APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

[email protected]

Agência de Jornalismo das periferias

Por: Karine Ferreira

Notícia

Publicado em 24.07.2025 | 15:00 | Alterado em 24.07.2025 | 16:52

Tempo de leitura: 4 min(s)

PUBLICIDADE

O ano de 2025 tem sido marcado por desafios para os moradores do Jardim Pantanal, no distrito do Jardim Helena, zona leste de São Paulo. Em fevereiro, a comunidade enfrentou uma das maiores enchentes da última década.

Pouco depois, famílias que vivem às margens do Rio Tietê foram surpreendidas por uma operação de desocupação conduzida pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) e pela Subprefeitura de São Miguel Paulista.

Além da ação, moradores também receberam multas que chegam a R$ 5 mil por permanecer no local, com a alegação de que os imóveis estavam irregulares.

A autônoma Vanessa Moreira Santos, 43, é uma das lideranças do Jardim Pantanal que buscam respostas da prefeitura. Ela relata que enfrenta uma rotina intensa desde o começo do ano.

“De fevereiro para cá, nossas vidas mudaram após as enchentes e o pronunciamento do prefeito [Ricardo Nunes] sobre os planos de remoção. Ele quer tirar casas que não são nem necessárias remover”, afirma.

“Estamos vivendo mais em reuniões do que em nossa própria casa, buscando respostas, um diálogo com a prefeitura que não estamos tendo. Só conseguimos falar com a prefeitura quando fazemos alguma manifestação”, completa Vanessa.

Prefeitura quer remover famílias de bairro da zona leste Google Earth / Imagem de satélite © [2025] CNES / Airbus / Maxar Technologies

Vanessa mora no Jardim Pantanal com o marido e o filho e integra a Frente de Lutas, movimento criado no início do ano durante os protestos que pediam o fechamento das barragens, após o bairro do Jardim Helena ficar mais de quatro dias debaixo d’água.

Formado por mais de 40 moradores do Jardim Pantanal, o grupo segue mobilizado desde então, em busca de respostas da prefeitura e na defesa do direito à moradia digna.

De acordo com os comunicados do prefeito Ricardo Nunes, o plano “Recupera Pantanal” começa em julho, com a remoção de mil famílias. A previsão é que todo o processo se estenda até 2029, totalizando a retirada de mais de 4 mil imóveis.

Projeto está dividido em 3 fases

1
  • Julho de 2025 a outubro de 2026: remoção de 1.000 imóveis e construção de um gabião.
2
  • Novembro de 2026 a junho de 2028: retirada de mais 1.000 imóveis
3
  • Julho de 2028 a dezembro de 2029: remoção dos 2.344 imóveis restantes.

Ao todo, serão 4.344 imóveis desocupados ao longo dos próximos quatro anos.

A prefeitura e o governo do estado prometeram dividir a responsabilidade pela construção das novas moradias. No entanto, até o momento não foram divulgados detalhes sobre como será essa oferta, quais serão as alternativas, se as moradias serão gratuitas, qual o prazo de entrega ou onde elas serão construídas.

Incertezas

Moradora do Jardim São Martinho, a ex-auxiliar de cozinha Suleiman Rosário de Hambúrgueres, 57, conquistou um terreno na região em 2022, após receber os valores retroativos de um auxílio-doença que ficou cinco anos sem ser pago.

Com o dinheiro, decidiu realizar o sonho de sair do aluguel e investir na casa própria. Atualmente, mora com um filho e divide o terreno com a filha, o genro e o neto, que construíram uma casa sobre a dela.

Protesto dos moradores do Jardim Pantanal @Arquivo Pessoal

Suleiman diz acreditar que o imóvel esteja incluído na fase 1 do plano da prefeitura, mas afirma que, até agora, não recebeu nenhum comunicado oficial nem qualquer tipo de suporte.

Ela conta que chegou a chorar em reunião da associação de moradores, quando desabafou com o psicólogo sobre a incerteza. “A minha renda é pouca para tudo”, explica, citando que parou de fazer melhorias na residência. “A minha cerâmica está toda ali debaixo da escada, que eu ia colocar mês passado, aí eu já não coloquei, né? A gente não sabe o que que vai acontecer”, desabafa.

Ela afirma que gostaria que as obras de infraestrutura para combater as enchentes fossem realizadas de fato, e que a prefeitura oferecesse suporte real para quem mora próximo ao rio e corre risco. Ao mesmo tempo, que isso garantisse direito à moradia segura.

‘Muita gente até desiste e volta para a comunidade porque não tem condições de arcar com IPTU, água, luz, condomínio. É complicado’

Até o momento, o prefeito não se pronunciou sobre onde ou como essas famílias serão abrigadas, deixando a comunidade em situação de vulnerabilidade e sem respostas sobre o futuro.

“Acho esse plano horrível. Isso não é remoção, é colocar as famílias numa situação ainda pior. Querem empurrar essas pessoas para o bolsa aluguel”, denuncia Vanessa, liderança do Jardim Pantanal, que também decidiu morar na região para escapar do aluguel e buscar por mais qualidade de vida.

Em 2023, região sofreu com alagamentos. Dois anos depois, situação se repetiu @Léu Britto/Agência Mural

Procurada, a Prefeitura de São Paulo respondeu que deram início em junho ao Plano Recupera Pantanal, que prevê a recuperação ambiental da região do Jardim Pantanal, com proposta que prevê o reassentamento de cerca de 4 mil famílias que vivem em áreas de risco às margens do rio Tietê, com conclusão prevista até 2029. 

Quatro audiências públicas foram realizadas com os moradores nos dias 27 e 31 de maio e 3 e 10 de junho para apresentar os estudos técnicos e as propostas de alternativas habitacionais.

Um plantão social será instalado no início de julho pela Sehab (Secretaria Municipal de Habitação) na comunidade para atendimento individualizado e contínuo.

Na primeira fase, 1.000 domicílios serão identificados e cadastrados para posterior remoção, em cinco áreas previstas: São Martinho, Terra Prometida, Vila da Paz, Novo Horizonte e Chácara Três Meninas.

Todas as famílias impactadas terão atendimento habitacional garantido, por meio de indenização ou realocação, conforme perfil familiar, modelo já adotado em regiões como Paraisópolis e São Mateus. Ele se dará conforme análise socioeconômica das famílias e será ofertado com base nas necessidades individuais.

PUBLICIDADE

receba o melhor da mural no seu e-mail

Karine Ferreira

Jornalista cultural, publicitária e corinthiana. Fiel à fotografia e à música, nunca falta samba, rap ou funk no meu dia-a-dia. Correspondente do Jardim Helena desde 2023.

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para [email protected]

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

PUBLICIDADE