Por: Halitane Rocha
Publicado em 22.01.2019 | 17:04 | Alterado em 27.02.2024 | 17:03
Tarifa subiu de R$4,35 para R$4,50. Em julho, justiça determinou anulação do reajuste anterior, mas prefeitura recorreu e conseguiu manter a cobrança
Tempo de leitura: 3 min(s)Em 2015, a cidade de Cotia, na Grande São Paulo, cobrava R$ 3,20 para quem usava o transporte público, valor R$ 0,30 menor do que o cobrado na capital. A partir daí, o município de 220 mil habitantes tem tido mudanças em como lida com a tarifa municipal.
Desde a última quarta-feira (16), Cotia cobra R$ 4,50 por passagem. Além disso, desde 2017, os moradores pagam mais do que os paulistanos para pegar um ônibus municipal – em São Paulo o último reajuste elevou o preço para R$ 4,30.
A alta de R$ 1,30 em quatro anos chegou a ser questionada na Justiça e moradores criticam o serviço prestado. O último decreto de reajuste foi publicado dia 9, mas quem usa os ônibus da cidade afirma que soube apenas um dia antes do começo da nova tarifa.
Ainda a nível de comparação, a alta em quatro anos foi de 40%, ante 22% na capital. Um dos motivos é o fato de que São Paulo congelou a tarifa entre 2016 e 2017, além de pagar uma quantia extra para as empresas de ônibus.
“Ultimamente não tenho como pagar a passagem”, afirma o estudante Júlio César Gomes, 20. Ele diz que tem utilizado mais a bicicleta e o skate para conseguir se locomover na cidade. “Mas mesmo assim não supre a falta que o transporte público faz, devido a distância que preciso me locomover. E muitas das vezes não consigo ir na biblioteca, procurar emprego, ir à escola por causa deste motivo.”
REGIÃO
Até 2017, a tarifa de Cotia era menor também do que cidades vizinhas como as de Osasco, Carapicuíba e Barueri. Em 2016, por exemplo, os cotianos pagavam R$ 3,60 para andar na cidade, ante R$ 3,80 em outros municípios da região oeste da Grande São Paulo.
No entanto, em dois anos, houve aumento de R$ 0,75, ante R$ 0,55 das demais cidades, num movimento que fez as tarifas se igualarem.
Antes dos R$ 4,50, a cidade havia alterado o preço de R$ 4 para R$ 4,35, em março de 2018. O advogado Michel da Silva entrou com uma ação na justiça em que pediu a redução do preço para R$3,95, alegando que a foi acima da inflação do período. O Tribunal de Justiça chegou a acatar a solicitação, mas a prefeitura recorreu e a passagem voltou a custar R$4,35.
“Eles não pensam no impacto social que tem o aumento da tarifa. Se uma pessoa ganha R$ 1.000 por mês e, no final do mês, acaba tendo que separar R$ 200,00 para pagar passagem diariamente para trabalhar ou estudar, isso atrapalha em outros investimentos dentro de casa”, diz Michel, que pretende entrar com uma nova ação.
A empresa Viação Raposo Tavares, responsável pelas linhas de ônibus da cidade, justifica que houve déficit de passageiros. “A Prefeitura garantiu a circulação de 14 milhões de passageiros, porém, eles dizem que só circularam pouco mais de 11 milhões. Mas quem fez essa fiscalização?”, completa.
Movimentos sociais do município organizaram um protesto na segunda-feira (21) no centro da cidade. Eles também fizeram um abaixo assinado pedindo a revogação.
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A estudante Amanda Cena, 18, mora em Caucaia do Alto, e aponta que há dificuldade de conseguir estudar fora do bairro. “No primeiro semestre do ano passado eu comecei a fazer cursinho [no centro de] Cotia. Todo fim de semana eu gastava R$ 40 de passagem pra poder ir pro cursinho. O preço da passagem acaba me isolando e limitando de fazer qualquer curso, ou qualquer atividade cultural.”
Caucaia tem quatro linhas municipais que circulam dentro do distrito, mas para ir ao centro de Cotia apenas pelo intermunicipal. No dia 20, as tarifas intermunicipais também sofreram reajuste de R$5,00 para R$5,35. A situação dificulta a busca por emprego, por conta do preço do transporte de quem vive no distrito.
Os moradores também questionam a Viação Raposo Tavares em relação a manutenção, a quantidade de passageiros, e a qualidade dos veículos. Não há integração. Os estudantes têm um cartão que garante duas passagens em dias de semana, mas que não atende todos os bairros da cidade.
Procurada, a Prefeitura de Cotia não retornou até a publicação deste texto.
Halitane Rocha é correspondente de Cotia
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Produtora do podcast Próxima Parada e correspondente de Cotia desde 2018. Mãe de gêmeas e 2 gatas. Família preta e do axé… muita treta!
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