Léu Britto/Agência Mural
Por: Cleber Arruda
Notícia
Publicado em 16.05.2023 | 17:13 | Alterado em 16.05.2023 | 18:01
Há seis anos, Hilda Carolina dos Santos, 77, viu em um terreno coberto por capim alto, a possibilidade de criar uma horta e cultivar na população a consciência sobre a alimentação saudável na região da Brasilândia, zona norte de São Paulo.
“A couve é um dos alimentos que mais tem agrotóxicos”, explica a coordenadora da Horta Comunitária do Jardim Guarani, em comparação às verduras do espaço com às do varejo. “Você vê aquelas folhas de couve lindonas na feira, põe na geladeira e não dura dois dias. As daqui são pequenininhas, mas ficam uma semana e não amarelam”.
A mudança contou com a ajuda da comunidade, localizada no distrito de mais de 200 mil habitantes. Ela e outros moradores derrubaram o matagal que ficava ao lado da UBS (Unidade Básica de Saúde) do Jardim Guarani. Depois, cultivaram a terra e criaram a horta comunitária, que tem florescido, sobretudo, em novas propostas.
“A ideia é conseguir mais parceiros, fazer oficinas, e trabalhar com crianças e adolescentes. Preparar canteiros para as crianças plantarem e colherem. Passar o que é consumir um alimento sem agrotóxicos”, conta a coordenadora do projeto.
A manutenção do local passa pelas mãos de quatro voluntários, três mulheres e um homem, que se revezam durante a semana. Às terças, o grupo se encontra no local para trabalhar no solo e discutir a agenda. Diversas verduras e plantas medicinais são cultivadas no espaço.
Sem incentivos financeiros, os recursos para compra de ferramentas e a construção de um depósito foram conseguidos por meio de ações, como bazares e doações. Atividades como essas e as feiras orgânicas com outros projetos da região ligadas ao plantio têm fortalecido raízes das relações entre as comunidades.
“Essa troca de experiências, de mudas… é muito boa. Até melhora a relação com as nossas famílias e a consciência sobre a alimentação”
Hilda Carolina dos Santos, 77, coordenadora da horta no Jardim Guarani
Já no pé do morro do Jardim Damasceno, o projeto Horta Medicinal da Brasilândia vem destacando a importância das ervas para a saúde da população. Cultivada no Espaço Cultural do Jardim Damasceno, a plantação tem 10 espécies medicinais estudadas e certificadas pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A agente ambiental Nivalda Aragues, 55, é uma das três pessoas responsáveis pela manutenção da horta. Ela explica que as plantas medicinais são identificadas por pesquisadores que estudam os produtos medicinais e as recomendações são realizadas por farmacêuticos da UBS Silmarya Rejane Marcolino Souza, no Jardim Carumbé.
“Temos a identificação dessas plantas desde a semente, desde o processo de germinação. Quando os farmacêuticos vêm aqui, explicam as formas de usá-las e até como elas podem substituir alguns medicamentos que têm efeitos nocivos ao corpo”, conta.
As espécies medicinais estudadas são: capim-lima, babosa, ora-pro-nóbis, guaco, boldo, açafrão da terra, manjericão, camomila, erva-doce e tansagem. Nessas plantas foram colocadas placas que informam o nome científico, a parte utilizada, a indicação terapêutica, uma receita e o efeito adverso.
Além das plantas do projeto, a horta tem mais de 60 espécies e canteiros com plantas frutíferas, como pés de jaca e abacate; e as pancs (plantas alimentícias não convencionais), como peixinho e taioba.
Nivalda, que chegou ao espaço cultural como voluntária, é atualmente responsável pelo minhocário e fala sobre a importância do aproveitamento completo dos alimentos. “A casca da banana se a gente não frita e come, a gente joga para as minhocas ou para a composteira. Tudo se aproveita”, ressalta.
Walison Nogueira, um dos responsáveis pela manutenção da Horta Medicinal da Brasilândia @Léu Britto/Agência Mural
Planta da Horta Medicinal da Brasilândia @Léu Britto/Agência Mural
Horta Comunitária do Jardim Guarani @Léu Britto/Agência Mural
Na Horta Medicinal da Brasilândia, no Jardim Damasceno, as plantas do projeto são identificadas por placas @Léu Britto/Agência Mural
Walison Nogueira, 22, mora na região e também iniciou no projeto como voluntário. Hoje, é bolsista no Espaço Cultural pelo Pot (Programa Operação de São Paulo) e trabalha diariamente na horta. Entre as diversas atividades, cuida do plantio das mudas, combate de pragas e da composteira orgânica do local.
Ele conta que os compostos orgânicos são produzidos também com a colaboração dos próprios moradores no entorno, que trazem baldinhos ou sacolas com restos de cascas de legumes e frutas.
“A gente também usa o capim como matéria seca, e acaba aproveitando tudo que seria jogado no lixo. Então a comunidade vê todo o processo de como é feito o alimento, desde o cultivo das sementes até a feira de orgânicos”, conta.
Nogueira observa as mudanças na dieta alimentar depois do trabalho com as plantações.
“Aprendi a comer coisas que eu não comia aqui. A taioba é gostosa e rica em nutrientes. A ora-pro-nóbis dá pra fazer suco, comer na salada, e 25% dela é proteína vegetal, rica em cálcio e ferro”
Walison Nogueira atua na Horta Medicinal do Jardim Damasceno
A horta é aberta ao público e às visitas durante a semana, com atividades extras. A iniciativa também participa de feiras orgânicas da região. O projeto da Horta Medicinal da Brasilândia conta com recursos obtidos por meio de uma emenda parlamentar e parcerias com a Unifesp e o Instituto a Cidade Precisa de Você.
Endereço: Avenida Sapucaia, 37 – Jardim Guarani, Brasilândia, zona norte de SP
Horário de funcionamento: Todas as terças: das 9h às 12h30
Endereço: Espaço Cultural do Jardim Damasceno. Rua Talha Mar, 105 – Jardim Damasceno
Horário de funcionamento: Segunda a sábado: a partir das 8h
Cofundador, correspondente da Brasilândia desde 2010 e editor em projetos especiais. É jornalista do Valor Econômico e voluntário do projeto Animais da Aldeia. Canceriano, gosta de cachorros e de viajar por aí.
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