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De almoço comunitário a prêmio: o cearense que conquistou Itapecerica da Serra

Por: Thila Moura

Com um simples frango assado servido em um almoço entre vizinhos, em 1996, surgiu a ideia de uma ação beneficente. Antônio Rodrigues da Cruz, 80, um cearense que vive há 31 anos no bairro Santa Júlia, localizado em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, resolveu naquela ocasião ampliar a proposta e criar um almoço comunitário para os moradores da região.

A ação cresceu e ganhou visibilidade, passando a chamar a atenção não só da vizinhança, mas também do poder público municipal.

“Não defino como atividades o que eu faço, eu classifico como trabalhos sociais. A gente acaba ajudando sem perceber e tudo isso vai te dando uma nova vida e novas atitudes de reagir”, diz Antônio.

Almoço Comunitário no colégio Natércia Cremm de Moraes Pedro Professora em 2024 @Arquivo pessoal

Além dos almoços, ele passou a celebrar seu aniversário com um grande bolo e presentear os convidados na data: às crianças, com bonecas e bolas de futebol; aos adultos, um show ao vivo com direito a banda.

“Meu trabalho é importante e eu nem sabia, mas é um trabalho social que liga a humanidade, não há separações de instituições”, diz.

Nos encontros de dezembro, Antônio já reuniu de 300 a 500 pessoas, incluindo moradores de Itapecerica e cidades vizinhas como @Embu-Guaçu@ e São Lourenço da Serra.

Em 2022, ele foi homenageado com o título de Cidadão Itapecericano, em reconhecimento aos serviços prestados ao município, aprovado pela Câmara Municipal de Itapecerica da Serra em conjunto com o Estado de São Paulo.

Cerimônia do recebimento da placa de título de Cidadão Itapecericano na Câmara Municipal de Itapecerica da Serra em abril de 2022 @Arquivo pessoal

“Lembro de um dos meus filhos falando na ocasião: ‘Pai, deixa de ser ignorante, isso é algo que eu queria ter’. Assim foi caindo minha ficha, e fui atrás do meu prêmio. Só assim para entender que meu trabalho tem importância”.

Um outro desafio

Em 2020, Antônio foi surpreendido com a descoberta de um câncer no intestino. No início, pensava que era apenas uma dor na vesícula, mas ao procurar médicos na região e passar por uma bateria de exames, descobriu que se tratava de um tumor agressivo no intestino.

Após o diagnóstico, conseguiu realizar uma cirurgia para retirada do tumor no Hospital Geral de Itapecerica da Serra.

‘Não deixei que o câncer definisse a minha vida. Ele é apenas um detalhe, porque você pode fazer as coisas com qualidade. A doença não vai me parar’

Antônio Rodrigues da Cruz

Segundo a SES-SP (Secretaria de Estado da Saúde), o Hospital Geral de Itapecerica da Serra (HGIS) realiza, anualmente, uma média de 9.131 atendimentos clínicos, 5.106 sessões de quimioterapia, 3.242 de hormonioterapia, 13.075 atendimentos multiprofissionais e 456 cirurgias oncológicas. O hospital é considerado uma das referências da Rede Hebe Camargo desde 2022.

Antônio Rodrigues com o pessoal da Igreja Internacional da Graça de Deus no almoço Comunitário em 2024 @Arquivo pessoal

Hoje, mesmo sendo paciente oncológico, Antônio ampliou a iniciativa e passou a organizar um almoço em outubro, voltado a idosos e pessoas com deficiência, no salão da Capela Sagrado Coração de Jesus. O evento já está no quinto ano consecutivo.

Atualmente, ele enfrenta processo de metástase. “O pai não está curado do câncer, ele tem metástase, mas está estacionado. Sua alimentação e pressão arterial estão controlados”, conta Sônia Regina Alves Cruz da Silva, 54, filha mais velha de Antônio.

A metástase acontece quando as células do câncer se desprendem do tumor principal, entram na circulação sanguínea ou linfática e, por meio dela, se disseminam e se alojam em outras partes do corpo, como tecidos e órgãos distantes do local onde a primeira lesão se iniciou, formando novos tumores. Em outras palavras, é possível dizer que a metástase significa que um câncer se espalhou. (Fonte: Ministério da Saúde)

Os órgãos mais comumente comprometidos por metástase incluem gânglios linfáticos, fígados, pulmões, ossos e cérebro. Em casos como o dele, é recomendável o tratamento com equipe multidisciplinar, incluindo oncologistas, psicólogos, enfermeiras, nutricionistas e fisioterapeutas.

Suellen Natália Martins, psicóloga hospitalar e clínica, explica que o apoio psicológico é fundamental no tratamento de pacientes oncológicos em todas as fases. “É uma forma de enfrentar e de acolher essa dor. É importante que o paciente busque de fato o apoio psicológico, tem aqueles que vão lidar de uma forma adequada, outros não.”

Com 80 anos, Antônio não permitiu que o câncer o impedisse de seguir em frente. “Fico lisonjeado que o meu título veio em vida, porque a maioria das pessoas são homenageadas depois que morrem. E tudo isso conserva a vida de uma forma gostosa, interessante”, conta.

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