Daniel Santana/Agência Mural
Por: Daniel Santana
Notícia
Publicado em 22.08.2024 | 11:34 | Alterado em 22.08.2024 | 11:34
“Aprender brincando é um direito de todas as crianças. Ensinar aprendendo é um privilégio meu”, diz Ana Clara da Silva, 29, produtora cultural que atualmente é coordenadora e mediadora da Biblioteca Comunitária Luiza Erundina, que fica no Jardim Ibirapuera, zona sul de São Paulo, bairro onde também mora.
O projeto idealizado em 2021 pelo Bloco do Beco, importante movimento cultural da zona sul, atende em média 50 crianças e jovens por mês, com o objetivo de estimular a leitura e outras atividades que espalhem conhecimento na quebrada, como ler, escrever, contar e criar histórias.
Ana é quem organiza diariamente as atividades da biblioteca e dedica o tempo em prol da alfabetização. Ela recebe uma ajuda de custo do Bloco do Beco. A educadora destaca a importância que o local passou a ter no complemento do ensino para o público infanto-juvenil ao longo desses anos.
Para o processo de mediação de leitura e alfabetização, a biblioteca possui mais de 2 mil exemplares que vão da cultura afro-brasileira a vários livros da literatura infantil. Também há obras que debatem situações comuns no cotidiano dos jovens, como gordofobia, racismo, entre outros assuntos.
‘É necessário ter referências que tratam de questões raciais, tanto para as crianças pretas se entenderem, quanto para as crianças brancas compreenderem a diferença entre elas a partir do respeito’
Ana Clara, produtora cultural
Na construção para ser educadora, Ana cita todo o aprendizado que teve graças aos projetos culturais nas periferias, como o Clube da Turma, onde teve aulas de skate e maculelê, além de outras formações na Casa de Cultura do M’Boi Mirim e os saraus da Cooperifa.
“Eu sempre quis ser uma oficineira ou articuladora que fomenta essas atividades aqui na zona sul. Quando fui chamada para a coordenação, cheguei justamente por esse viés sociocultural da biblioteca, trabalhando com uma educação descentralizada, com bastante interação, de pensar a biblioteca no seu papel mais amplo.”
A produtora cultural ressalta o quão importante é o estímulo aos livros nessa faixa etária. Segundo a quinta edição do estudo “Retratos da Leitura”, do Instituto Pró-Livro, entre os leitores da cidade de São Paulo, 24% são crianças ou adolescentes entre 5 a 17 anos. A pesquisa perguntou sobre quem têm o hábito de ler, com base na leitura de algum livro num período de três meses.
Porém, a falta de apoio ainda é um dos obstáculos. “O que está faltando hoje é verba, é incentivo. Espero que em breve chegue isso. Destaco que o voluntariado é muito importante, são pessoas que acreditam, que podem doar. Não podem doar dinheiro, mas doam um pouco do seu tempo. Quero agradecer imensamente a todos os voluntários que ajudam na biblioteca”, comenta Ana Clara.
Para manter o projeto ativo, a ajuda pode vir de diversas formas: seja com doações de livros, materiais ou até financeira.
Com o auxílio de mais parceiros e fomentadores, a produtora cultural espera que o projeto chegue no ouvido das pessoas que tenham o poder de ação para incentivar cada vez mais o crescimento, “tanto de território, quanto de estrutura”.
Além dos projetos ligados à leitura, a música é presente no espaço. Nas quintas, acontecem as aulas de maracatu com a educadora Beatriz Leandra, 23.
A estudante de pedagogia, ou melhor, a “Tia Bia”, dedica-seao projeto que alia duas paixões: o de educar e o maracatu. A jovem também toca no Baque Atitude e no Bloco do Beco.
O rito que já faz parte do cotidiano dela desde pequena e também de sua família, se estendeu às crianças.
‘A ideia é ensiná-los desde o começo, explicando o quão importante é o ritmo e os instrumentos na nossa cultura, como eles foram formados e como são feitos’
Beatriz Leandra, educadora
Por meio do maracatu, segundo ela, é possível criar pontes que abram novos caminhos e oportunidades aos alunos.
“Faço tudo isso aqui por amor. Hoje se não tem dinheiro pra pagar, faço do mesmo jeito. Entendo que o maracatu foi muito importante pra mim e que eu quero que seja pra eles também, tudo que eu puder fazer pra passar essa importância que tenho comigo desde pequena, eu vou fazer.”
Juliana Alves, 13, participa de várias atividade do espaço cultural @Daniel Santana/Agência Mural
Beatriz Leandra com as crianças na aula de maracatu @Daniel Santana/Agência Mural
Quadro com desenhos dos alunos que frequentam o espaço @Daniel Santana/Agência Mural
Juliana Alves, 13, participa das atividades e fica contente por estar evoluindo cada vez mais, graças a ajuda das “tias”.
“Aqui eu não aprendo só a ler e escrever, mas também a respeitar as pessoas, os meus amigos, não desobedecer, essas coisas. Eu me sinto muito bem quando estou aqui, sempre converso com a tia Ana, quando estou feliz ou triste. É importante isso”, comenta Juliana, que sonha em ser veterinária.
Uma frase de um post do Instagram da biblioteca afirma que “não existe nós sem nós”. Logo, toda a metodologia de ensino praticada pelas educadoras, sempre coloca o acolhimento e o carinho como prioridade.
“Aqui a gente faz de tudo para as crianças se afetarem. Deixarem ser afetadas e afetarem pra elas poderem saber que elas são importantes. Eu falo isso pra elas: ‘a tia Ana não é ninguém sem vocês’. Aqui é o lugar delas entenderem a importância delas no mundo”, destaca Ana.
A Biblioteca Luiza Eurundina faz parte do projeto LiteraSampa, que conta com uma rede de 18 bibliotecas comunitárias nas cidades de São Paulo, Guarulhos, Mauá e Santo André, sendo 13 na capital paulista: oito na zona sul, duas na zona leste, duas no centro e uma na zona oeste.
Endereço: Acédio José Fontanete, 86 – Viela Química – Jardim Ibirapuera
Horário de funcionamento: Segunda à Sexta-feira das 9h às 16h
Aulas de Alfabetização: Seg à sex, das 9h às 11h;
Mediação de Leitura : Seg à sex, das 10h às 11:30 e das 14:30 às 16h;
Oficina – Musicalização Infantil: Terças, das 13h às 14h;
Oficina – Maracatu : Quintas, das 14h às 16h.
Jornalista, apaixonado por livros, samba e carnaval. Corintiano, vivo o futebol de domingo a domingo. Adoro contar histórias através do jornalismo.
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