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SP: 47% dizem que eleição de mulheres, negras e trans melhora qualidade política

De acordo com pesquisa, outros 37% dos eleitores acreditam que a chegada de vereadoras não afeta a política; representatividade na Câmara ainda é um desafio

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Por: Redação

Publicado em 28.01.2021 | 21:28 | Alterado em 28.01.2021 | 21:28

Tempo de leitura: 6 min(s)

Na última semana, a Rede Nossa São Paulo, em parceria com Ibope, lançou a edição de 2021 da pesquisa “Viver em São Paulo: Qualidade de Vida”. O estudo mostra que 47% dos paulistanos consideram que a chegada de mais mulheres, negras e transexuais na Câmara de Vereadores nas últimas eleições melhora a qualidade da política.

A pesquisa ouviu 800 pessoas com mais de 16 anos, de todas as regiões da capital. Entre a maioria dos que acreditam que essa maior representatividade feminina negra e transexual melhora muito a política da cidade, estão os eleitores mais jovens (de 16 a 24 anos) e com renda familiar entre dois e cinco salários mínimos.

Já entre os 37% que acreditam que essa representatividade não afeta a política, estão principalmente eleitores de 35 a 44 anos, pertencentes à classe D. Aqueles que consideram que essa chegada piora muito a qualidade política somam 12% dos entrevistados.

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O educador físico e morador da Vila Aurora, na zona norte da capital, Eduardo de Alcântara Pereira, 23, é um dos moradores que acredita que essa maior representatividade é positiva, já que ajudará na luta pela igualdade de direitos.

“Acredito que ainda falta muito para que mulheres, negras e trans sejam representadas como realmente devem ser, mas já me sinto representado pelo fato de acompanhar o crescimento dos eleitores [nessas pessoas]”, diz.

Nas eleições municipais do ano passado, na capital paulista, em uma câmara composta por 55 cadeiras, houve um singelo aumento de mulheres eleitas, de nove para 13. O que significa cerca de 24% de representatividade feminina.

Das cadeiras conquistadas por mulheres, quatro agora são ocupadas por negras. Dentre elas, a vereadora mais votada nas últimas eleições foi Erika Hilton, do PSOL, transexual e negra, eleita com mais de 50 mil votos.

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Eduardo de Alcântara e Mariana Ramos veem com bons olhos a representatividade na Câmara (Arquivo pessoal)

Para a professora de português Mariana Ramos Galizi, 43, moradora da Vila Borges, na zona oeste, o resultado foi visto com bons olhos.

“Acho que a candidatura de vereadores trans pode aumentar o olhar para essa parcela da população que é tão excluída de políticas públicas e espaços de fala. A voz das pessoas ainda é tímida e precisa ganhar ambientes tradicionais e arcaicos, onde os discursos transfóbicos e homofóbicos não cabem mais”
Mariana Ramos Galizi, professora de português

Para ela, ter mais pessoas trans ocupando a política institucional é motivo de esperança. “Essas eleições revelaram que a população buscou vereadores com quem se identificassem. Foi bonito ver o aumento de negros e mulheres cis e trans na Câmara”, comenta.

“Isso reflete a urgência em olhar para essa população. O mercado de trabalho é extremamente fechado às pessoas trans, por exemplo”.

De acordo com a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), houve um aumento de 226% de candidatura de travestis, mulheres transexuais e homens transexuais pelo Brasil em relação a 2016, somando 249 candidaturas. Dessas, 30 foram eleitas, o que representou um aumento de 274% de pessoas trans eleitas em relação a 2016.

O ano de 2020 também foi o primeiro ano no qual candidatos aos cargos de prefeito e vereador puderam ser identificados pelo nome social.

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Symmy Larrat é presidenta da ABGLT (Arquivo pessoal)

Para Symmy Larrat, presidenta da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos), é positivo que quase metade da população paulistana veja com bons olhos esses avanços, que é resultado da articulação dos movimentos sociais ao longo do tempo.

“Que bom que a população vê assim, porque a gente precisa de uma câmara mais plural para que a decisão não fique acumulada na maioria das pessoas que não representam a população, que representa o empresariado, que representam o latifundiário, que representam diversas áreas que detêm o poder”, avalia.

“Acho que todo mundo tem a ganhar em termos um espaço legislativo mais plural, que pense uma nova forma de fazer política que não seja essa forma tradicional, normativa, pois a gente levanta questionamentos e colocações que são pertinentes para a reinvenção daquele espaço”.

REPRESENTATIVIDADE PARA CRIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 

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Fabiana Marçula votou em um coletivo formado por mulheres negras e trans (Arquivo pessoal)

Moradora da Vila Ema, na zona leste, Fabiana Marçula, 45, acredita que quanto mais mulheres na política, melhor. “Votei em um coletivo com negras e trans. Acho que essas candidatas podem ajudar buscando melhorias para as mulheres, já que os homens não têm esse pensamento de fazer coisas pensando em nós”, desabafa.

Na visão da supervisora de atendimento, essas candidatas podem ajudar a melhorar as leis para as minorias representadas na cidade.

“Acredito mais mulheres na Câmara possam trazer mais segurança para as ruas, como uma punição mais severa em casos de assédio e estupro, por exemplo. Confesso que me interessei mais por ter essa representatividade nas últimas eleições”, conta.

De acordo com a socióloga Pagu Rodrigues, 35, a presença de mais mulheres negras, indígenas e transexuais nos espaços institucionais de poder é necessária justamente para a geração de políticas públicas que modifiquem a vida cotidiana desses grupos, o que consequentemente melhora a qualidade política da cidade.

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Pagu Rodrigues concorreu como vereadora nas eleições de 2020 (Arquivo pessoal)

“Somos a base da pirâmide social, somos maioria da população e não estamos representadas nesses espaços. Quando a gente pensa em representatividade, não podemos ignorar que as maiorias sociais hoje compõem as minorias políticas”, diz.

“Portanto, aquilo que essas maiorias sociais precisam em termo de políticas públicas e de mudanças estruturais não estão efetivadas, porque a gente não ocupa concretamente os espaços da política institucional”
Pagu Rodrigues, socióloga

Para Elisabet Rikli, 56, moradora de Pinheiros, na zona oeste, falta pensar mais políticas públicas que levem em consideração as periferias. “Não tem como serem eles lá e nós aqui. Gostaria que as políticas públicas da cidade de São Paulo criassem oportunidades de trabalho, educação e principalmente lazer de uma maneira mais horizontal”, defende a corretora de imóveis.

“Esse deslocamento de horas para as pessoas poderem trabalhar é muito cruel. Outra coisa que precisa urgentemente é lazer e esportes para os jovens das periferias”, complementa.

DESAFIOS PARA UMA POLÍTICA MAIS DIVERSA

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Plenário da Câmara Municipal (Lucas Landin/32xSP)

De acordo com dados do STF (Supremo Tribunal Federal), as eleições de 2020 tiveram a maior proporção e o maior número de candidatos negros já registrados pela Corte Eleitoral: 50,04% dos candidatos que concorreram se declararam pardos e pretos, contra 46,56% das eleições de 2018.

Entretanto, o número de eleitos ainda é baixo. Entre os vereadores, foram 25.960 candidatos, o que representa apenas 10% do número de candidaturas registradas.

No Brasil, o número de mulheres eleitas também indica uma sub-representatividade: foram 9.196 vereadoras, que representam 16% dos eleitos no país.

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Para Pagu Rodrigues, que concorreu como vereadora nas eleições de 2020 pelo PT (Partido dos Trabalhadores), os desafios para mulheres não brancas na política são diversos: “É justamente romper com essas estruturas arraigadas na nossa sociedade, a do patriarcado, a estrutura racial, a de classe e enfrentar essas dinâmicas na política institucional”.

A socióloga explica que é necessário que se avalie todo o sistema político, desde as candidaturas, para que haja um real incentivo dos partidos para que mulheres disputem com a mesma visibilidade em relação aos homens. Além disso, a questão do financiamento das campanhas também deve ser levado em consideração.

“Essa nova legislação, embora não permita o financiamento por empresários ou por CNPJ, cria a possibilidade de financiamento coletivo, de pessoas físicas e continua na verdade fazendo a manutenção de privilégios financeiros dessas candidaturas”.

“É uma legislação que reduz o tempo de campanha oficial, o que torna muito mais difícil a apresentação de novas candidatas”, avalia Pagu.

Atualmente, a legislação eleitoral defende uma cota de 30% de mulheres candidatas por partido. A especialista, contudo, defende que isso não seja o suficiente, propondo a necessidade da criação de uma “cota de chegada”, que garantiria proporcionalidade mínima de 50% de mulheres eleitas.

“Existe uma proposta no congresso nacional que está paralisada e que não tem uma maioria de composição de votação ali na base dos parlamentares para ser aprovada e obviamente que é meio um dilema porque, enquanto a gente não tiver mais mulheres eleitas no congresso nacional, mais dificuldade a gente tem de compor uma maioria que vai votar esse tipo de mudança estrutural nas eleições”.

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Danielly dos Santos disputou as eleições em 2020 (Arquivo pessoal)

Uma das mulheres negras que disputou pela primeira vez as eleições em 2020, Danielly Milena Oliveira dos Santos, 22, que concorreu como co-vereadora pela Frente Negra Antirracista, pelo partido Unidade Popular pelo Socialismo, acredita que os movimentos sociais são a política verdadeira, da disputa do futuro do país, na rua, na mobilização.

Entretanto, ela também defende que os mecanismos políticos precisam mudar para o aumento da representatividade na política institucional.

“A gente sempre faz avaliação sobre as eleições e elas são muito injustas. O repasse de verbas e o tempo de TV favorecem geralmente os partidos dos ricos, que acabam tendo muito mais verba do que os partidos pobres, que estão iniciando agora”
Danielly Milena Oliveira dos Santos, atriz e estudante de artes cênicas

“Para nós, isso é algo muito negativo, pois influencia no resultado. Para melhorar de fato, deveria haver uma divisão igual para todos, desde verba e horário eleitoral”, desabafa Danielly.

Moradora de São Mateus, na zona leste da cidade, a jovem é militante da UP de São Paulo, atriz e estudante de artes cênicas e acredita que o aumento de candidaturas de mulheres negras e trans pode ajudar toda a população.

“Muitas pessoas trans não têm espaço para trabalhar e, às vezes, caem no subemprego. O povo negro vive massacrado nas periferias. Precisamos de representantes. Existe possibilidade, sim, de termos grandes mudanças. E esse crescimento de candidaturas é uma forma de mostrar que nós podemos disputar esses espaços, podemos sim discutir política”, finaliza.

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