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Como foi a votação nas periferias de São Paulo

Eleição teve confusão em zonas eleitorais, filas e sujeira; mas cidades também registraram calmaria

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Ira Romão/Agência Mural

Por: Redação

Notícia

Publicado em 15.11.2020 | 20:21 | Alterado em 15.11.2020 | 20:44

Tempo de leitura: 5 min(s)

Na manhã deste domingo (15), a eleitora Dalveci Nascimento, 54, foi votar, mas enfrentou dificuldades. O nome dela não estava na lista do colégio eleitoral na escola Jornalista Carlos Frederico Werneck Lacerda, em Pirituba, na zona norte de São Paulo. “Fui informada que por causa da pandemia, eles mudaram algumas pessoas para outras escolas da região. Então não sei onde que posso ir  votar”.

Dalveci disse que votava na zona leste e se mudou para Pirituba, onde cadastrou a biometria, no ano passado “Eles me transferiram para uma escola mais próxima aqui da minha casa, que é essa onde estou. No meu título consta a zona e o número, tudo certinho, mas meu nome não tá na lista”. 

Além dos problemas com títulos, quem vota na região enfrentou filas nas seções eleitorais, além de trânsito nas principais vias. Na EMEF General Liberato Bittencourt, um dos objetivos foi não causar aglomerações dentro das seções eleitorais, além de priorizar os idosos. “Estava um sol danado, não tinha ninguém explicando nada aqui fora. Mas quando você entra está mais vazio”, disse o sindicalista Francisco Aparecido da Costa, 56.

À exemplo de Pirituba, correspondentes da Agência Mural acompanharam o dia de votação na capital e cidades da Grande São Paulo. Filas, ausência de cuidado com medidas de proteção e sujeiras nas ruas foram alguns episódios registrados durante o dia. 

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Eleitora só soube que não poderia votar na hora @Ira Romão/Agência Mural

Em Guaianases, zona leste da capital, alguns eleitores que costumavam votar na E.E. Major Cosme de Faria ficaram sabendo que o local havia mudado. Mudar alguns locais de votação foi uma das estratégias do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para evitar aglomeração e diminuir a quantidade de pessoas em algumas salas. As pessoas foram orientadas a procurar uma sala onde tinham representantes do TRE (Tribunal Regional Eleitoral).

Nas ruas do bairro, a reportagem identificou boca de urna. A legislação eleitoral proíbe a realização de atividades de aliciamento de eleitores e quaisquer outras que tenham o objetivo de convencer o cidadão a votar em determinado candidato. Sem fiscalização, a prática seguiu até o fim do dia. 

Alguns moradores chegaram a pegar alguns ‘santinhos’ no chão por não terem decidido em quem votar até a entrada na seção eleitoral. 

No interior das escolas, filas com mais de 25 pessoas foram vistas, além de desrespeito com as medidas de proteção contra a Covid-19, como distanciamento social e uso de álcool em gel. 

Filas grandes também foram observadas em outros lugares. Um exemplo foi na E.E. Senador Paulo Egydio de Oliveira Carvalho, Vila Maria, na zona norte. No Conjunto Habitacional José Bonifácio, em Itaquera, na zona leste, o movimento também foi intenso e contou com trânsito em algumas vias. 

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Região de Barragem, no extremo sul de São Paulo, repleta de materiais jogados no chão @Luana Nunes/Agência Mural

Se por um lado, as ruas estavam cheias, as escolas para votação estavam vazias, relataram moradores da zona leste. “Na minha seção tinham duas pessoas na minha frente”, conta Nadir Lopes, 48. Ela diz que a quantidade de papéis no chão também foi grande: “Teve candidatos que, só de olhar, foram os que mais poluíram”. 

Na E.E. Salim Farah Maluf, ali na região, além de pessoas fazendo boca de urna, uma barraca de pastel funcionava bem próximo do colégio. Apesar da sujeira com papéis na rua da E.E Prof. Sergio da Silva Nobreza, na Cidade Líder, zona leste, o local também teve aglomerações e filas durante esta tarde.

Na Jova Rural, no extremo norte, a rua da E.E. Gustavo Barroso causou transtornos aos moradores. Galhos na calçada e sujeira de ‘santinhos’ prejudicaram a locomoção dos eleitores. A escola passou nove meses com o muro caído justamente por causa de uma árvore no final de 2017, consertado antes das eleições de 2018.

Dentro da unidade escolar, marcações no chão, cartazes com as orientações na entrada e banheiros lacrados foram algumas técnicas utilizadas para lembrar os eleitores do distanciamento social e das orientações de segurança devido ao coronavírus.

Com a pandemia, algumas escolas se adaptaram neste domingo. No bairro Barragem, em Parelheiros, extremo sul de São Paulo, teve distanciamento social nas unidades. Em uma das escolhas, os organizadores de filas adotaram a prática de chamar cinco pessoas para a fila da votação. 

Na entrada das escolas, ‘santinhos’, boca de urna e entregadores insistentes foram vistos pela Agência Mural. 

Em Perus, zona noroeste da cidade, o autônomo Anselmo Merighi, 56, diz que foi votar ‘por obrigação’, como ele mesmo contou. “Não acredito no sistema, é o que digo para todo mundo”. Em relação ao candidato escolhido para vereador, afirmou que votou em um amigo.

No período da tarde, a votação em locais da na Vila Guilherme, zona norte, registrou poucas filas. O movimento estava tranquilo às 14h na E.E. Toledo Barbosa, na Vila Guilherme, por exemplo. Comum em outras regiões da periferia, os ‘santinhos’ também foram vistos em pouca quantidade, sendo que a maioria de candidatos eram da própria subprefeitura (Vilas Maria, Guilherme e Medeiros), região sem representantes na Câmara Municipal.

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Mar de santinhos em escadão de Guarulhos @João Vitor Reis/Agência Mural

NA GRANDE SÃO PAULO

A reportagem também acompanhou pontos de votação nas cidades da Grande São Paulo. Em Itaquaquecetuba, houve desrespeito ao distanciamento entre os eleitores. Pela manhã, aglomeração foi vista na escola E.M. Aristides Jacob Álvares, no bairro Vila Ursulina. 

Apesar da marcação no chão que pedia distanciamento mínimo, as pessoas estavam juntas no corredor, e as filas das seções se misturavam. Segundo uma mesária, a confusão no local foi fruto da transferência de eleitores para a escola, que geralmente não possui muitos eleitores cadastrados.

Não muito longe dali, na rua Maringá, bares seguiram abertos com cerveja, música alta, além de ‘chuva de santinhos’, apesar da pandemia.

Neste ano, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ampliou em uma hora o horário de votação. As seções eleitorais abriram das 7h às 17h, sendo que as três primeiras horas, sendo que de 7h a 10h foram preferenciais para as pessoas com mais de 60 anos, mas isso não foi respeitado em alguns lugares. 

A aposentada Maria Lúcia Campos dos Reis, 62, informou que não teve prioridade na hora de votar na escola E.E. Antônio Viana de Souza, no Parque Jurema, em Guarulhos, Grande São Paulo, por volta das 9h30 deste domingo.

“Tinham mais jovens e três idosos na minha frente, fiquei na fila aguardando os idosos serem chamados e na sequência, eu. Mas aí a moça continuou chamando os jovens. Na terceira pessoa, fui lá e falei: a prioridade aqui não é maior de 60?”.

Em frente à escola Félix Porto, em Guarulhos, na Grande São Paulo, a auxiliar de cozinha Maria Aparecida, 45, e a dona de casa Maria Silva, 52, criticaram a situação da cidade durante o dia. Para elas, tinha muita sujeira no chão e medidas de proteção não foram respeitadas.

Na contramão de bairros periféricos na capital, o município de Mairiporã não teve ‘santinhos’ no chão. “Primeira vez na minha vida que não vejo papel”, afirmou Humberto Müller, correspondente da Agência Mural na cidade. “Disseram que foi uma equipe da prefeitura que limpou algumas escolas de manhã, mas mesmo assim, nas ruas de bairro costuma ter também, inclusive na minha, que fica no caminho de duas escolas”, observou. 

Na cidade de Embu-Guaçu, a reclamação dos idosos foram as poucas fichas de justificativa eleitoral enviadas aos moradores. A quantidade acabou logo pela manhã, segundo eleitores. 

Para os problemas técnicos, a orientação dos mesários foi que tentassem fazer alguns processos pelo celular. No entanto, problemas no aplicativo foram relatados desde cedo. Além disso, idosos relataram dificuldades com celulares. 

De maneira geral, o aplicativo e-Título apresentou instabilidade neste domingo. De acordo com o TSE, o grande volume de acessos foi o responsável pelo problema. O órgão orientou que os eleitores que tiveram algum problema com o aplicativo, tentassem novamente mais tarde.

Por conta da pandemia, a justificativa de quem não pôde votar deve ser feita preferencialmente pelo aplicativo e-Título até 14 de janeiro, para ausência no 1º turno, e 28 de janeiro, no 2º turno.

O aplicativo e-Título pode ser usado pelo eleitor que não está em sua cidade de votação e pretende justificar a ausência. Se o aplicativo seguir com problema, o cidadão também pode justificar a ausência por meio do formulário de Requerimento de Justificativa Eleitoral (RJE). O TSE tem uma página na internet que permite o preenchimento do RJE.

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