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Agência de Jornalismo das periferias
Rolê

Equipe de pipeiros da zona sul fortalece a cultura, o lazer e a união comunitária

Bill, fundador do grupo, promove ações sociais e mantém viva a cultura da pipa há 4 anos

Por: Raphaela Guimarães

Notícia

Publicado em 06.06.2025 | 15:39 | Alterado em 06.06.2025 | 15:39

Tempo de leitura: 3 min(s)

A pipa é uma brincadeira que não tem idade. No Jardim São Luís, extremo sul de São Paulo, ela une gerações. “Quando era criança, sempre soltei pipa. Hoje empino para não deixar essa arte e cultura morrer. Além disso, ajudo a criançada que não tem nada para brincar”, diz o artesão Kleberton Antunes dos Santos, 47, conhecido como Bill, fundador e integrante da Equipe de Pipeiros JSL.

Após o fim de um relacionamento, Bill retornou uma paixão de quando era criança: soltar pipa. Foi assim que fez amigos e uma equipe com 80 integrantes..

Bill, com a bandeira da equipe de pipeiros JSL

A iniciativa busca integrar a comunidade, oferecendo mais opções de lazer ocupando espaços públicos em áreas, onde historicamente há poucos acessos a equipamentos culturais. O grupo organiza torneios, festivais, doações de pipas e também cria conexões com outras quebradas levando diversão compartilhada.

A solidariedade também faz parte da missão da equipe. Segundo Bill, morador do bairro desde a infância, o coletivo já realizou diversas rifas beneficentes com o intuito de ajudar a vizinhança.

Um dos exemplos mais marcantes foi a ação que arrecadou fundos para a compra de uma cadeira de rodas. O ganhador da rifa levou 15 pipas, mas o verdadeiro presente foi para Júlia, 5, uma criança com deficiência que ficou com a cadeira.

Grafite da criança que ganhou a cadeira de rodas, na Praça dos Sonhos, no bairro Jardim Letícia @ Luana Melinka/Divulgação

‘Todo mundo contribuiu. Conseguimos arrecadar R$ 2.000 e compramos. Depois, fizemos uma festa na Praça dos Sonhos, que fica no bairro do Jardim Letícia, para comemorar. E tem até o desenho dela lá, na parede da praça’

Bill, fundador da equipe de Pipeiros JSL

E não é só no Jardim São Luís que a cultura da pipa pulsa. Inúmeros pipeiros estão espalhadas pelas quebradas de São Paulo, mantendo a brincadeira viva. Em um único grupo no Facebook, onde os eventos são divulgados, há mais de 266 mil membros.

Tadeu Alves, o ‘Palmeiras’, é presidente da equipe Amantes da Xepa, um desses grupos, localizado no Jardim das Flores, distrito do Jardim São Luís. Ele conta que o principal motivo de criar uma equipe é fortalecer a comunidade. “Na infância, não tinha condições de comprar uma pipa, hoje dou para as crianças”, destaca Palmeiras.

Equipes como: Batman no Capelinha, Meninos do Morro na Antena da Record, Amantes do Relo no Jardim das Flores, Amigos do Helipa no Sacomã, Renegados na Vila Gilda e muitas outras mostram a força da cultura periférica.

“A ideia é soltar e tirar nos confrontos. Fazemos festa, compramos o material, levamos linha e lanche”, comenta Bill.

Os integrantes da Equipe JSL de pipeiros @Arquivo pessoal/Divulgação

Com eventos cada vez mais organizados, os confrontos e festivais chegam a reunir centenas de pessoas e dezenas de equipes de diferentes regiões.

No último dia 1º de junho, um encontro realizado na Cidade Ademar, zona sul, havia 32 equipes confirmadas, incluindo a JSL. Para Paulo Roberto, o ‘Rui’, integrante do grupo, esses eventos vão além da competição: celebram a união, o respeito entre as quebradas e a valorização de uma cultura popular resistente ao tempo e ao preconceito.

“Quando passo na rua, as crianças perguntam se tenho pipa ou linha. Sempre digo: ‘Passa lá e pega.’ Eles vão pegar, e quando tem festival, aviso. Eles aparecem, soltam pipa com a gente. Assim a gente vai tocando o barco e fazendo amizade”, completa.

Um artista das folhas

Há cinco anos, Bill trabalha com reciclagem em um ferro-velho no Jardim São Luís. Mas é ali mesmo que dá vida à sua arte. Entre materiais recicláveis, ele transforma o espaço em ateliê e vitrine, onde expõe com orgulho as criações coloridas.

Cada pipa é desenhada, cortada e montada de forma artesanal usando materiais simples como papel, vareta, cola, linha e muita criatividade. “O desenho é cortado folha por folha. Faço o esboço com lápis e depois corto com estilete”, explica Bill.

“Fiz um modelo para dar de presente ao pessoal do Heliópolis, levou 12 horas para ficar pronta. Uma que desenhei do Ayrton Senna (ex-piloto de F1) demorou sete horas.”

A pipa gigante produzida por Bill, em homenagem ao aniversário da equipe @Raphaela Guimarães/Agência Mural

Bill também manda bem nas famosas “Pipas Gigantes”. Para a comemoração dos 4 anos da Equipe JSL, ele criou um modelo de 1,70m, um verdadeiro símbolo da resistência cultural.

A peça, assinada por todos os integrantes, é chamada de ‘pipa premiada,’ e é usada como desafio do festival. “Quem conseguir derrubá-la durante a brincadeira, ganha o prêmio”, diz o pipeiro.

Resistência

Apesar do esforço para a produção e beleza estética, o trabalho destes artistas periféricos ainda enfrentam preconceitos e estigmas — muitas vezes associados a risco com o cerol, criminalidade e desordem.

Equipes participam de festival de pipas no Jardim São Luís @Arquivo pessoal/Divulgação

“O pessoal fala que todo pipeiro não presta, não trabalha, mas assim como skate e a bicicleta virou um esporte, tomará que um dia a pipa vire um esporte também”, reflete Bill. Para saber mais sobre os encontros e ações da JSL, basta seguir o perfil @equipedepipeirosjls.

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Raphaela Guimarães

Jornalista, pós graduada em Marketing pela USP e mãe de um menino. Apaixonada por comunicação com propósito, busca promover justiça social através da informação. Ama contar histórias que inspiram e gerar mudanças positivas.

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