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Em Cotia, pacientes com Covid-19 esperam até uma semana por vaga na UTI

Cidade com mais de 250 mil habitantes conta 76 leitos disponíveis durante a pandemia

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Arquivo Pessoal

Por: Halitane Rocha

Notícia

Publicado em 08.04.2021 | 11:19 | Alterado em 08.04.2021 | 16:48

Tempo de leitura: 4 min(s)

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UPA do Atalaia, bairro da periferia de Cotia @Halitane Rocha/Agência Mural

Após oito dias de espera por uma vaga em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva),  José Moreira de Souza, 73, morreu no dia 30 de março, um dia depois de conseguir um leito no Hospital São Camilo, em Cotia, na Grande São Paulo

Seu Souzão, como é conhecido no bairro Jardim Empírio onde era uma das principais lideranças comunitárias, foi internado na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Atalaia no dia 20, faltando três dias para tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19.

“Foi terrível”, diz a filha Roberta Gislaine de Souza. Ela teve de ir vários dias até o local para obter informação. Afirma que a equipe médica mal entrava em contato por telefone. 

A filha só soube do agravamento de saúde dele porque uma amiga que trabalha na UPA informou à ela que o pai não resistiria se não fosse transferido com urgência. 

Antes, quando a família procurou pelo médico para saber como conseguir um leito, ele disse que precisava esperar alguém morrer para conseguir uma vaga. “Você acha que vão tirar um paciente do leito para poder colocar o seu pai?”, ouviu  Roberta. 

Sem vagas em Cotia, na segunda-feira (29 de março), Roberta implorava pelo prontuário na secretaria de saúde para tentar atendimento em outra cidade, mas a princípio lhe foi negado. 

Ela insistiu, e uma funcionária informou que a cidade estava em feriado e levaria cinco dias para conseguir o processo. Cotia antecipou quatro feriados municipais para emendar com o aniversário da cidade, na sexta-feira (2 de abril). A medida foi tomada por outros municípios como tentativa de desacelerar o contágio pelo coronavírus. 

Depois de mais um tempo pedindo ajuda, ele conseguiu uma vaga no hospital São Camilo, no bairro da Granja Viana. Porém, não resistiu por muito tempo. 

“Meu pai entrou andando falando, brincando e saiu de lá [UPA Atalaia] praticamente morto”, lamenta.

A filha também acredita que se não fosse a demora para intubá-lo na UTI, o pai teria sobrevivido: “Meu pai só morreu por negligência”.

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Liderança comunitária em Cotia, Seu Souzão morreu por causa da Covid-19 @Arquivo Pessoal

Seu Souzão foi um dos primeiros moradores do Empírio, onde morou desde 1983,  fez parte da associação de bairro durante décadas e ajudou muitas pessoas. Os jovens o chamavam de “relíquia da quebrada”.

Ele entrou para a triste estatística que já marca até 4 mil mortes por dia por conta da doença. 

Até o dia 31 de março, foram contabilizadas 403 mortes em Cotia – na Grande São Paulo, o número passa de 40 mil

Cotia tinha 28 pacientes na fila de espera por um leito. Procurada, a gestão do prefeito Rogério Franco (PSD) afirmou que ainda não há um plano para aumento de leitos na cidade.  

Atualmente são disponibilizados 22 leitos na UPA Atalaia, 28 leitos no hospital privado São Camilo pelo convênio, e 26 vagas no Hospital Regional de Cotia, que atende pacientes de outras cidades.  

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Na corrida contra o tempo, Joyce Aparecida, 36, conseguiu uma vaga na UTI do Hospital São Camilo, na Granja Viana, para o pai João Francisco, 62, após quatro dias internado na UPA Atalaia, depois de fazer uma postagem no Facebook. Mesmo assim, o pai não resistiu e faleceu na sexta-feira (2). 

No dia 22 de março, João foi à UPA porque já estava com os sintomas, mas não realizaram o teste da Covid-19 e o médico receitou um antibiótico. “Estão misturando todas as pessoas”, disse a filha. 

“Meu irmão o socorreu, meu pai estava muito fraco e caiu na porta da UPA. Uma moça colocou ele na cadeira de rodas, passou pela triagem e não vimos mais ele”, relata. 

A auxiliar de limpeza reclama da falta de informação do local, pois eles não atualizaram os familiares sobre o quadro de saúde de João diariamente: “A gente precisava ir pra lá”.

Gestante de oito meses, Joyce teme também estar contaminada. “Tem uma semana que eu tô correndo atrás pra fazer o teste, mas eles não querem fazer em mim porque estou sem sintomas”, diz. 

“Não tenho condições de pagar por um teste. Aumentaram meu aluguel, tem água, tem luz”, desabafa. 

VACINAÇÃO

Com a repercussão negativa dos idosos de 75 anos ou mais esperarem por até 5 horas para conseguirem tomar a vacina, com filas imensas no sistema pedestres e drive-thru, a prefeitura decidiu aderir ao agendamento por telefone e site.

Diferente de outras cidades da Grande São Paulo e da capital, que deixaram as vacinas nas UBS (Unidades Básicas de Saúde), a vacinação foi realizada com um polo em frente à prefeitura, em Caucaia do Alto e Granja Viana.

Mas muita gente reclamou que não consegue fazer o agendamento em ambos canais. 

Segundo a prefeitura: “As equipes da área de informática estão mobilizadas para resolver instabilidades que são registradas em momento de grande volume de acesso”.

Quando abriu o agendamento de vacinação para idosos de 68 anos ou mais, na segunda-feira (29 de março),  Wallacy Santana, 20, agendou para o pai no dia 9 de abril. “Consegui tranquilamente”.

Até o dia 30 de março, Cotia havia vacinado 16.876 pessoas. Com o sistema de agendamento, iniciado no dia 26 de março,  foram mais de 3.000 pessoas.

No início de março, a Câmara Municipal aprovou projeto para compra de vacinas contra a Covid-19 não fornecidas pelo Programa Nacional de Imunização, do Governo Federal e aprovadas pela Anvisa.

Para realizar o agendamento é necessário acessar o site da prefeitura ou ligar nos telefones:  4614-1105, 4616-0378, 4616-5203 e 4614-5176, de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h.

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Halitane Rocha

Produtora do podcast Próxima Parada e correspondente de Cotia desde 2018. Mãe de gêmeas e 2 gatas. Família preta e do axé… muita treta!

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