População da zona sul compartilha as diferentes manifestações em devoção à santa
Daniel Santana/Agência Mural
Por: Daniel Santana
Notícia
Publicado em 10.10.2025 | 8:42 | Alterado em 10.10.2025 | 17:34
Em São Paulo, mesmo com a queda registrada no último Censo do IBGE, mais da metade da população (50,72%) ainda se declara católica e, entre tantos milhões de devotos, muitos encontram em Nossa Senhora Aparecida um porto seguro.
No dia 12 de outubro, isso é observado em regiões como o Jardim São Luís, na zona sul, que conta com procissões e devotos que vivem no bairro.
“Minha mãe sempre nos ensinou a devoção a Maria. Ela fazia questão de dizer ‘Nossa Senhora’, e não apenas ‘Maria’. Até hoje, quando escuto alguém falar ‘Maria’, lembro imediatamente dela”, conta Maria da Penha, 70, ministra da Eucaristia e assídua frequentadora de grupos de oração em diversas paróquias do Jardim São Luís.

Maria da Penha demonstra fé e esperança na intercessão da santa @Arquivo pessoal/Divulgação
Maria fortaleceu a fé ao longo do tempo, nas alegrias e também nas dores. Recentemente, foi diagnosticada com um câncer nos rins. “Quando vêm o medo, a tristeza ou a preocupação, me agarro a Nossa Senhora. Peço que esteja comigo como esteve com seu filho na cruz, ajudando-me a silenciar minhas dores.”
Para ela, a fé nas periferias é sustentada principalmente pelas mulheres, que rezam pelos filhos e pela família. “Quando meus filhos saem para trabalhar, eu sempre digo: ‘Nossa Senhora passa na frente e leva você até o trabalho’. Acredito que ela os acompanha em qualquer lugar. É a nossa proteção constante.”

Os devotos na catedral em Aparecida @Daniel Santana/Agência Mural
A trajetória do advogado Leandro Miranda, 38, é marcada pelos desafios. Ele conta que vivia uma “vida desregrada”, mergulhado em drogas e bebidas.
Após o nascimento da filha, Manu, decidiu buscar um novo caminho com a esposa, Jaqueline. Passou a frequentar missas e foi convidado para uma peregrinação até Aparecida, em 2017.
‘Foram 127 km, e eu nunca tinha feito nada parecido. Nos primeiros quilômetros, já bateu o cansaço, a fome. Mas a fé era maior’
Leandro, advogado
A peregrinação foi feita com Jaqueline e mais quatro pessoas. “A chegada foi indescritível. A gente chorava, ria, agradecia. O mais forte foi descobrir que tanto eu quanto a Jaque tínhamos feito o mesmo propósito: pedir um filho e ter uma família forte.”

Leandro e a esposa Jacqueline em uma das peregrinações até o Santuário Nacional de Aparecida @Arquivo pessoal/Divulgação
A família cresceu com a chegada de Bento e Joana. Leandro diz que todas as conquistas familiares e pessoais vieram por meio da intercessão da Santa. Nos anos seguintes, ele já fez algumas outras caminhadas até a Basílica como forma de gratidão.
Para o advogado, a fé floresce nas lutas do cotidiano, especialmente nas quebradas. “Aqui, a gente pode até não ter muito, mas tem fé. Isso é gigante. Acreditamos em algo maior, porque sabemos que sozinhos não dá. Eu mesmo sempre digo: cada conquista que tenho é mérito de Deus, não apenas meu.”

Os devotos na catedral em Aparecida @Daniel Santana/Agência Mural
Há 42 anos vivendo em São Paulo, Valdilene Lins da Silva, 62, mais conhecida como Lena, é cuidadora de idosos e frequentadora da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na zona sul. Ela participa de romarias e costuma visitar a Basílica de Aparecida até três vezes por ano.
“Cada visita é uma emoção distinta, conforme o que a gente está vivendo. Sempre entrego tudo a ela, e vem aquela confiança.”

Lena (bolsa preta) com as amigas Valda e Isabel na cidade de Aparecida @Daniel Santana/Agência Mural
Lena atribui à santa um milagre relacionado ao nascimento da filha, que teve complicações no parto. “Quando eu estava no hospital, vi a imagem de Nossa Senhora no quarto. Eu tinha medo de ter outro filho, mas acreditei no propósito quando vi a imagem dela naquele dia. Levei um susto, mas tive fé. A fé mexe muito com a gente.”
Ela expressa devoção rezando o terço diariamente, acendendo velas, indo às missas dominicais e pedindo proteção para os seus. “Ao sair de casa, me entrego a Deus, à Mãe, que é Nossa Senhora, e ao Filho, Jesus. Com fé, você acredita que as coisas vão dar certo.”
Entre os mais jovens, a devoção também permanece. Criado em uma família católica, Felipe Muniz, 21, estudante de Tecnologia da Informação, frequenta a Paróquia Santa Rosa de Lima, no Jardim Ibirapuera, ao lado da namorada, Maria Eduarda.
“Quando rezo para ela, sinto que minhas orações chegam de forma mais plena. É minha intercessora, está sempre ao meu lado”, afirma.

Felipe em momento de devoção, na cidade de Aparecida @Arquivo pessoal/Divulgação
Estudante de TI (Tecnologia da Informação), Felipe atribui todas as conquistas à fé em Deus, por meio da intercessão de Aparecida.
Ele conta que vê cada vez mais jovens se aproximando da igreja. “É bonito ver a galera buscando esse caminho. Quando enfrentamos alguma dificuldade, nos unimos em oração, pedindo a intercessão dela.”
‘São Paulo é uma correria. Às vezes acontecem situações em que você pensa: ‘Meu Deus, foi um livramento’. Sempre peço para Nossa Senhora passar na frente. É uma forma de me sentir protegido’
Felipe, especialista em TI

Felipe e Maria Eduarda fortalecem o relacionamento através da fé @Arquivo pessoal/Divulgação
O estudante também afirma que o povo da periferia é, acima de tudo, um povo de fé e vê a Padroeira do Brasil como um elo entre famílias, gerações e histórias. “Simplesmente amor. É amor de mãe, um amor que nunca nos abandona e não desampara seus filhos”, define Felipe.
Jornalista, apaixonado por livros, samba e carnaval. Corintiano, vivo o futebol de domingo a domingo. Adoro contar histórias através do jornalismo.
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