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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Katia Flora

Notícia

Publicado em 08.08.2024 | 16:03 | Alterado em 08.08.2024 | 16:50

Tempo de leitura: 3 min(s)

Em São Bernardo do Campo, ABC Paulista, a vereadora Ana Nice do PT é a única mulher preta na câmara dos vereadores. No legislativo, outros dois legisladores se declararam pretos e sete como pardos, o que representa 35% das 28 cadeiras.

A pouca presença, em especial das mulheres, é histórica no município. Ana fez um levantamento sobre a participação das mulheres no legislativo são bernardense desde 1948, época da emancipação da cidade.

“Nesse período todo, foram apenas 3% de representatividade feminina na Câmara, muito baixa”, aponta a parlamentar. “Quando se trata das mulheres negras, a gente não tem nem muito o que dizer”, lamenta a vereadora que vê desigualdade e poucos espaços para as mulheres.

Ana Nice conversa com moradores do município, sobre o trabalho na câmara crédito @Adriano Oliveira

Reportagem da Agência Mural mostrou que o número de vereadoras até aumentou em 2020, porém ainda representa apenas 1 mulher a cada 10 parlamentares.

Quando se leva em conta as mulheres negras, a situação é ainda mais complicada, avalia a mestranda em ciências políticas pela USP (Universidade de São Paulo), Beatriz Mendes Chaves, 26. Ela exemplifica que mulheres negras precisam se dividir em múltiplas funções, e ainda encontrar tempo para militância política.

‘Sabemos que os problemas enfrentados por homens e mulheres negros, não são os mesmos. As mulheres negras acumulam prejuízos e desafios sobrepostos é o grupo menos representado nos espaços de poder

Beatriz Mendes Chaves, mestranda em ciências políticas

Ela destaca ainda que a legislação específica que 30% do dinheiro recebido pelo Fundo Especial de Financiamento de Campanhas deve ser repassado para a candidatura de mulheres. “Se isso não for explícito, os partidos vão bular muito essa legislação”.

Pré-candidata à reeleição, Ana Nice vê nas cotas raciais um caminho importante para combater a desigualdade e o racismo. Mas pondera que os partidos devem garantir recursos para as candidatas.

Há apenas uma mulher a cada dez vereadores na Grande São Paulo @Magno Borges/Agência Mural

A trajetória de Ana começou no movimento sindical de São Bernardo em 2002, na época quando trabalhava como metalúrgica na empresa de panelas Panex, que foi embora do município em 2017.

Em 2016, saiu candidata pela primeira vez e se licenciou da diretoria do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) para disputar a eleição. Foi eleita com 4.090 votos, sendo a única mulher preta eleita, dentre os 28 parlamentares de São Bernardo. Se reelegeu em 2020 como a mais votada do PT.

Ocupando uma das cadeiras do legislativo tendo a maioria homens na câmara, a vereadora considera o espaço machista.

‘Sofro violência política de gênero [na Câmara], como se diz, não se pode jogar a criança fora junto com a água suja. Não posso falar que são todos os colegas, mas ocorre isso’

Ana Nice, vereadora em São Bernardo do Campo

Apesar disso, ela reflete sobre a importância de mais negros representantes para avançar com as políticas públicas. Hoje vê resistências, também pelo fato de atualmente fazer parte da oposição ao prefeito Orlando Morando (PSDB).

Em junho do ano passado, o prefeito foi denunciado por movimentos sociais da cidade para a ONU (Organização das Nações Unidas) por racismo institucional. Após o episódio, o gestor assinou um termo antirracista e sancionou uma lei que oferece 25% de vagas nos concursos públicos para pessoas negras.

Ana diz que a iniciativa nasceu de um projeto dela, mas que antes havia sido rejeitado. “O prefeito para tentar um pouco limpar a barra dele, pegou e mandou um outro projeto substituindo o meu, para não sair na minha autoria”, conta a vereadora.

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Katia Flora

Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.

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