessoal
Produção de Larissa Rodrigues, em Parelheiros @Arquivo Pessoal
Produção de Larissa Rodrigues, em Parelheiros @Arquivo Pessoal
Produção de Larissa Rodrigues, em Parelheiros @Arquivo Pessoal
Sobre o diferencial, ela brinca que é o amor. “Óbvio. Mas, além disso, o carinho e a aparência dos produtos”. Atualmente ela trabalha com outras áreas como encomenda para festas, doces e salgados, Sobre os ovos de páscoa, a beleza é um diferencial. “O cuidado na embalagem, na produção, é algo diferenciado”.
Sobre os sabores, ela faz ressalvas. “A gente segue uma ‘moda’, ano passado foi pistache, por exemplo. Não sei se é inovador, sei lá, não considero. Tá todo mundo fazendo, será que é tão novo assim?”
O público pode estar bem perto. Pode ser a galera da igreja e as amigas da sua mãe. Então divulgue
Tente organizar seu tempo. Veja quanto tempo leva fazendo os ovos e o quanto é possível receber de pedidos, para não ter atrasos e saber cobrar
Evite não ser “careira”, dentro do possível. Com o aumento dos preços é necessário repassar ao produto final. Ao mesmo tempo, veja o que é possível para que tenha valores que façam sentido para os clientes
Amor e carinho no trabalho é fundamental
Sabores são importantes, mas cautela. Há muitas tendências que surgiram como inovadoras, mas que não são necessariamente. Veja o que os clientes gostariam e atenda
A beleza, o cuidado na embalagem, na produção, é algo diferenciado
Ovo de Páscoa criado por Maria Fernanda, em Embu das Artes @Flavia Zapata/Divulgação
Em Embu das Artes, Maria Fernanda Silva de Moraes, 31, vê como primeiro desafio entender o gosto do cliente. “O que ele gosta e o que ele tá procurando?”, sinaliza. No caso, ele pode estar atrás de algo novo, de um preço mais em conta ou mais qualidade. “Tem que analisar tudo”.
Para ela, fazer um “Kit Pré-Páscoa”, com uma mini degustação, seria o caminho ideal para conseguir ter um pouco de respostas a essas perguntas.
Outro alerta é sobre a hora de definir quanto custará o produto. “Os preços dos chocolates estão muito altos, então isso afeta bastante nosso investimento e as vendas dos ovos”, comenta. “Tem que fazer bastante pesquisa, diminuir o tamanho dos ovos para que fique bom para nós e para os clientes. Se ficar um valor muito alto pode dar prejuízo, pois não vai ter saída.”
Faça uma Pré-Páscoa: uma mini degustação para os clientes conhecerem o produto
Tamanhos menores com preços mais em conta são uma saída para a alta no custo do chocolate. Se ficar muito caro, há o risco de ficar com os produtos sem saída
A apresentação do produto e a qualidade de cada insumo são fundamentais
ALERTA: TRABALHO E SACRIFÍCIO
Outro desafio é o tempo para o trabalho. A venda pode ser uma renda extra, mas isso não significa que é simples. Para quem trabalha em outras atividades, conseguir um momento para preparar os pedidos exige organização e também sacrifícios. É importante ter isso em mente.
Nas periferias, há vendedoras que fazem esse trabalho e também seguem uma escala 6×1 na ocupação principal, o que pode ser desgastante. Outras conseguiram abrir o próprio negócio e tem vendido apenas doces ao longo do ano.
Apaixonado pela cultura Hip-Hop, quadrinhos, audiovisual e futebol. Como jornalista das ruas e fotojornalista, uno minhas paixões para destacar a realidade da quebrada e promover a visão periférica. Correspondente de Guaianases desde 2023.
Jornalista e social media, motivado por boas histórias e ideias. Jovem de espírito sonhador, com um pé na área cultural. Correspondente de Embu das Artes desde 2023
Jornalista formado, social media, produtor de podcast e redator. Filho da dona Edna e do seu Zé. Desbravo a conhecer a cidade com minha bicicleta. Amante de livros, músicas emo e Star Wars. Correspondente da Cidade Dutra desde 2022.
Jornalista graduada pela Universidade Cruzeiro do Sul. Interessada na causa social e animal. Desde a infância esteve voltada para questões sociais, antes como beneficiária, hoje no campo de fala. Correspondente do Grajaú desde 2022.
Jornalista, tenho um pezinho na música e sou curioso por tecnologia. Além de fazer carinho nos cães e gatos de rua, curto boas histórias, filmes, séries e memes, sou bom de garfo e gosto de andar por aí. Correspondente de Cidade Tiradentes
Jornalista ProUnista formada pela PUC é correspondente do Grajaú desde 2023. Premiada pelo Instituto Vladimir Herzog na categoria Jovem Jornalista. É pesquisadora da cultura Rom/cigana, com um livro escrito a partir de relatos da comunidade.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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