Eleita em 2016, Maria Lúcia foi afastada; assumiu o cargo um dos candidatos da eleição na cidade
Reprodução/Facebook
Por: Rubens Rodrigues
Notícia
Publicado em 21.10.2020 | 17:53 | Alterado em 10.11.2020 | 10:47
A menos de um mês das eleições 2020, a cidade de Embu Guaçu, na Grande São Paulo, vive uma troca no comando da prefeitura.
Uma operação do Ministério Público de São Paulo, deflagrada na sexta-feira (16), afastou Maria Lúcia (PSB) do cargo de prefeita por 45 dias. A investigação apura suspeita de fraudes em licitações da gestão municipal.
Com o afastamento de Maria Lúcia, o presidente da Câmara dos Vereadores, Clarides Leonardo dos Santos (MDB), assumiu interinamente o cargo de prefeito.
Manezinho Corretor, como é conhecido, tomou posse porque o vice-prefeito eleito em 2016, Paulinho da Pajule, morreu em dezembro de 2019, vítima de câncer.
A situação tem levado a questionamentos de moradores, pois Manezinho é também candidato a vice-prefeito na chapa de José Antônio (MDB).
Ao assumir o cargo, o prefeito interino exonerou três secretários municipais (de educação, administração e meio ambiente), além da chefe da seção de contabilidade, e a diretora de compras.
De acordo com o secretário de governo, Geraldo Barbosa, somente para o cargo de diretor de compras foi nomeado um novo funcionário.
“Estamos contendo despesas devido ao atual cenário [da Covid-19], por isso para as pastas de meio ambiente, administração e educação não serão nomeados nenhum servidor, pois não há necessidade no momento”, afirma Geraldo.
Uma das primeiras medidas do novo prefeito foi autorizar o retorno do futebol nos campos da cidade, além de liberar o uso de salões e chácaras para eventos com ocupações de até 60% da capacidade total do recinto. Apesar disso, o decreto diz que a quarentena foi estendida até 31 de dezembro.
A condição de ter um candidato no poder trouxe uma situação inusitada também para a campanha eleitoral.
A moradora Bianca Alves, 22, diz ser contrária à posse de Manézinho. “Apesar de uma decisão legal, pautada na lei, não acho que é o certo. Ele pode tomar decisões que podem mascarar a sua candidatura”, avalia.
A disputa tem outros nove candidatos à prefeitura de Embu-Guaçu: Alexandre Rainha (SD), Clodoaldo Leite (PC do B), Francisco Neguinho Conselheiro (Republicanos), Jean Almeida (PTC), Lisandro Ribeiro (Cidadania), Professor João Batista (PSOL), Professor Reinaldo (PT), Sandro Social (PTB) e Sargento Neres (PSL).
Sobre a suspensão da prefeita Maria Lúcia, a prefeitura disse em nota que irá prestar esclarecimentos ao Poder Judiciário, e que “continua trabalhando para a população e obedece e confia na Justiça”.
A OPERAÇÃO
O afastamento de Maria Lúcia foi feito depois que a 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça e a Vara Única da cidade determinaram o cumprimento de 23 mandados de busca e apreensão.
Na ação, os policiais apreenderam sete armas de fogo e mais de R$ 1,5 milhão em espécie, além de bloquear mais de R$ 2 milhões em bens dos investigados. Ao todo cinco pessoas foram presas.
De acordo com o MP, um grupo formado por secretários municipais e ocupantes de cargos de chefia e assessoramento fechou acordos com empresários, de modo a direcionar contratos durante processos de licitação.
Essa é a 4ª fase da operação denominada Píton, que começou em fevereiro deste ano mobilizando 11 promotores de Justiça e denunciando 25 pessoas por crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de capitais e falsidade documental.
Eleita em 2016, Maria Lúcia foi a primeira mulher a governar a cidade em 51 anos de emancipação. Teve um mandato marcado por polêmicas quando enfrentou uma denúncia sobre carne estragada oferecida em uma escola municipal. Ela também foi investigada por supostamente ter contratado serviços para a cidade sem licitação.
Em setembro do ano passado, a Câmara Municipal abriu um processo de cassação contra seu mandato por nomear o marido e ex-prefeito, Walter do Posto, ao cargo de secretário de infraestrutura. Walter tentou concorrer à prefeitura em 2016, mas estava inelegível e apoiou a esposa.
Em uma das gravações telefônicas, uma funcionária da prefeitura dizia que “precisava consultar Walter antes de tomar qualquer decisão”. Com base na escuta, o MP concluiu que o marido de Maria Lúcia era quem comandava a cidade. No entanto, os vereadores decidiram por 7 votos a 6 mantê-la no cargo.
* Esse conteúdo foi produzido com apoio do programa de bolsas de reportagem da Énois Laboratório de Jornalismo.
Jornalista e correspondente de Embu Guaçu desde 2015. Apaixonado pelo jornalismo e por futebol de várzea.
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