Magno Borges/Agência Mural
Por: Thila Moura
Notícia
Publicado em 27.11.2024 | 18:34 | Alterado em 27.11.2024 | 18:34
A micropigmentadora Shiscleide Bruna Alves Teixeira, conhecida profissionalmente como Xis Teixeira, sempre teve o sonho de fazer trabalho social e deixar um legado. Encontrou essa possibilidade em uma atividade importante, mas ainda pouco conhecida: reconstruir aréolas dos seios de mulheres que precisaram retirar mamas para tratamento de câncer.
Combinando técnicas de micropigmentação, tatuagem e desenho realista, ela redesenha as aréolas enquanto ajuda pacientes a recuperarem sua autoestima. O procedimento pode durar até 5 horas e, apesar do esforço, ela não aceita pagamento. Todo o trabalho é voluntário.
“Eu não consigo colocar um valor para uma paciente que passou por um câncer e venceu. Se ela realiza o tratamento pelo SUS de forma gratuita, nada mais justo que finalize comigo gratuitamente também”, afirma Xis Teixeira, 34, de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
Além de mulheres que venceram o câncer de mama, ela também realiza o preenchimento em pessoas com alopecia (doença em que ocorre a perda de cabelo ou pêlo em qualquer parte do corpo). Ela, porém, não divulga esse trabalho nas redes sociais por ser um assunto delicado para os pacientes.
‘Fiz esse trabalho em um menino de dez anos, de graça. Não cobrar nesses casos me dá uma sensação que vale muito mais que um dinheiro na minha conta’
A história começou em 2019, quando Xis Teixeira decidiu fazer um curso de design de sobrancelhas. Levou um tempo até que ela se sentisse segura para iniciar os atendimentos e montar seu próprio estúdio, em 2020.
Com o aumento da clientela e o desejo de sempre fazer mais e melhor, ela seguiu se aprimorando e em um dos cursos conheceu a Micropigmentação Paramédica.
Determinada, conseguiu realizar um curso sobre o assunto em 2020, quando conheceu a professora da técnica Schirley dos Santos Costa, conhecida profissionalmente como Schirley Brows. Ela cedeu suas aulas para um grupo de doze mulheres de diferentes regiões do Brasil, de forma online, no período da pandemia do Covid-I9.
“A Shirley é um anjo na minha vida. Foi ela que reconheceu meu trabalho na micropigmentação e escolheu outras mulheres para realizar um projeto nacional sobre [reconstrução de] aréolas, gratuito. Como ela me deu o curso gratuitamente, ele se tornou um compromisso meu com ela”, explica.
O objetivo da professora era ampliar a oferta do procedimento de reconstrução de aréola no país, para que mais mulheres na luta contra o câncer de mama pudessem ter novamente parte da sua autoestima consigo.
A micropigmentação é uma espécie de tatuagem realizada na área escolhida – no caso o mamilo. O procedimento só pode ser feito após três meses da cirurgia da mama ou depois do término do tratamento oncológico.
Trata-se de um método de estética reparadora, que é feito associando técnicas de cirurgia com a micropigmentação. É realizado apenas por tatuadores ou micropigmentadores paramédicos.
“O procedimento de micropigmentação de aréola é o mais recomendado, pois é o resultado que mais se parece com a aréola da outra mama”, afirma o mastologista Fernando Pontes, que é cirurgião oncoplástico de mamas e membro da Sociedade Brasileira de Mastologia.
A maioria das pacientes de Xis a procura depois de um ou dois anos do término do tratamento. Em geral, elas afirmam que não se reconhecem ao se olhar no espelho, sentem vergonha de se despir ou estão com a autoestima baixa, o que as afeta física e psicologicamente.
‘O processo de avaliação é online. Sempre pergunto quando [a paciente] teve câncer, quando teve alta médica, como foi o tratamento e peço fotos do seio. Com essas informações eu consigo agendar o procedimento e ter toda a segurança [para atendê-las]’
A reconstrução pode durar até 5 horas, por isso Xis Teixeira reserva um período inteiro do dia só para se dedicar a paciente, de forma integral e atenciosa. Primeiro é preciso aplicar anestésico no local e em seguida, iniciar o desenho e a pintura da auréola com técnicas de desenho realista. O procedimento é indolor.
Ela mescla tintas de micropigmentação, de tatuagens e pigmentos específicos para cada tipo de pele. Assim, a chance de precisar de retoques é menor. As aréolas são desenhadas com um equipamento chamado pen (uma máquina de tatuar rotativa) ou um dermógrafo (uma caneta mais fina utilizada para fazer a micropigmentação).
“Uso minha alma de artista na hora, porque cada pele é diferente. Vou pintando e simulando o realismo da aréola. Às vezes a gente tem a aréola do lado para copiar e às vezes não, e aí tenho que começar o procedimento do zero”, conta a micropigmentadora.
Caso a paciente deseje, é possível fazer retoques. O acompanhamento dura até 30 dias, mas a paciente pode retornar ao estúdio se houver alguma alteração na cor da pele ou depois de 2 a 3 anos para retoque, caso o pigmento tenha desbotado.
“Ficou ótimo o resultado e até superou as minhas expectativas. Antes dava muita diferença entre o lado que tinha aréola e o outro que não. É uma tatuagem, mas é muito real. Antes só tinha uma cicatriz e mexia demais com a minha autoestima”, conta uma paciente que não quis se identificar.
Todo o esforço ajuda as pacientes a cicatrizar uma ferida que ainda pode estar aberta.
O câncer de mama é uma doença grave, que requer tratamento médico. Há vários tipos de câncer de mama e quanto mais rápido for o diagnóstico, maior a chance de cura.
“O câncer de mama é uma doença cujo tamanho é documento sim. Quanto menor o câncer, maior as chances de cura”, diz o mastologista Guilherme Novita, que trabalha no Hospital Israelita Albert Einstein e é diretor da Escola Brasileira de Mastologia.
O tratamento é realizado pelo SUS ( Sistema Único de Saúde). Todas as pacientes têm o direito de se submeter ao procedimento para reconstrução da mama de forma gratuita, como prevê a Lei da Reconstrução Mamária n I2.802/20I3, que dá o direito a cirurgia plástica.
Estudante e apaixonada por fotojornalismo. Jornalista é reportar histórias, fatos e corroborar com questões sociais. É ter sede da comunicação. Correspondente de Itapecerica da Serra desde 2023.
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