Em São Miguel Paulista, grupo de mulheres organiza feirinha com preço máximo de R$ 15
Renda obtida ajuda vendedoras a driblar o desemprego; grupo no Facebook reúne mais de 60 mil membros
Eduardo Silva/Agência Mural
Por: Eduardo Silva | Danielle Lobato
Publieditorial
Publicado em 15.10.2019 | 17:11 | Alterado em 23.10.2019 | 16:24
Tempo de leitura: 4 min(s)
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Todos os sábados, das 8h às 15h, um grupo de artesãs e microempreendedoras realiza uma feira na praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, em São Miguel Paulista, no extremo leste da capital. Batizado de “Manas do 15”, o grupo, formado só por mulheres, vende itens como roupas, calçados, lingeries, maquiagens e até encomendas de bolos e salgados, com o valor de até R$ 15.
A ideia começou em outubro de 2018, a partir de um grupo no Facebook — que hoje conta com mais de 60 mil membros e possui uma média de 10 mil publicações de vendas por mês.
“Eu tinha outro grupo onde era tudo até R$ 20, mas ele não rendia. Aí fiz um novo, mudando o valor para R$ 15. Ele foi crescendo e sendo cada vez mais divulgado”, comenta Daniela Santos, 27, organizadora da feira semanal. “Todas as mulheres podem participar e vender seus produtos, desde que cumpram as regras da descrição”, ressalta.
Moradora do Jardim Helena, também na zona leste, Daniela estava desempregada na época e viu na venda de produtos com valor acessível uma forma de manter uma renda.
Dois meses após a criação do grupo, cerca de 30 mulheres se reuniram para vender pessoalmente os itens. O local escolhido foi uma área da movimentada Praça do Forró (como é popularmente conhecida), localizada em frente à estação São Miguel Paulista, da CPTM, e ao lado da Capela de São Miguel Arcanjo.
“Nós colocamos as coisas nos bancos, mantendo o preço máximo de R$ 15. Mesmo com chuva, conseguimos vender tudo naquele dia”, conta Thamires Ghidini, 27, moradora da Vila Matilde, na zona leste. Ela também é organizadora do Manas do 15, ao lado de Daniela.
Em janeiro de 2019, o segundo encontro teve o dobro de expositoras. “De lá para cá, o número foi só aumentando. Hoje em dia, temos 138 mulheres atuando aqui. 90% delas são MEI (microempreendedor individual) e abriram mão do Bolsa Família e de outros programas sociais para viver com a renda que elas tiram da feirinha”, comenta Thamires.
Atualmente, o local comporta 80 barracas, onde as vendedoras se revezam a cada fim de semana para atuar na feirinha. Para expor é preciso obedecer a alguns critérios: além do preço máximo de R$ 15, cigarros e bebidas alcoólicas estão proibidos, as roupas não podem ser réplicas e os produtos eletrônicos precisam ter a nota fiscal.
DESEMPREGO
As microempreendedoras contam que o trabalho realizado aos sábados é uma alternativa para o desemprego das mulheres na região. Também é uma opção para mulheres que já foram presas e não conseguem oportunidades de trabalho por conta disso.
“Temos uma ‘lista de espera’ com mais de 200 mulheres, desempregadas e interessadas em trabalhar aqui”, diz Daniela.
Em 2018, a taxa de desemprego de mulheres na capital paulista foi de 18,7%, ante 17,3% dos homens. Segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em 2017, o índice foi maior entre as moradoras da região Leste 2 — 22,7% delas desempregadas.
Vanessa Franzon, 37, moradora de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, faz manicure na feirinha e vende peças de roupas (infantil e adulto). Desempregada há quatro anos, ela relata dificuldade para conseguir emprego formal devido à sua passagem como presidiária.
“Pelo CPF consta meus antecedentes criminais. Fiquei três anos e dois meses presa”, conta. Atualmente, ela é a única manicure da feirinha e explica que sua clientela aumentou muito desde então. “Hoje eu ganho, em média, de R$ 300 a R$ 400 com as unhas feitas na praça”, diz.
Sem emprego fixo há dez anos, Antônia Raimundo Barbosa, 54, moradora do Jardim Robru, no distrito da Vila Curuçá, estava sem perspectiva de trabalho. A falta de renda atingiu a sua autoestima e ela encontrou na feira das Manas do 15 uma forma de combater a depressão.
“Eu estava bem triste, pois me sentia incapaz e não tínhamos dinheiro para pagar todas as contas em casa”, conta Antônia. “Não tinha nenhuma experiência com vendas, mas fui aprendendo tudo com as ‘Manas’.”
Desde o mês de janeiro, Antônia procura trazer novidades da moda para sua banca. Ela vende roupas femininas, masculinas e infantis. Em média, o valor arrecadado em um sábado varia de R$ 350 a R$ 500.
Para Juliana Ferreira da Silva, 21, a diferença de 33 anos de idade para a colega da barraca ao lado é uma amostra da pluralidade das mulheres que participam da feira.
“A minha renda salarial vem toda da feirinha. Aqui em casa as contas de luz, água e mercado são pagas com as vendas que eu realizo”, diz a moradora do Jardim Mabel, no distrito do Itaim Paulista, que começou em abril, após saber das Manas do 15 por meio de sua sogra.
PERMISSÃO
Em março deste ano, a fiscalização da Prefeitura foi até a praça Aleixo Mafra e as mulheres precisaram legalizar a feirinha. A permanência delas no local ainda está em processo de regularização.
“Precisávamos de suporte e segurança para continuar com o trabalho. Fomos até a subprefeitura e a primeira resposta que nos deram foi que na praça ‘a gente nunca ia conseguir autorização’ porque lá é um patrimônio histórico”, comenta Thamires.
Após uma campanha nas redes sociais pedindo a regulamentação das atividades, elas afirmam ter conseguido um TPU (Termo de Permissão de Uso) do solo para legalização das atividades, com a orientação de um advogado. O documento deve ser renovado na subprefeitura local a cada 30 dias.
No entanto, de acordo com a subprefeitura de São Miguel Paulista, “o termo foi uma autorização provisória (extraordinária) e as requerentes deveriam providenciar o estatuto [da Associação das Manas do 15] e demais documentos para dar entrada a um pedido de Autorização Formalizado”.
A regional afirma, ainda, que a “autorização de permanência delas aos sábados não é definitiva, tampouco uma TPU”. Segundo Thamires Ghidini, o estatuto ainda precisa passar por algumas alterações, mas deve ser entregue à subprefeitura nos próximos dias.
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