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Moradores do Jardim Zaíra, em Mauá, enfrentam escassez de espaços de lazer 

Bairro mais populoso do município conta com apenas dois equipamentos oficiais

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Por: Kethilyn Mieza

Notícia

Publicado em 06.12.2023 | 16:25 | Alterado em 06.12.2023 | 16:25

Tempo de leitura: 4 min(s)

O Jardim Zaíra representa boa parte da população de Mauá, na Grande São Paulo, com cerca de 100 mil habitantes. Mas a conta entre os moradores do bairro e a quantidade de equipamentos de lazer disponíveis não fecha. São apenas duas quadras para prática esportiva e de lazer, segundo a Secretaria de Esportes.

Ainda de acordo com a pasta, uma dessas quadras fica localizada na parte do bairro mais próxima do centro da cidade, no Zaíra 2, e a outra, mais recente e com infraestrutura em boas condições, no Zaíra 4.

Drielle Rezende, 30, é atendente e mãe de três filhos. Ela conta como faz para passar o tempo divertindo as crianças na região do bairro do Zaíra 4, onde a cultura e o lazer não chegam com tanta facilidade.

Moradora do Jardim Zaíra 4, Drielle e o filho Levi @Kethilyn Mieza / Agência Mural

“Às vezes eles ficam aqui na frente [de casa] correndo e brincando, mas a maioria do tempo estão no videogame, assistindo televisão ou mexendo no tablet”, comenta.

O filho mais velho é o único entre os três que pratica uma atividade além do ambiente escolar – ele faz aulas de futebol.

Entenda a divisão do bairro

Ao todo, o Zaíra é dividido em seis partes, que são identificadas por números: 1) mais próximo do centro da cidade; 2) meio do bairro;  3) região “central”; 4) cercado pela avenida Presidente Castelo Branco, a mais movimentada do bairro, indo até a região final; 5) parte mais alta e com muitos morros; 6) nas extremidades com subidas bem altas.

O órgão oficial da prefeitura aponta que aulas de artes visuais, coral e costura são oferecidas nas UBSs e no CRAS, e indicou a Associação Casa do Senhor. Todas as opções estão concentradas em lugares distantes do Zaíra 4, onde fica o “final” do bairro.

Uma associação não citada pela assessoria da prefeitura é a Ouro Verde. Fundado há mais de 40 anos e um dos mais conhecidos no Jardim Zaíra 4, o espaço é mantido por moradores da região com apoio de instituições parceiras. O local conta com aulas gratuitas de dança, capoeira, taekwondo e ginástica que contemplam todas as idades, mas especialmente as crianças.

Andreia Silva, 40, é administradora da Ouro Verde, e se queixa da falta de um maior apoio da gestão da cidade nas atividades da instituição. Hoje eles contam com um auxílio da prefeitura apenas para o pagamento dos professores de futsal, os outros recursos usados para manter o funcionamento da entidade vem de doações de empresas e moradores da região do ABC.

Jardim Zaíra é o bairro mais populoso de Mauá @Kethilyn Mieza / Agência Mural

Gilmar Rodrigues, 41, é filho de um dos fundadores da Associação Esportiva Ouro Verde. Hoje, é ele quem preside o local. Como morador do bairro há muitos anos, ele diz que sente a diferença que as atividades fazem na vida dos jovens que estão dentro da associação.

A grande dificuldade deles hoje, além de manter as despesas com poucos recursos, é a incapacidade de contemplar todas as pessoas que procuram se inscrever, contando com uma grande lista de espera.

Ao todo, são cerca de 2.000 pessoas cadastradas na Ouro Verde. Andreia compartilha uma das histórias de um menino atendido pela associação. “Teve um [menino] que estava entrando para o lado do crime, ele pediu para fazer aulas mas não tínhamos mais vaga. Então eu dei um jeitinho de colocar ele. Hoje ele está bem, voltou para a escola e está fazendo futsal.”

Lazer distante

Nos fins de semana, quando as crianças passam mais tempo em casa, as famílias do Jardim Zaíra buscam alternativas para driblar a ausência de espaços e se divertir com as crianças.

Segundo Drielle, algumas das opções de lugares para as crianças se divertirem são as piscinas do SESI, o shopping da cidade ou o paço municipal – que conta com o parque e alguns brinquedos infláveis para as crianças. Todos esses espaços precisam de ao menos um transporte público para acessá-los, e com três crianças isso é ainda mais complicado. 

Com a falta de lazer na região, o video game é o principal entretenimento de Miguel, filho de Drielle @Kethilyn Mieza / Agência Mural

“Infelizmente tem hora que a gente deixa de sair. O paço é gratuito, mas lá eles vão só correr, não tem coisa diferente pra fazer. E as outras coisas diferentes têm um custo um pouco alto pra mim. São três (filhos). Se fosse só um, daria, mas são três.”

Além do deslocamento para esses três lugares citados, apenas um deles é gratuito, o paço municipal, que fica localizado no centro da cidade, há cerca de 7km do bairro. Ainda assim é preciso levar brinquedos para os pequenos aproveitarem.

“Às vezes para ir até lá no centro só para eles brincarem com uma bola, não compensa. Então eu prefiro ficar em casa”, relata a mãe. Para um passeio ao shopping, a atendente não gastaria menos de R$200. 

Esse gasto para frequentar espaços que fogem do eixo do bairro também é uma preocupação para Juliana Mendes, 22, que precisou deixar o emprego para se dedicar ao filho Bernardo, 4, que é uma criança autista. Bernardo ainda não está na escola e consequentemente não tem contato com outras crianças. Ela costuma ir à casa da sogra ou da mãe para que o filho tenha essa interação.

Para ela, deveria haver mais investimento em espaços de lazer gratuitos no Jardim Zaíra. “Nem todas as famílias têm condições de levar o filho para o shopping”, ressalta.

A Agência Mural questionou a gestão da cidade por meio da assessoria de imprensa sobre os projetos previstos de espaços de lazer no Jardim Zaíra, mas não tivemos retorno. Nas redes sociais da Prefeitura de Mauá foi divulgada a construção do Ginásio Poliesportivo do Jardim Zaíra que deve contar com oficinas esportivas e culturais. 

O equipamento será construído na rua Jair Ballo, na altura da nova Marginal do Jardim Zaíra, uma região que também é mais próxima do centro da cidade.

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Kethilyn Mieza

Jornalista. Dançarina apaixonada por arte e pela cultura hip hop. Escrever e contar histórias por meio do jornalismo é seu melhor caminho para dar voz às pessoas. Correspondente de Mauá desde 2023.

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