DiCampana Foto Coletivo
Por: Daniel Santana | Felipe Barbosa | Guilherme Silva | Kaliny Santos
Notícia
Publicado em 06.05.2025 | 18:57 | Alterado em 06.05.2025 | 23:51
“Não tem como culpar os usuários da linha”, desabafa a estudante de nutrição Daniele Garcia, 23, sobre a morte do passageiro Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, 35, nesta terça-feira (6) na estação Campo Limpo da linha 5-Lilás do Metrô, administrada pela ViaMobilidade. Um homem ficou preso entre a porta de segurança e a do trem. Mesmo assim, a composição avançou, causando o acidente.
“As pessoas que estão lá, como a vítima desse acidente, só querem chegar no trabalho, na escola, no seu destino”, ressalta.
Daniele é uma das mais de 500 mil pessoas que circulam pela linha e relatam que a lotação, a porta fechando em segundos e o empurra-empurra cometido até por seguranças fazem do trajeto algo perigoso.
A estudante embarca na estação Giovanni Gronchi, onde fica o Terminal João Dias, e vai até a Chácara Klabin, na zona sul. “Todo santo dia eu vou espremida pra faculdade”, relata. “Na Giovanni Gronchi, que é onde eu pego normalmente, também tenho que esperar dois, três, até quatro trens. É absurdo”, afirma.
Ela diz não entender por que não são adotadas medidas para melhorar a situação. “Não é algo pontual. Isso acontece todos os dias, é um caos.”
A estudante já tentou ir até o Capão Redondo, ou seja, voltar algumas estações, para tentar pegar mais vazio. “Mesmo assim ele já vem lotado de lá”.
Plataforma fica estreita nos horários de pico, e acesso é tumultuado, relatam passageiros @Thila Moura/Agência Mural
Administrada pela ViaMobilidade, a linha 5-Lilás do Metrô liga periferias da zona sul de São Paulo à região central da cidade. Saindo da estação Capão Redondo, passa por vários bairros do Campo Limpo e Jardim São Luís, antes de atravessar a ponte sobre o Rio Pinheiros e chegar a Santo Amaro.
Esse ramal tem integração com as linhas 2-Verde e 1-Azul do Metrô e 9-Esmeralda dos trens.
A linha também é a opção de moradores de cidades da Grande São Paulo que vem de Itapecerica da Serra e Embu das Artes, onde vive a vendedora Elizangela Messias, 39. Ela conta que já viu pessoas presas nas portas.
“Quando não cabe, esse pessoal fica preso na porta. Infelizmente a gente precisa pegar essa linha, mas tanto na ida quanto na volta, que é horário de pico, é horrível.”, afirma.
“Muita gente praticamente se joga dentro do vagão e acaba arrumando briga. Sempre que dá algum problema técnico parece que o número de pessoas triplica”, relata Felipe Barbosa, correspondente de Embu das Artes na Mural. “ Já fiquei parado em uma estação mais de 40 minutos, sem espaço pra se mexer.”
Ele conta que é comum ver pessoas na porta dupla. “Mas sempre que isso acontece, é acionado um som de alarme que faz com que a porta abra novamente e a pessoa consiga entrar.”
Há relatos inclusive de que a porta não costuma abrir após ter fechado mesmo se a pessoa estiver no local.
“Muitas correm o risco de ficar presas entre as portas”, afirma Daniel Santana, correspondente da Mural no Jardim São Luís. Ele já presenciou o problema, mas a pessoa entrou no vagão. “Ela conseguiu entrar com dificuldade, a porta se fechou e o trem seguiu viagem. Só que a porta de segurança da plataforma não abriu.”
Linha Lilás corta várias periferias da zona sul @DiCampana Foto Coletivo
A linha Lilás é o encontro de vários fluxos de passageiros em direção a região central ou da zona sul. Primeiro, há os moradores que embarcam na primeira estação, no Capão Redondo – tanto moradores dali, do fundão da sul e também de cidades vizinhas. Depois, o trem passa pelo Terminal João Dias, outro ponto de desembarque de vários passageiros da sul.
Por fim, em Santo Amaro, moradores que vêm do Grajaú ou de Osasco e pegam o Metrô sentido os bairros de Moema, também desembarcam por ali. É ali que a correspondente da Mural em Osasco, Kaliny Santos Correa embarca semanalmente.
Ela explica que antes das 9h, quando as portas se abrem na estação Santo Amaro da linha 9-Esmeralda, começa uma longa jornada até a transferência para a linha 5-Lilás do Metrô.
“O pessoal quase se empilha para entrar. Mesmo com os guardas, acaba sendo tumultuado”, relata.
‘Os guardas empurram todo mundo pra entrar logo. É uma situação bem complicada’
Kaliny Santos Correia, correspondente de Osasco
Ela cita que, ao menos, há monitores que tentam organizar o fluxo. Mas não resolvem. Há dias em que as escadas rolantes estão inoperantes e é preciso dar uma longa volta para chegar na porta. “Isso causa tumulto, empurrões e muitos gritos dos guardas tentando organizar a bagunça.”
“[Na segunda-feira (5)], por exemplo, um homem de aproximadamente 30 anos entrou, mas deixou a blusa presa na porta. O guarda teve que abrir a porta com as mãos e empurrar ele pra dentro.”
Procurada, a ViaMobilidade enviou uma nota em que diz lamentar a morte de Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno.
A empresa não respondeu sobre se a manutenção do sistema de alerta nem os questionamentos de usuários sobre a porta não ter aberto mesmo com um usuário no local. Também não respondeu sobre a rapidez do fechamento da porta nem sobre a superlotação.
Na nota, a empresa alega que o sistema que possui é utilizado nacional e internacionalmente, de sensores de obstrução de portas para impedir que os trens partam com as portas abertas. “No caso em questão, mesmo após os alarmes visuais e sonoros, ao tentar entrar no vagão, o passageiro acabou ficando no espaço entre o trem e a plataforma, onde não há sensores.”
A empresa afirma “realizar regularmente diversas campanhas sobre embarque seguro” e que “vai intensificar os avisos sonoros e a comunicação visual nos trens e estações com essas recomendações de segurança.” “A concessionária reitera a importância de respeitar os alertas de fechamento de portas para evitar riscos de acidentes graves.”
Jornalista, apaixonado por livros, samba e carnaval. Corintiano, vivo o futebol de domingo a domingo. Adoro contar histórias através do jornalismo.
Jornalista e social media, motivado por boas histórias e ideias. Jovem de espírito sonhador, com um pé na área cultural. Correspondente de Embu das Artes desde 2023
Jornalista formado, social media, produtor de podcast e redator. Filho da dona Edna e do seu Zé. Desbravo a conhecer a cidade com minha bicicleta. Amante de livros, músicas emo e Star Wars. Correspondente da Cidade Dutra desde 2022.
Jornalista e pós-graduanda em Direitos Humanos pela Unifesp, atua como analista de comunicação no Instituto Jatobás. Correspondente de Osasco, na Grande São Paulo, desde 2022.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.
Envie uma mensagem para [email protected]