Município recebeu alerta do governo do estado. Na região do Alto Tietê, flexibilização de quarentena preocupa e já são quase 700 mortes
Divulgação/Prefeitura de Itaquaquecetuba
Por: Lucas Landin
Notícia
Publicado em 02.07.2020 | 20:31 | Alterado em 03.07.2020 | 12:40
A cidade de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, teve 131 mortes por Covid-19 desde abril e apresenta situação delicada. O Hospital Estadual Santa Marcelina, que também atende cidades vizinhas, chegou a ter 100% de seus leitos de UTI ocupados, segundo a Secretaria de Saúde do Estado. Hoje opera com ocupação de 82%.
Apesar da gravidade da situação, o primeiro hospital de campanha da cidade foi inaugurado em meados de junho, três meses após a primeira morte ser registrada na região do Alto Tietê, onde está Itaquá. A unidade funciona dentro de uma UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), e possui cinco leitos de estabilização, com respiradores. O segundo hospital de campanha, previsto para a área central do município, ainda não está pronto.
A demora na construção dos hospitais motivou a Câmara de Itaquaquecetuba, em abril, a instaurar uma Comissão Especial de Inquérito para investigar as ações de combate à pandemia no município. Além disso, a situação da cidade tem preocupado toda a região por conta das restrições a reabertura dos comércios.
Nesta semana, o Comitê de Contingenciamento do governo do estado sugeriu que a cidade passe para a fase vermelha, com mais restrições, de acordo com o portal de notícias, G1.
A cidade, que chegou a registrar 67% de isolamento social no começo de abril, veio relaxando a quarentena aos poucos. Para a estudante Paula Souza, 18, moradora da Vila Japão, a flexibilização da quarentena causa preocupação.
“No meu bairro, no geral, até que estão respeitando bem, e a gente vê bastante gente de máscara na rua. É só um ou outro vizinho que está fazendo aquela festinha no fim de semana. Mas lá no Centro de Itaquá, parece que a gente não está mais em quarentena. As pessoas estão se aglomerando, e nem sempre estão usando máscara”, conta a estudante.
Procurada, a prefeitura de Itaquaquecetuba não retornou até a publicação deste texto.
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ALTO TIETÊ
Itaquaquecetuba fica no Alto Tietê, na região leste da Grande São Paulo, composta também pelas cidades de Arujá, Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano.
As demais cidades também tiveram hospitais de campanha, mas enfrentam situação menos crítica. Em Mogi das Cruzes, a maior cidade do Alto Tietê, o número de mortes por Covid-19 também foi o maior da região, 166. Até o prefeito da cidade, Marcus Melo (PSDB), e a primeira-dama Karin Melo, chegaram a ser infectados pela doença.
A pandemia atingiu em cheio o distrito de Jundiapeba, na periferia da cidade. Nos bairros de Jundiapeba e Nova Jundiapeba foram registrados 169 casos confirmados e 17 mortes. Porém, em Mogi, a situação é menos complexa. Na quarta (1º), a taxa de ocupação geral de UTIs no município é de 41,5%, segundo a Prefeitura.
Já em Ferraz de Vasconcelos, as UTIs do único hospital da cidade operam com 46% da capacidade. O município, que entregou um hospital de campanha no fim de maio, após três semanas de atraso, já registrou 74 mortes por Covid-19.
Suzano e Poá também inauguraram hospitais de campanha. Em Suzano, que até agora registrou 108 mortes por Covid-19, a estrutura funciona dentro do Ginásio de Esportes. Em Poá, o hospital de campanha foi construído dentro do Centro Médico de Especialidades (CEME), e conta com sistema drive-thru para aferição de temperatura. A cidade já registrou 57 mortes por Covid-19 até o momento.
Para tentar conter o avanço da pandemia, sobretudo sobre os bairros mais pobres, as Prefeituras da região vêm apostando na higienização das ruas, praças e pontos de ônibus.
Equipes especiais de limpeza foram contratadas em Poá, enquanto Itaquaquecetuba recorreu à Defesa Civil. Em Ferraz, a higienização dos bairros foi uma doação de uma rede de farmácias.
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MORTES SUPERAM ESTADOS
Com aproximadamente 1,6 milhão de habitantes segundo o IBGE, a região do Alto Tietê contabiliza até quarta-feira (1º de julho), 648 mortes causadas pelo novo coronavírus, e 7.512 casos confirmados da doença, dos quais 4.207 estão curados.
O número de óbitos no Alto Tietê é superior até mesmo ao registrado por estados inteiros, como Rio Grande do Sul (614 mortes; com 11 milhões de habitantes) e Goiás (474 mortes; com 6,5 milhões de habitantes).
Apesar da alta taxa de mortalidade, o governo do estado autorizou a flexibilização da quarentena na região, e a incluiu na chamada “faixa laranja” a pedido do Condemat (Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê), órgão que reúne os dez prefeitos da região.
Desde 12 de junho, setores do comércio foram autorizados a reabrir com até 20% da capacidade máxima. No entanto, vetou o avanço da região para a fase amarela, a qual permite abertura de bares e restaurantes.
O governo estadual enviou 95 novos respiradores para a região, sendo 25 para Ferraz de Vasconcelos, 20 para Mogi das Cruzes, 17 para Itaquaquecetuba, 5 para Suzano, e 3 para Arujá. Os 25 restantes foram destinados à cidade de Guarulhos, que apesar de não pertencer ao Alto Tietê, faz parte do Condemat.
Nas redes sociais do Consórcio, moradores expressaram preocupação com a flexibilização, e com um possível colapso do SUS (Sistema Único de Saúde) na região. “As pessoas estão morrendo de Covid, as cidades não tem estrutura para hospitalizar a própria população, e a preocupação é reabrir lojas e shoppings?”, questiona uma das seguidoras.
Mestrando em políticas públicas pela Universidade do Chile. Amante da política, das ferrovias e dos felinos. Entusiasta do transporte público. Correspondente de Itaquaquecetuba desde 2015.
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