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Jardim Pinheiro vive com pouca opção de transporte em São Bernardo do Campo

A linha 33 é a única linha que entra dentro do bairro

Por: Gabriel Negri

Fundado há pouco mais de 30 anos em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, o Jardim Pinheiro já foi considerado um distrito ecológico por possuir uma estação de tratamento de esgoto construída em 2003. Entretanto, para quem vive ali, uma outra marca tem sido mais forte: a da quase exclusão da cidade e a dificuldade para acessar os serviços de transporte

O bairro fica a mais de 10 km do centro do município e cerca de 980 famílias residem no local. Muitos usam diariamente o transporte público e as reclamações não faltam.

Cinco linhas atendem à região (quatro municipais e uma intermunicipal), mas apenas o 33, com destino ao Paço Municipal, entra dentro do bairro.

O Pinheiro é como uma pequena “ilha”, cercado de um lado por uma ponta da represa Billings, e do outro lado por um sítio privado. Por conta disso, possui apenas uma entrada e saída para veículos e moradores, que dá acesso à avenida Montemor.

Para quem trabalha fora de São Bernardo, é ainda mais complicado. A única opção de transporte entre cidades é a linha 238, da Next Mobilidade, que tem como destino a cidade de Santo André. Moradores reclamam que não há uma linha que vá diretamente para a capital paulista, o que estende o tempo de viagem.

Vivendo no bairro desde de 2005, a manicure Janycleide Cavalcante, 43, conta que já enfrentou problemas. “Tenho muita dificuldade de sair de casa por ter apenas uma linha aqui dentro. Já desisti algumas vezes de ficar esperando até uma hora pelo ônibus e ele nunca vir. Também já cheguei a perder consultas médicas pela demora, no fim de semana é pior”, comenta.

O ponto que atende outras linhas fica fora do bairro @Gabriel Santos/Agência Mural

A moradora diz que a situação só mudou quando o marido comprou um carro. “Quem não dirige não tem opção, tem que usar o ônibus, e às vezes ficar esperando uma vida. É como se você ficasse ilhado aqui dentro”, completou.

Outra pessoa que também enfrenta esse problema é a atendente Sthefany Medeiros, 19. A jovem, que trabalha em um shopping do outro lado da cidade, no bairro Jardim do Mar, fala um pouco do dia-a-dia. “Saio bem cedo de casa, e sempre pego o último ônibus para voltar, porque vou para a faculdade depois, então sempre chego em casa depois da meia-noite.”

A moradora ainda comenta que várias vezes teve que optar por outra opção de linha que a deixa na avenida e precisava voltar o resto do caminho a pé para casa, levando cerca de dez minutos.

Sthefany diz que já perdeu entrevistas de emprego pelo atraso do transporte público no bairro.

Bairro fica a 10km do centro de São Bernardo @Gabriel Santos/Agência Mural

Segundo o professor e gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), Enio Moro, 61, o problema do bairro tem razões na forma como as cidades foram formadas. Ele cita que o modelo de urbanização brasileira prioriza áreas com maior investimento de mercado e fazem com que outras regiões fiquem relegadas.

“Essa expansão, das cidades para as periferias, faz parte de uma política de não buscar equilibrar melhor o seu território. Isso traz inúmeras consequências, como a questão da mobilidade”, afirma o urbanista.

“Se eu tenho trabalhadores que moram longe, é necessário uma frota de transportes oficiais ou não oficiais que garanta essa condução. Ou seja, acaba sendo uma estratégia perversa de urbanização que é necessário ser revista.”

Como uma possível solução para a questão do transporte, o professor cita o exemplo de Medellín, na Colômbia. A cidade passou por uma série de mudanças, incluindo medidas de urbanização, que ampliaram o sistema de transporte público local, unindo as redes de teleféricos, conhecidos lá como “metrô cables”, aos sistemas de metrô e BRT (Transporte Rápido por ônibus, na tradução livre). “É lamentável que nós não usemos a mobilidade como um elemento de integração do território”, completa.

Outra alternativa, segundo Moro, seria aplicar o conceito de “Cidade 15 minutos”, que consiste no incentivo do desenvolvimento de centros de bairros nas comunidades. Ou seja, a criação de atividade comercial local, de modo que os moradores consigam realizar atividades com facilidade e gerando riqueza em seus próprios bairros.

O Pinheirinho possui alguns comércios como mercearias e bares e até mesmo uma pequena escola com grade curricular até a quinta série. Porém, o bairro não possui uma UBS (Unidade Básica de Saúde) ou UPA (Unidade Pública de Atendimento) à disposição. A falta de farmácias no bairro também é uma questão que obriga os moradores a sair do local em busca de produtos.

Prefeitura diz que atende demanda

Ao ser questionada, a Prefeitura de São Bernardo do Campo, por meio da Secretaria de Transportes e Vias Públicas, alega que o Jardim Pinheirinho é atendido com oferta compatível à demanda. A administração municipal diz que a criação de novas linhas não se faz necessária devido à integração tarifária, para outras regiões da cidade.

No entanto, a possibilidade de integrar a passagem com outro coletivo só é possível com o Cartão Legal, usado como pagamento para utilizar o transporte municipal. Desde 2020, o preço da tarifa do ônibus em São Bernardo é de R$ 5,75, a segunda mais cara da região.

A gestão ressalta que em dias úteis, as quatro linhas contam com frota de 32 veículos, que realizam 381 viagens/dia para atendimento de demanda de 20.699 usuários. Aos sábados, 237 para cerca de 10.192 usuários. Aos domingos,172, para 6.428 passageiros.

Em resposta, a Next Mobilidade afirmou  que a quantidade de ônibus e itinerários são definidos pela a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), de acordo com a necessidade de demanda. 

A linha 238 conta com uma frota de até 17 ônibus durante a semana, dez coletivos aos sábados e sete aos domingos. A taxa da condução intermunicipal é de R$6,80.

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