Projeto de educação musical não tem contrato renovado desde dezembro de 2020. Professores, monitores e pais fazem abaixo-assinado
Allan Caetano de Paula/Arquivo Pessoal
Por: Jessica Silva
Notícia
Publicado em 05.03.2021 | 17:03 | Alterado em 27.02.2024 | 17:01
Iniciativa que oferece aulas de música para crianças da rede municipal de ensino de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, o “Pequenos Músicos, Primeiros Acordes nas Escolas” vive um impasse no município.
O projeto, que atende cerca de 11 mil estudantes, não teve o contrato renovado este ano para poder continuar.
O anúncio de que as atividades poderiam ser encerradas foi feito no dia 16 de fevereiro. Um dia depois, o prefeito Caio Cunha (Podemos) declarou, por meio de um vídeo no Facebook, que o projeto não foi cancelado, mas que precisa de adequações.
O programa existe desde 2011 e a Associação Orquestra Sinfônica de Mogi começou a organizá-lo em 2017. São oferecidas aulas de música por meio de um contrato entre a entidade e a prefeitura. Com o início da pandemia, as atividades passaram a ser virtuais.
Ao todo, a Sinfônica de Mogi possui 70 profissionais que desenvolvem desde as aulas teóricas até as práticas musicais, individuais e coletivas.
As aulas são todas gratuitas e realizadas no contraturno das atividades regulares. A intenção é desenvolver novas habilidades nos estudantes.
Além de musicalização, os alunos têm acesso a diferentes tipos de instrumentos, como a flauta transversal, clarinete, saxofone, trompa, trompete, trombone e percussão.
ABAIXO-ASSINADO
Diante da notícia, professores, monitores e pais de alunos da rede se movimentaram nas redes sociais e fizeram um abaixo-assinado. Foram mais de 5.000 assinaturas pedindo a continuidade do projeto.
Para a dona de casa Karina Aparecida, 33, moradora da Vila Cléo, o trabalho de musicalização realizado na cidade é importante por ser feito no contraturno da escola (no período da manhã para quem estuda à tarde e no período da tarde para quem estuda de manhã).
“Possibilita que as crianças não só aprendam a tocar um instrumento, como também ensina a conviver”, conta a mãe da Eduarda, 11, que participa do projeto há 5 anos.
Além do ensino de música, a iniciativa proporciona uma futura fonte de renda no seguimento musical. “Esse projeto pode mudar a vida das crianças que, a partir dele, podem seguir uma profissão. Conheço alguns [alunos] do projeto que já tocam em bandas de forma remunerada”, diz.
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A dona de casa Roberta Jacques Vieira Cordeiro Siqueira, 37, mora no bairro Jardim Santos Dumont e diz acreditar que a cultura é um importante meio de obtenção de conhecimento e mantém estreita relação com a educação.
A mogiana teve contato com o projeto também durante cinco anos. “É um dos trabalhos mais bonitos que Mogi das Cruzes conquistou, é emocionante ver como as crianças se dedicam de corpo e alma para fazer tudo perfeito.”
Segundo a Coordenadoria de Comunicação da Prefeitura de Mogi, para que o projeto continue, está sendo avaliado o melhor formato, uma vez que as aulas presenciais nas escolas públicas não retornaram 100%.
Em resposta à Agência Mural acerca das novas adequações solicitadas, a prefeitura afirma que a entidade prestadora de serviços ainda não apresentou um novo programa de trabalho para a situação atual.
“A prefeitura aguarda o quanto antes todas estas definições de como o serviço será prestado neste ano. Somente depois desta etapa será possível estudar a ampliação do serviço”, pontua o órgão.
A prefeitura acrescenta que o contrato com a Associação Orquestra Sinfônica de Mogi teve seu término em dezembro de 2020, na antiga gestão Marcus Melo (PSDB).
Ao assumir o comando do município, Caio Cunha solicitou um estudo para um novo formato e, com isso, uma readequação na prestação desse serviço.
Por outro lado, o maestro Lelis Gerson Felicio dos Reis, diretor artístico do projeto, argumenta que “houve alguns desencontros de informações” e que a Sinfônica já fez alguns dos ajustes solicitados pela prefeitura.
“A readequação foi colocar todas as atividades bem discriminadas, por conta da situação de crise”, diz Reis.
PANDEMIA AFETOU DINÂMICA DAS AULAS
Por conta do cenário pandêmico, as aulas de música sofreram adaptações e os músicos se reinventaram para dar seguimento aos trabalhos desenvolvidos.
“Hoje temos um planejamento todo adequado para esta situação pandêmica, sendo assim, acredito que teremos muito sucesso em nossas ações”, ressalta o maestro.
De acordo com Daniel Bordignon, também maestro e supervisor dos projetos de música da Secretaria de Educação da Prefeitura de Mogi das Cruzes, “a equipe pedagógica da Sinfônica de Mogi desenvolveu planos diferenciados de aulas remotas, com videoaulas para todos os segmentos, além de palestras e cursos para os alunos e para os professores”.
Apesar da suspensão dos ensaios presenciais, o trabalho teórico não parou e os profissionais que compõem a Sinfônica mantiveram a qualidade do ensino musical.
HERANÇA MUSICAL DE MOGI
Allan Caetano de Paula, 36, é coordenador e regente das bandas das escolas Professora Noemia Real Fidalgo e Benedito Ferreira Lopes, e atua no projeto desde o seu início. Para o músico, o trabalho é fruto de toda herança musical de Mogi, que na década de 1960 era famosa pelas tradicionais apresentações de bandas e fanfarras.
“O movimento musical da cidade sempre foi muito tradicional e atuante. No projeto, alunos e familiares têm oportunidade de ampliar seu repertório musical, aprendendo a apreciar a música de várias formas: tocando, dançando, criando, apreciando”, conta.
Para o regente, a pandemia da Covid-19 e a suspensão das aulas presenciais gerou grande prejuízo com a sociabilidade para os alunos. “Prejudicou muito nossos alunos, pois utilizamos um método coletivo que favorece muito o aprendizado em conjunto com a sociabilidade.”
Em relação às perspectivas para o futuro, ele está otimista com a chegada das vacinas e torce para que os alunos retornem de forma segura para escola.
“O ensino musical é extremamente importante para uma aprendizagem plena e integral do aluno. É um patrimônio da nossa cidade e trabalho para que chegue ao maior número de escolas possíveis”, conclui.
Jornalista formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Pedagogia e Mestra em Educação pela PUC-SP. Ama fotografias, séries, filmes e não vive sem Netflix. Correspondente de Mogi das Cruzes desde 2013.
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