Documentos de 1870, apontam que o Jaçanã se chamava originalmente Uroguapira
Por: Redação
Publicado em 15.05.2017 | 14:30 | Alterado em 15.05.2017 | 14:30
Inaugurado em 1883, o trem da Cantareira transportava inicialmente o material usado para construir a Adutora Cantareira, responsável pelo abastecimento de água da cidade na época. Depois de um tempo, a linha férrea também passou a transportar passageiros para os bairros mais afastados do centro da capital paulista, como o Jaçanã, e funcionou até 1964, quando foi desativada.
Figura ilustre, de São Paulo, o músico Adoniran Barbosa teria conhecido o trem quando participava de filmagens na empresa cinematográfica Maristela, localizada no bairro. Foi assim que nasceu a canção “Trem das Onze”, que tornou o lugar mundialmente conhecido.
Documentos do império, de 1870, apontam que o Jaçanã se chamava originalmente Uroguapira – que tem ouro. Mas, como a presença do metal não foi confirmada, o nome foi abreviado para Guapira, que em tupi-guarani significa “corredeira”. Em 1º de outubro de 1930, Guapira passou a ser chamado de Jaçanã, nome de um pássaro pernalta nas cores verde e preta.
A mudança teria sido motivada pelo estigma deixado pelo Leprosário, ou Hospital dos Morpheticos, que funcionou até agosto de 1930. O local foi reformado, ampliado e reaberto em 1932. Desde então funciona ali o Hospital São Luiz Gonzaga, que atende não só moradores do Jaçanã, mas também de outros bairros, distritos e municípios próximos, como Mairiporã e Guarulhos.
Outro local de destaque na região é o popular “asilo”, que oficialmente chama-se Hospital Geriátrico e de Convalescentes D. Pedro II. Projetado pelo engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo, o local já se chamou Asilo da Mendicidade até 1910, Asilo dos Inválidos D. Pedro II, e Departamento de Inválidos D. Pedro II, nos anos 1950.
Foi nos tempos atuais que ganhou status e nome de hospital. Na época da escolha do lugar, o terreno, no então sítio Guapira, foi visitado por nomes, como Dr. Cerqueira César (provedor da Santa Casa), Ramos de Azevedo e Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho (então chefe do corpo clínico da Santa Casa). Nomes que hoje estão nas placas de ruas do centro de São Paulo.
Na visão do historiador do Museu do Jaçanã e morador da região, Gustavo Ferreira, 41, os estabelecimentos de saúde impulsionaram o crescimento do Jaçanã.
“É importante refletir sobre qual a importância do Hospital São Luiz Gonzaga e até que ponto ele foi um vetor de urbanização e de ocupação do bairro. O mesmo vale para o ‘asilo’, que não é asilo. Ele ficava na região central e foi trazido pela Santa Casa para cá como um hospital. O seu projeto é do Ramos de Azevedo e ele é importante, não pela figura do Ramos, mas para a gente entender que a Santa Casa de Misericórdia dava tanto valor para isso, que contou com o trabalho de um arquiteto reconhecido. Há fotografias que mostram que a avenida Guapira não tinha nada, mas está lá o pórtico do hospital geriátrico. Ele também foi importante nesse processo de construção do bairro”, explica.
O Jaçanã está situado no distrito homônimo. Este, por sua vez, faz parte da Prefeitura Regional Jaçanã/Tremembé. Em 2015, o distrito tinha um tempo médio de vida de 66,01 anos. Apesar de ser baixo, índices apontam que a região tem melhorado nas áreas da saúde e violência.
Os números referentes a internações hospitalares resultantes de agressões contra idosos, mulheres, crianças e adolescentes, por exemplo, têm diminuído. As internações por agressão contra idosos, que computou 12 ocorrências em 2014, zerou no ano seguinte. Já as internações por agressão contra mulheres, que atingiu 16 casos, em 2013, caiu para 6, em 2015. Outro dado relevante é o de agressões contra crianças e adolescentes, que diminuiu 23% as ocorrências no mesmo período.
Leia mais: Moradores falam de agressões a crianças e adolescentes no extremo norte da cidade
O nome Tremembé também veio do tupi e significa “alagadiço”. O bairro surgiu em 1890, sendo mais jovem que o Jaçanã. O Tremembé permaneceu isolado durante muito tempo por conta de seu relevo de pé de serra e por estar localizado na última zona da cidade a se desenvolver, a norte. Até os anos 1950, o seu acesso principal era pelo trem da Cantareira, sendo esta a última estação e Tremembé a penúltima.
De acordo com o Observatório Cidadão, o Tremembé possui índice zero de salas de cinema, museu, salas de show e concerto. Enquanto isso, a existência da Casa de Cultura do Tremembé fez com que o distrito, que também faz parte da Prefeitura Regional Jaçanã/Tremembé, contabilizasse um equipamento no quesito centros culturais, casas e espaços de cultura.
A região de Jaçanã/Tremembé é a 2ª colocada no índice de área verde por habitante, com 88,58 m2. Esse número é considerado alto e só é menor que o de Parelheiros, no extremo sul da cidade, que possui 341,44 m2. A média de São Paulo é de 8,36 m2.
Foto: Wikipédia
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.
Envie uma mensagem para [email protected]