Mantida na casa de Israel Neto, na zona norte, a Kitembo incentiva a produção de autores da região sobre a cultura negra
Ítalo Yuri/Agência Mural
Por: Ítalo Yuri Leal Mendes
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Publicado em 14.01.2020 | 15:43 | Alterado em 14.01.2020 | 17:02
Mantida na casa de Israel Neto, na zona norte, a Kitembo incentiva a produção de autores da região sobre a cultura negra
Tempo de leitura: 3 min(s)Moradores da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, Israel Neto, 32, Anderson Lima, 37 e Aisameque Nguengue, 27, são o motor da Kitembo – Edições Literárias do Futuro.
Criada em 2019, a editora possui no catálogo as obras “Os planos secretos do regime” e “Amor banto em terras brasileiras”. O trio decidiu se basear na cultura afro para estimular a literatura na região.
O nome Kitembo é uma alusão ao deus do tempo da cultura de Angola. E as obras são baseadas no conceito de “afrofuturismo”, movimento que nasceu nos anos 1960.
Presente na música, literatura, cinema e nas artes visuais, o movimento estabelece uma conexão entre história, mitologia, cosmologias africanas e as outras ciências para pensar a sociedade. Por fim, questiona sobre o futuro: como seria o mundo se as ciências africanas fossem o centro?
O termo foi utilizado em 1994 nos Estados Unidos pelo crítico Mark Dery em um ensaio chamado: Black To The Future.
“O foco da Kitembo é produzir literatura fantástica para todos os públicos e fomentar principalmente escritores e escritoras negras”, diz Israel, fundador da editora e autor dos dois livros publicados pelo trio.
“Os planos secretos do Regime” trata de uma trama que se passa no Brasil durante o final da década de 1960. Já “Amor banto em terras brasileiras” é um romance que se passa no período da escravidão, também no Brasil.
“O que chama atenção pelo que eu notei foi mais a representação que a gente faz. O pessoal vê que não é aquele clichê”, ressalta o ilustrador Aisameque responsável pela arte e pelas ilustrações de “Amor Banto”.
Ele cita, por exemplo, histórias que repetem a ideia de um romance entre uma mulher negra e um homem branco. “Quando vão ver é um romance de um casal negro. Coisa que pra mim precisa ser mais representada no Brasil”, ressalta. “Falam que no Brasil não tem preconceito. Mas você não vê a representação de casais negros na TV”.
MODO DE TRABALHO
Além de produzir e publicar as obras, a Kitembo organiza encontros e palestras sobre o processo criativo. Realizam também ações de divulgação e rodas de conversa em centros culturais e casas de culturas, além de escolas da rede pública e colégios particulares.
Por fim, participam de uma rede de coletivos, formada por várias editoras independentes, como a Coesão independente e o coletivo de escritores Litera ABC.
“O que a gente vende não é livro, a gente vende histórias”, diz Anderson Lima, responsável pelas vendas da editora.
O trabalho é todo feito na casa de Israel, que trabalha com pedidos feitos pela internet. Uma das preocupações é o preço das obras. O trio quer trabalhar com o preço máximo de R$ 20. Para isso, imprimem em gráficas selecionadas pela rede de editoras independentes. “R$ 80 num livro está fora da realidade. É uma semana e meia de mistura”, diz Israel.
Hoje, a editora funciona com dinheiro gerado por meio da venda de livros e a parceria de apoiadores – eles investem uma quantia e recebem participação no lucro das vendas. Eles recebem pedidos pelas redes sociais.
Em agosto de 2019, o grupo lançou uma chamada para a antologia de contos afrofuturistas “O Futuro é Nosso”, para autores e autoras de contos afrofuturistas. Os contos selecionados serão publicados em uma antologia, após avaliação dos editores. Ainda não há previsão de lançamento.
Cinegrafista, editor, produtor audiovisual e cultural. Correspondente da Brasilândia desde 2019. Radicado na periferia de São Paulo, sempre entusiasta da comunicação, da arte e da cultura e dos desdobramentos dessas áreas no desenvolvimento humano.
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