Revitalização de trecho do Córrego Morro do S deixou parte da avenida da Moenda Velha interditada em 2020; construção custou mais de R$ 1 milhão
Por: Cleberson Santos
Notícia
Publicado em 08.02.2021 | 18:19 | Alterado em 22.11.2021 | 16:32
No Parque Independência, bairro da região do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, moradores continuam a sofrer com as enchentes das chuvas de verão após uma obra milionária não conter os alagamentos.
A revitalização de um trecho do Córrego Morro do S deixou parte da avenida da Moenda Velha interditada durante o ano passado. A obra custou R$ 1.074.692 em 2020.
Segundo moradores entrevistados, a prefeitura trocou os canos antigos do córrego por uma galeria mais larga e construiu um muro. O que não foi o suficiente para resolver o problema.
Após a entrega da obra, houve um grande alagamento no final do ano e os problemas se repetiram ao longo de janeiro.
“Acompanhando algumas chuvas e a realização da obra fiquei despreocupado, nem veio na minha cabeça que um alagamento pudesse acontecer de novo”, relata Douglas Xavier, 25, em referência ao alagamento gerado pela forte chuva em 20 de dezembro.
O educador físico perdeu o carro no alagamento no fim de dezembro. O automóvel estava estacionado na avenida, e só não foi levado pela água porque colegas ajudaram a empurrá-lo.
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O Córrego Morro do S faz parte de seis bacias hidrográficas presentes no Plano Municipal de Gestão do Sistema de Águas Fluviais de São Paulo, de 2016. Ele começa na avenida da Moenda Velha até se encontrar com outros córregos na avenida Carlos Caldeira Filho e desaguar no Rio Pinheiros, na altura da Ponte João Dias.
Julio Cesar Oliveira dos Santos, 49, proprietário de uma sapataria na Moenda Velha, conta que a estimativa de duração da obra era de dois meses, mas a construção interditou a avenida por quase um semestre em 2020.
“Nosso imposto foi levado pela enchente. Foi um valor alto e não resolveu nosso problema. Qualquer chuva de mais de 40 minutos já deixa a gente apreensivo”, lamenta.
Com um histórico de perdas por causa de enchentes, Julio tem uma comporta instalada em frente ao seu estabelecimento, o que impede o avanço da água.
MURO CAÍDO
O filho de Julio, Otávio dos Santos, 20, afirma que a obra de revitalização tenha sido mal feita.
“Foi uma obra demorada. Não era para aquele muro ter caído. A gente se sente meio derrotado por saber que ainda estamos vulneráveis”, relata.
O comerciante Lindomar Castilho, 48, também critica a execução da obra. “Se ao invés de um muro fechado, tivessem feito um muro vazado, a corrida da água teria sido normal e não teria tido esse problema todo. Após o muro ter caído, ficou tudo normal, não teve mais nenhum acúmulo de água acima do normal nas outras chuvas que teve esse mês”, comenta.
“Quando liberaram a avenida, de imediato tiveram que refazer o asfalto porque começou a afundar. Refizeram, mas já está com buracos de novo. Nessa parte do asfalto, foram péssimos”, completa.
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Segundo os moradores, nenhum funcionário da prefeitura havia realizado zeladoria às margens do córrego e que os escombros do muro ainda estão no local.
Apesar do cenário de perdas, alguns feirantes que trabalham no trecho próximo ao córrego, na avenida Moenda Velha, parecem não temer as enchentes.
Após ter sido transferida em 2018 para uma praça do bairro, a feira livre voltou a funcionar na área onde há foco de alagamentos.
“O movimento caiu muito lá na praça, não era uma região que as pessoas circulavam, ficou longe para muita gente”, afirma Claudinei Pereira dos Santos, 54, que mantém uma barraca de frutas há 15 anos.
Já para o vendedor de bananas Adeilton José da Silva, 41, o córrego não preocupa tanto pelo fato de a avenida ser plana. “Não há o risco de perder mercadorias, mesmo quando a água sobe não chega a arrastar as barracas”, justifica.
OUTRO LADO
A Agência Mural questionou a prefeitura se houve alguma falha na execução ou no planejamento da obra feita na avenida da Moenda Velha.
Segundo a Subprefeitura do Campo Limpo, será realizado o reparo no muro danificado e que a zeladoria do córrego ocorreria no fim de janeiro. O que ainda não aconteceu, segundo os entrevistados. Ainda de acordo com a pasta, a subprefeitura já retirou 900 toneladas de detritos na região.
Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.
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