Conheça 10 veículos de imprensa fundamentais na luta por direitos da população negra
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Por: Jacqueline Maria da Silva
Notícia
Publicado em 15.09.2023 | 16:38 | Alterado em 15.09.2023 | 18:30
De cobertura de festividades afroreligiosas à defesa do feminismo negro. Da luta abolicionista ao combate à violência policial. Da defesa da saúde pública à debates sobre padrões de beleza. Esses são alguns dos temas abordados por jornais e revistas editados por pessoas negras desde o século 19, que reforçam seu protagonismo na luta antirracista em diversos momentos políticos do Brasil.
A relevância das publicações é tão marcante que, em setembro, o movimento negro comemora os 190 anos da imprensa negra no país, mostrando que estes periódicos já eram atuantes no país antes mesmo da abolição da escravidão – que eles mesmos ajudaram a conquistar.
Parte destes diversos veículos da imprensa negra são relembrados e reunidos no Manual de Redação de Jornalismo Antirracista, lançado em agosto pelo coletivo de jornalismo Alma Preta, a partir de sua experiência como veículo de mídia com cobertura racial.
Vale reforçar que, com diversos periódicos produzidos por pessoas negras, é errado dizer que a imprensa negra é uma mídia colaborativa, mas sim uma mídia tradicional protagonista na luta antirracista.
1833 – O Mulato ou O Homem de Cor
Considerado o primeiro jornal da imprensa negra brasileira, circulou no Rio de Janeiro entre setembro e novembro de 1833. Os textos, de autoria anônima, denunciavam arbitrariedades contra pessoas negras livres na época.
1876 – O Homem
Circulava em Recife e divulgava oportunidades de emprego e educação para cidadãos negros, além de destacar biografias de homens negros, defesa de ideias abolicionistas e poesias. Os textos também eram anônimos, exceto o da edição de número 11, que foi assinado por Ernesto Castro.
1882 – O Exemplo
Um dos periódicos mais longevos da Imprensa Negra, “O Exemplo” teve mais de mil edições e foi publicado em Porto Alegre entre 1982 e 1930, com algumas pausas. Além de fomentar a cultura negra, ele teve um papel importante na valorização das mulheres negras como educadoras dos lares e defendeu a necessidade delas receberem instrução formal.
1923 – O Getulino
O jornal recebeu esse nome em referência ao livro de Luiz Gama, advogado abolicionista. Com subtítulo de “Órgão para Defesa dos Homens Pretos”, o jornal trazia biografias de pessoas negras brasileiras, sobretudo abolicionistas. Publicado em Campinas (SP) até 1926, tinha como missão reivindicar direitos no pós abolição, por meio da divulgação de informações. Contou com a contribuição de diversos jornalistas negros e teve como redator-chefe o renomado jornalista Lino Guedes.
1948 – Quilombo
Jornal dirigido pelo intelectual Abdias Nascimento, era o veículo oficial de divulgação das ações artisticas e sociais do Teatro Experimental Negro. Além de defender o acesso de pessoas negras à cultura, educação e moradia, publicava uma coluna assinada pela articulista Maria do Nascimento que retratava a luta social das mulheres negras. Foi publicado até 1950 no Rio de Janeiro.
1977 – Jornal SINBA
Com primeira tiragem em julho de 1977, no Rio de Janeiro, recebeu esse nome em referência a sigla da Sociedade de Intercâmbio Brasil-África, fundadora do jornal. Publicado no fim da Ditadura, se posicionava a favor da população negra na luta contra a violência e o racismo. Abordava temas polêmicos e tinha uma seção específica para definir termos importantes na luta antirracista, como preconceito e descriminação. Léa Garcia, renomada atriz negra, falecida este ano, participou da publicação, que se manteve até 1980.
1981 – Angola
Publicado em 1981, 1986 e 1989 em Recife, estava vinculado ao Centro de Cultura Afro-Brasileira. O foco era a cobertura de religiões de matriz africanas e suas festividades, principalmente Umbanda e Candomblé, assim como denuncias de discriminação destas religiões.
1981 – Nêgo – Jornal MNU
Também conhecido como Boletim Informativo do Movimento Negrio Unificado, circulou entre julho de 1981 e 1993, em Salvador. Abordava temas como saneamento básico, condições de vida, desemprego, fome, feminismo negro, segregação urbana, encarceramento, arte, poesia, reforma agrária, educação e ensino de Historias Afro-Brasileiras e Africanas, além publicar poesias.
1993 – Omnira
Criado pelo Grupo de Trabalho Omnira, do Movimento Negro Unificado de Pernambuco, era editado exclusivamente por mulheres. Foi publicado e distribuído gratuitamente entre 1993 e 1994. Divulgava poesias escritas por mulheres negras e denunciava as condições degradantes às quais elas eram – e ainda são – submetidas, como o racismo, a falta de acesso à saúde e a violência obstétrica.
1996 – Revista Raça
Completa 27 anos em 2023, abordando temas relacionados à inclusão racial e de gênero. A revista é uma referência em debates sobre valotização, autoestima, cultura e estética do povo negro. A proposta é reverter estereótipos e resgatar a identidade, a história e o papel social de pessoas negras no Brasil.
Com informações Manual de Redação da Alma Preta de 2023
Repórter da Agência Mural desde 2023 e da rede Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project. Vencedora de prêmios de jornalismo como MOL, SEBRAE, SIP. Gosta de falar sobre temas diversos e acredita do jornalismo como ferramenta para tornar o planeta melhor.
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