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Em Diadema, agricultores lutam por uma alimentação mais saudável e acessível

Simony Maia/Agência Mural

Pequenos produtores se unem para manter horta comunitária funcionando na região

Por: Simony Maia

Notícia

Publicado em 05.06.2025 | 15:21 | Alterado em 05.06.2025 | 15:21

Tempo de leitura: 4 min(s)

Em meio ao quilômetro 16 da Rodovia dos Imigrantes, uma das principais de São Paulo, está localizada a Horta 8 de Dezembro. O espaço, que era destinado a descarte de lixo, nasceu há 10 anos, na Vila Mulford, em Diadema e hoje é um refúgio verde na periferia do município.

Moradores locais como Maria Tereza Paiva, 57, costureira e agricultora urbana, ajudam a manter o funcionamento da Horta e plantam alimentos diversos: alface, couve, escarola, almeirão, capim santo, mostarda, hortelã e muitos outros. “A horta é uma terapia desde a época da pandemia em que a gente não podia sair de casa”, diz a agricultora.

Produtores urbanos mantêm horta comunitária sem apoio da nova gestão da prefeitura @Simony Maia/Agência Mural

O espaço conta com 22 produtores e 72 canteiros e apesar de ter nascido com o apoio da prefeitura de Diadema, atualmente quem cuida do local são os moradores, que ficam responsáveis por todos os custos, desde a compra dos insumos necessários para a produção, até o pagamento da conta de água.

“Já estamos no mês de junho e até agora não chegou nenhum apoio da nova gestão. Enfrentamos dificuldades para fazer a feira, levar nossos produtores, comprar adubo. É a gente que corre atrás de tudo”, comenta Maria.

Em 2025, Taka Yamauchi (PSD) assumiu a prefeitura após derrotar Filippi (PT) nas eleições do ano passado. Questionada, a prefeitura afirmou que “a venda de hortaliças por agriculturas das hortas comunitárias de Diadema não foi possível ainda este ano, porque a Feira Agroecológica que funcionava, às quintas-feiras, dentro da Feira Noturna da Praça da Moça passa por reestruturação.”

Produtores se ajudam quando o assunto é alimentação saudável @Simony Maia/Agência Mural

E se por um lado falta apoio da prefeitura, por outro, os vizinhos se ajudam. Um deles é José Carlos Ferreira, 61, analista de sistemas e integrante do CRU (Coletivo Rural Urbano), que busca fortalecer a aliança campo-cidade e realizar o abastecimento popular de alimentos agroecológicos, variados e saudáveis com preço acessível direto do camponês para as periferias.

Com o apoio de José, as produtoras da Horta 8 de Dezembro, conseguiram vender os seus produtos no condomínio do analista.

“A ideia das meninas venderem no meu condomínio surgiu porque hoje em dia as pessoas estão dando mais importância para a saúde, e os alimentos orgânicos têm um diferencial”, conta ele. “Elas estão lá há seis meses e a ideia é fazer com que esse projeto expanda para outros condomínios e até mesmo para entregas”, conclui.

Alimentos orgânicos, livres de defensivos agrícolas, são mais saudáveis e dão mais energia @Simony Maia/Agência Mural

Além dos moradores do condomínio de Carlos, Tereza também vende para os seus vizinhos da Vila Mulford. No entanto, os preços variam de acordo com a necessidade do cliente. “Se alguém tem só R$ 1,00 para pagar, a gente vende. Às vezes fazemos até doação. Para nós é importante saber que a pessoa está levando um alimento saudável e que será importante para ela”, explica.

A produtora diz acreditar que nem todo mundo tem condições financeiras para ter uma alimentação saudável e muitas vezes acabam optando por alimentos industrializados. “O alimento sem agrotóxico é um pouquinho mais caro, porque passa por um processo mais delicado e trabalhoso. É como se você estivesse cuidando de uma criança”.

Comida saudável nas periferias

O que Maria diz também se comprova em dados. Um estudo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) revelou que os moradores das favelas brasileiras têm mais dificuldade de acesso a alimentos saudáveis e consomem mais ultraprocessados.

Fatores como rotina corrida, falta de informação e preços altos impactam diretamente nessas escolhas.

Evelyn Suelen de Souza, 27, nutricionista de Itapevi, na Grande São Paulo, afirma que alguns dos pacientes de baixa renda acabam não sabendo da importância dos alimentos orgânicos.

“Às vezes, entre um cacho de banana de R$ 15, um pacote de bolacha de R$ 2, a pessoa escolhe o que está mais em conta. Se você tem uma família grande e precisa sustentar e alimentar todos, a quantidade vai importar mais do que a qualidade”.

Horta comunitária cria cenário verde em meio a cidade @Simony Maia/Agência Mural

Ela ressalta a falta de tempo como um fator determinante para as pessoas periféricas na hora de se alimentar. “Escuto dos meus pacientes que acordam de manhã para trabalhar que, por conta da correria, eles preferem o mais rápido: um biscoitinho, um café na rua, uma coxinha, um refrigerante”.

No entanto, apesar dos desafios, a nutricionista alerta para os riscos que uma alimentação rica em produtos industrializados e ultraprocessados pode causar à saúde.

“Obesidade, diabete, pressão alta, queda de cabelo, são um conjunto de doenças que a maioria das pessoas periféricas acabam tendo”. Deficiência de ferro, vitamina D, B12, cansaço físico, ansiedade também podem estar atrelados à falta de nutrientes.

Evelyn aponta que, apesar do que as pessoas costumam dizer, é possível sim comer saudável sem gastar muito. “As frutas e os legumes são alimentos que dão muita saciedade, ao contrário dos alimentos industrializados que são calorias vazias, que você come agora e sente fome daqui uma hora novamente e acaba gastando muito mais”, diz.

“Hoje em dia para comer um lanche você não gasta menos de R$ 20. Então é preciso pensar na qualidade da sua saúde e em onde você está investindo o seu dinheiro e o benefício que te traz a longo prazo.”

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Simony Maia

Jornalista que se aventura pelo universo das redes sociais falando sobre política, cultura e entretenimento. Em busca de sempre vivenciar novas trocas para contar boas histórias. Correspondente de Diadema desde 2023.

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