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Agência de Jornalismo das periferias

Arquivo pessoal

Por: Aline Almeida

Notícia

Publicado em 20.05.2024 | 13:00 | Alterado em 20.05.2024 | 13:00

Tempo de leitura: 3 min(s)

Com cerca de 400 mil habitantes, o distrito do Grajaú, na zona sul de São Paulo, tem mais habitantes do que 98% das cidades brasileiras, segundo dados do IBGE. Dentro da região, no bairro Jardim Eliana, reside Cosme Vieira Gonçalves, 27. O sanfoneiro que, por onde passa, leva o nome do Grajaú consigo.

“Sou filho e neto de baianos; a música e a sanfona sempre estiveram presentes em minha casa. Foi por influência do meu avô e de meu pai, ao vê-los tocar, que me interessei pela sanfona”, conta.

Cosme começou tocando triângulo com o pai aos três anos, quando o acompanhava em apresentações. Mas, com o tempo, a maior paixão se tornou a sanfona.

Cosme e seu irmão Damião @Arquivo pessoal

“Minha mãe conta uma história que quando eu tinha quatro anos, deu uma chuva aqui e encheu de água a rua, uma “sanfoninha” de brinquedo levada pela chuva parou dentro de minha casa, meu tio pegou pra mim, na rádio estava tocando ‘Asa branca’[de Luiz Gonzaga], comecei a tocar junto e não parei mais”, recorda.

Logo após esse episódio, com apenas quatro anos de idade, o padrinho lhe deu a primeira sanfona, que era um pouco menor que as tradicionais, e a mãe o inscreveu no programa televisivo do Raul Gil, onde ganhou da dupla sertaneja Guilherme e Santiago o instrumento adequado para sua idade, e daí em diante seguiu a carreira musical.

Ele afirma que desde que pegou a sanfona pela primeira vez, já soube tocá-la. “Ouvia qualquer música e já sabia; quando o caminhão de gás passava, eu tocava igualzinho. Tenho ouvido absoluto”. Capacidade que algumas pessoas têm (e não apenas músicos) de identificar a nota que está sendo tocada, seja de um instrumento musical ou de qualquer som do cotidiano.

A infância foi cercada por música e programas dominicais da TV aberta. Depois do Raul Gil, participou também das atrações dos apresentadores Gilberto Barros, Eliana, Faustão, Silvio Santos, entre outros.

Cosme com o trio ‘Fala Moleque’, junto com o apresentador Silvio Santos @Arquivo pessoal

Aos sete anos, formou uma dupla com o irmão, ‘Cosme e Damião’; depois entrou outro integrante, o primo Luan. O trio se transformou em ‘Fala Moleque’. Compartilharam o caminho artístico por oito anos, e consequentemente, cada um foi seguindo carreira solo.

Cosme conta que durante toda a jornada artística, desde a participação em programas na TV até apresentações em shows, nunca se impressionou em estar rodeado de pessoas famosas.

‘Tocava normalmente; é o meu trabalho, assim como se eu fosse trabalhar numa empresa. Terminava a apresentação e voltava para o Grajaú; aqui é meu lar, meu lugar de descanso’

Cosme Vieira, sanfoneiro do Grajaú

O sanfoneiro chegou a um patamar de ser um músico requisitado e reconhecido no meio artístico. Ele é chamado para tocar com vários artistas sem negar as raízes grajauenses. Além da carreira solo, hora ou outra compõe as bandas de Mariana Aydar, Zeca Baleiro, Cláudia Leite, Ivete Sangalo, Gilberto Gil e muitos outros.

Cosme e seu ídolo Dominguinhos @Arquivo pessoal

“Este ano tocarei em Portugal, Barcelona e Alemanha; depois volto para o Grajaú da mesma forma; para mim, é a coisa mais normal do mundo”.

Tendo como referência Dominguinhos, Cosme relembra quando tocou pela primeira vez com o ídolo.

“Quando vi ele [Dominguinhos] pela primeira vez aos dez anos, não tinha noção da genialidade dele; sabia que era famoso, mas não tinha noção da imensidão. Mas aos quatorze anos, com o ‘Fala Moleque’, tocamos no maior festival de forró no Espírito Santo; ele me chamou para tocar com ele, isso abriu minha cabeça para outro lugar de musicalidade”, explica.

Raízes grajauenses

O músico não costuma tocar no Grajaú, mas sempre que o chamam, ele vai e até gostaria de se apresentar mais vezes. “Aqui tem muita gente boa, muito músico bom”, ressalta.

“O Grajaú é um lugar maravilhoso, mas a galera fica escondida aqui, só circulando e não sai muito para fora; isso é uma pena; tem que mostrar o que é do Grajaú”, enfatiza.

Na reinauguração do Museu do Ipiranga em 2022, ele e Criolo tocaram juntos. “Nos chamamos de Grajaú, e aí Grajaú, e ele responde; e aí Grajaú; é muito importante essa identificação”.

Cosme participando do programa Raul Gil @Arquivo pessoal

Cosme explica que em todo lugar, com quem quer que seja que ele vá tocar, faz questão de falar que é cria do distrito na zona sul; inclusive, em seu perfil do Instagram, há a localidade destacada.

Além disso, ele também pretende, futuramente, criar algum projeto dentro do Grajaú para que o mundo conheça e saiba dos talentos que existem no lugar em que nasceu e foi criado.

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Aline Almeida

Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Ama livros, música e séries. Libriana apaixonada por pets. Correspondente do Grajaú desde 2022.

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