Após décadas de luta por melhorias no transporte público local, os 311 mil moradores do Jardim Ângela anseiam por dias melhores com a chegada do metrô. Apesar de ser o segundo mais populoso da cidade de São Paulo, a região enfrenta a ausência de transporte sobre trilhos.
Em março de 2025, o governo do estado sancionou o Projeto de Lei que autoriza a contratação de R$ 2,72 bilhões em operações de crédito para a execução da extensão da Linha 5-Lilás do Metrô até o Jardim Ângela. Porém, os trabalhos ainda não iniciaram. A previsão é que a construção das estações seja concluída em 2028.
“Em 2009, começamos a ocupar as ruas e gritar que nós existimos e a gente vota né?. Alguém tem que olhar por nós aqui com a devida atenção”, conta o ex-motorista de ônibus Geraldo Araújo, 56, que há 30 anos é morador do Jardim Vera Cruz, fundão do Jardim Ângela. Araújo é coordenador do Movimento SOS Transporte M’Boi Mirim, que atua na luta por melhorias no transporte público do local.
Estrada do M Boi Mirim, altura do número 6.300, local onde ficará a futura estação do Metro Jardim Ângela @Leonardo Almeida/Agência Mural
Apesar da pressão dos moradores através dos movimentos sociais pela chegada do metrô, Geraldo entende que a demora na realização do projeto se deve à omissão do poder público.
‘Sempre faltou vontade política, passamos por vários governos e nunca tiveram interesse para tirar a gente da situação que vivemos aqui’
Geraldo, coordenador do Movimento SOS Transporte M’Boi Mirim
A extensão da Linha 5 Lilás, que hoje liga Chácara Klabin ao Capão Redondo, prevê a ampliação do trajeto em 4,3 km, contando com mais duas estações, Comendador Santana e Jardim Ângela. A estimativa é de que 55 mil pessoas por dia utilizem o trecho. A nova estação será construída onde atualmente está o terminal de ônibus, com investimento previsto em R$3,4 bilhões.
Trânsito parado na volta para casa no horário de pico, na Estrada do M Boi Mirim @Leonardo Almeida/Agência Mural
“Vamos gastar 30 minutos do Jardim Ângela até a estação Santa Cruz. A vida do peão vai melhorar”, diz Carlos Júnior, 31, mais conhecido como Churras.
Ele é um dos representantes da Sociedade Santos Mártires, organização responsável por reunir as demandas dos movimentos sociais e moradores do Jardim Ângela. Atualmente, o trecho entre o Jardim Ângela até a estação Santa Cruz leva, em média, 1h15 para ser percorrido de ônibus e metrô.
A obra terá 3,2 km de trilhos elevados e 1,2 km subterrâneos, conexão com terminal de ônibus, além de uma passarela. Segundo estudo realizado pela Via Mobilidade, após a conclusão das obras, os passageiros levarão cerca de 33 minutos entre o Jardim Ângela e a estação Chácara Klabin.
Carlos conhecido como Churras, representante Sociedade Santos Mártires @Tiago Queiroz/ Divulgação
O tempo no transporte
De acordo com o levantamento da Rede Nossa São Paulo em 2024, por meio da pesquisa “Viver em São Paulo: Mobilidade”, os moradores da zona sul da cidade levam em média 2h46 por dia de descolamento total.
Já o estudo do Mapa da Desigualdade, de 2024, mostra que o distrito do Jardim Ângela ocupa a posição de 91º entre os 96 distritos paulistanos no quesito “tempo médio de deslocamento por transporte público”. A média é de 57 minutos em horário de pico.
João Lino, 24, morador do Jardim Jacira, no fundão da Estrada do M’Boi Mirim, avenida que corta o Jardim Ângela, fala sobre a importância da chegada do metrô. “Há uma expectativa grande, pois a M´Boi Mirim é extremamente caótica, muita gente, carro e muito trânsito. Existe dificuldade em transportar tudo isso, principalmente no horário de pico”, comenta.
O jovem estagiário em recursos humanos trabalha no distrito do Itaim Bibi, área considerada nobre na capital paulista, porém costuma levar cerca de duas horas apenas para ir ao trabalho, perdendo quatro horas do dia apenas no transporte público.
João, estágio e morador do Jardim Ângela, ele leva duas horas para chegar no trabalho @Arquivo pessoal/Divulgação
Apesar da possibilidade, João diz acreditar que após o término da obra, os problemas não estarão resolvidos, pois o bairro continuará com dificuldades para acessar o metrô. “Será um adianto, mas não acredito que seja suficiente, aqui onde eu moro é uma área muito afastada, dependemos apenas do ônibus”, avalia João.
Em meio à espera pela realização das obras, a desapropriação de casas devido ao projeto é um receio para os moradores.
Flávia Vargas, 35, cria do Jardim Ângela, mora em uma casa próxima das obras do metrô. A professora compartilha o medo da possibilidade de perder a casa ou ter que mudar de bairro. “É uma coisa que me preocupa, porque a proposta que eles – governo estadual – passam não é suficiente para comprar uma casa, ou oferecem um apartamento que não cabe para você e sua família”, disse.
Em nota, a Secretaria de Parcerias e Investimentos do Governo do Estado de São Paulo informa que não há definições sobre desapropriações.
A professora Flávia, moradora da rua Nicolino Léo, acompanha as possíveis mudanças que a via poderá sofrer com as futuras obras do metrô @Leonardo Almeida/Agência Mural
Questionada sobre o atraso nas obras, a Secretaria justificou que o projeto de extensão do metrô, elaborado pela concessionária ViaMobilidade, está em fase de análise e aprovação. A concessionária que administra a Linha 5 Lilás ainda terá que definir a empresa responsável pelas obras.

