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Agência de Jornalismo das periferias

Comitê Paralímpico Brasileiro/Divulgação

Por: Kethilyn Mieza

Notícia

Publicado em 26.08.2024 | 17:03 | Alterado em 26.08.2024 | 17:33

Tempo de leitura: 4 min(s)

Das piscinas para as pistas de atletismo, o atleta Henrique Caetano, 25, já conquistou muitas medalhas durante a carreira, e pretende conquistar ainda mais em Paris. Morador de Mauá, na Grande São Paulo, ele chega à disputa apenas um ano após ter trocado de modalidade.

O competidor bateu o recorde das Américas nos 200m no Circuito Nacional de Atletismo Paralímpico e garantiu a vaga para as Paralimpíadas de 2024, que começam nesta quarta-feira (28).

Henrique tem paralisia cerebral, que se deu em decorrência das más condições oferecidas durante o nascimento, em 11 de janeiro de 1999. O atleta veio ao mundo em um parto que durou mais tempo do que o esperado e resultou na falta de oxigênio no ventre da mãe, o que provocou a paralisia.

O jovem conta que os médicos recorreram ao uso do fórceps, instrumento de metal, o que dificultou ainda mais a situação. A mãe de Henrique, Albertina Francisca, ainda caiu no centro cirúrgico, quando a maca em que ela estava quebrou, afetando o lado direito do corpo do bebê, especialmente o braço.

Henrique Caetano disputou a prova de 200m no Circuito Nacional de atletismo paralímpico deste ano @Arquivo pessoal/Divulgação

O pai de Henrique abandonou a família logo após o nascimento dele. Dona Albertina se tornou mãe solo e precisou abdicar de muitas coisas para cuidar dos três filhos, uma menina de 16 anos, um menino de 5 e o recém-nascido. “Meu pai falou que não queria filho aleijado e foi embora, aí deixou minha mãe com os meus dois irmãos”, conta Henrique.

Ele ressalta a importância da família durante a jornada até chegar às Paralimpíadas: “Graças a Deus e a eles eu tô chegando onde eu sempre sonhei”. A irmã do atleta foi braço direito para cuidar dele enquanto criança, e precisou se afastar dos estudos para ajudar a mãe. Duas mulheres a quem Henrique demonstra muita gratidão.

Realmente está sendo real o sonho de criança se realizando

Henrique Caetano, atleta Paralímpico

Henrique cresceu no Jardim Esperança, bairro da periferia de Mauá, no ABC Paulista. Na cidade, o atleta não teve espaço para treinar nem apoio financeiro, e por isso cobra esse olhar mais cuidadoso do poder público em Mauá.

Henrique já conquistou dois recordes das Américas na classe T35 @Alexandre Carvalho/Divulgação

Hoje, ele vive mais tempo na cidade de São Paulo, na região do Jabaquara, na zona sul, onde fica o Centro de Treinamento Paralímpico, e reconhece a importância de incentivos como o Bolsa Atleta, um auxílio do Governo Federal para os competidores de diferentes modalidades.

Apesar de já ter chegado em um nível elevado na carreira, ele destaca que, por ser um atleta paralímpico da periferia, precisou correr inúmeras vezes mais para atingir o topo. “Você tem que entregar além do que o seu corpo exige, para quem tem uma uma renda melhor é mais fácil chegar em algum lugar porque você não tem que se preocupar se você vai comer ou como vai pagar algo”, exemplifica.

O início e a mudança

Com menos de dois meses de vida, Henrique já começou a atravessar São Paulo junto à mãe para realizar os tratamentos com assistência médico-terapêutica em ortopedia e reabilitação na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) que atende centenas de pessoas com deficiência em São Paulo e outros estados.

Foi na AACD que o atleta teve os primeiros contatos com o esporte e se apaixonou pela natação ainda criança.

Em 2018, Henrique foi convocado para a Seleção Brasileira de Natação Paralímpica, mas até chegar lá teve o apoio de Edna Garcez, coordenadora da AACD Esportes, que levou Henrique para as primeiras viagens de competições e o ajudou a arcar com os custos altos que o esporte demanda.

No entanto, a prática trouxe algumas insatisfações para o atleta, e ele começou a se sentir exausto psicologicamente. Em agosto de 2023, o atleta decidiu mudar de modalidade para continuar no esporte, como uma última tentativa. E deu certo.

Na nova trajetória, chegou ao pódio para representar o país na classe T35 de atletismo na Paralimpíada, na competição destinada aos atletas com paralisia cerebral andantes.

CLASSES DO ATLETISMO NAS PARALIMPÍADAS

A letra T (de track, no inglês) é utilizada para definir o grau da deficiência dos competidores de atletismo. Assim, quanto menor a numeração, maior o grau de deficiência, por exemplo:

· T 11 a 13: deficiencia visual
· T 20: deficiencia intelectual
· T 31 a 38: paralisados cerebrais (31 a 34 para cadeirantes, 35 a 38 para andantes)
· T 40 e 41: pessoas com nanismo
· T 42 a 44: deficiência nos membros inferiores
. T 45 a 47 deficiência nos membros superiores
· T 51 a 54: competem em cadeiras (sequelas de poliomielite, lesão medular e amputação)
. T 61 a 64: amputados de membros inferiores com prótese

Henrique explica que essas definições não diminuem a qualidade dos atletas, e deixa um recado para quem quer acompanhar os jogos: “A única coisa que nós temos são as limitações. Não tem que ter pena de um deficiente, tem que ver o que ele lutou para chegar até ali”.

O atleta busca aumentar a coleção de medalhas nas Paralimpíadas de Paris @Arquivo pessoal/Divulgação

Paralimpíadas de 2024

As Paralimpíadas serão realizadas em Paris, após adaptação dos espaços que acolheram os Jogos Olímpicos, e o Brasil tem uma história de muitas conquistas nas edições anteriores: são mais de 370 medalhas desde a primeira participação, em 1972.

Mesmo com o bom desempenho, a visibilidade para a competição ainda é muito baixa se comparada às Olimpíadas.

‘Mesmo trazendo mais medalhas e sendo um país que briga no topo do ranking, não tem tanta valorização como nos Jogos Olímpicos’

Henrique, atleta paralímpico

A falta de visibilidade das competições afeta também o investimento que os atletas têm e o patrocínio que eles podem conseguir. Diferente das competições olímpicas, as Paralimpíadas não são transmitidas ao vivo na TV aberta, e essa é uma das queixas de Henrique.

“Se a mídia esquece de mostrar que o Brasil paralímpico é muito forte, claro que nenhum patrocinador vai querer investir no meio paralímpico”, pontua.

Henrique embarcou no dia 16 de agosto para a França em busca de mais medalhas para o Brasil. A cerimônia de abertura das Paralimpíadas de Paris 2024 será no dia 28 de agosto e os jogos devem terminar em 8 de setembro.

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Kethilyn Mieza

Jornalista. Dançarina apaixonada por arte e pela cultura hip hop. Escrever e contar histórias por meio do jornalismo é seu melhor caminho para dar voz às pessoas. Correspondente de Mauá desde 2023.

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