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Após sofrer homofobia e racismo, jovem cria movimento e dá exemplo de diversidade

Morador do Nordeste de Amaralina, Filipe Lima cria o grupo Pegada Negra para valorizar cultura negra e empreende com objetivo de valorizar o Black Money

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Divulgação/Jeferson Santos

Por: Laís Lopes

Notícia

Publicado em 18.06.2021 | 10:06 | Alterado em 23.11.2021 | 18:59

Tempo de leitura: 4 min(s)

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Filipe Lima, criador do grupo Pegada Negra @Divulgação/Pegada Negra

Filipe Lima, 26, morador do Nordeste de Amaralina, é um símbolo da diversidade pela qual luta. Homem gay, negro, militante das causas LGBTQIA+ e afrodescendentes, dançarino, ativista social, modelo e empreendedor, a história de Filipe tem sido cada vez mais importante para inspirar outros jovens dentro e fora da sua comunidade.

Aos 22 anos, enquanto participava de um processo seletivo para uma vaga de estágio, Filipe vivenciou uma experiência marcante em sua trajetória.

“Sofri agressões físicas e verbais quando saía de uma seleção. O agressor, que também era negro, me encarava e debochava do meu cabelo crespo black power, cabelo que para mim representa força, luta, resistência e poder”. 

Filipe conta que por desprezar os comentários do agressor, foi agredido fisicamente com uma cotovelada que o fez desmaiar. 

“Tentei pedir as imagens das câmeras de vigilância do elevador e o segurança negou, afirmando que por ser gay, eu devia ter dado em cima do agressor e por isso fui agredido. Infelizmente vivemos em um país muito preconceituoso, em um só dia, sofri agressões verbais e físicas, injúria racial e homofobia”, conta. 

Após o episódio, o jovem fez um vídeo desabafando o ocorrido em seu Facebook que viralizou. A partir daí, surgiu a ideia de fundar o grupo de militância Pegada Negra para lutar por causas contra o racismo e outros tipos de discriminação.

“O Pegada Negra é um grupo de militância afrodescendente com o objetivo de conscientização e valorização da raça negra. O grupo vem existindo e resistindo há quatro anos, transformando e empoderando pessoas. Somos um Quilombo”, define o criador. 

Com um trabalho de apoio entre a comunidade negra, o grupo tem atualmente 57 pessoas envolvidas que promovem ações e rodas de conversas temáticas. Por conta da pandemia, a programação é desenvolvida por meio do Instagram do grupo @pegada_negra, com lives e debates. 

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Parte dos integrantes do grupo de Pegada Negra @Divulgação/Pegada Negra

O dj e produtor musical Danilo Pereira, 27, faz parte da equipe desde 2017, quando foi convidado por Filipe a participar de uma reunião. 

“Me sinto representado, pois o Pegada Negra aborda várias questões que nós, pretos e pretas, passamos diariamente. Também ajuda na autoestima, nos fazendo enxergar que a nossa beleza natural deve ser destacada”. 

Para a pedagoga Laisa Sales, 31, também convidada por Filipe, o grupo contribuiu para reafirmar sua identidade e encontrar outras pessoas como ela. 

“Antigamente eu não acreditava que era negra por ter um tom de pele mais claro, mas quando entrei no grupo, me senti tão acolhida que busquei mais informações; hoje me descobri como mulher preta e empoderada”, conta. 

No mês da luta e do orgulho LGBTQIA+, Filipe destaca a importância de apoiar e incentivar outros por meio de ações no cotidiano. 

“Desde que me reconheci como homossexual tenho procurado representar a muitos através das minhas ações, até com uma peça de roupa. Dentro desse bairro tão rico, procuro deixar minha marca por onde passo, afinal a minha missão é deixar um legado”, afirma. 

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“Acho que se o sistema não nos dá oportunidades, devemos criá-las” @Divulgação/Jeferson Santos

VALORIZANDO O BLACK MONEY

Além da criação do grupo Pegada Negra, Filipe também se dedica a projetos que valorizem a cultura do Black Money, movimento que busca incentivar a valorização dos trabalhos administrados por pessoas negras. 

“Tenho metas a cumprir que generalizam o público afrodescendente dando fonte de renda, crescimento profissional e pessoal. Acho que se o sistema não nos dá oportunidades, devemos criá-las”, diz. 

Filipe diz que por não conseguir arranjar emprego com facilidade, se tornou empreendedor. Teve a ideia de investir nas vendas de calçados, roupas e produtos de sexy shop. Investiu cerca de R$ 500 em peças variadas e trabalha de segunda a sábado de forma autônoma.

“Decidi empreender e graças a Deus tem dado certo. Comecei a postar fotos das mercadorias no Whatsapp e tive retorno. As peças são de boa qualidade e conquistaram o público com muita facilidade”, diz.

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Apesar dos planos de ampliar a divulgação dos seus negócios para outras plataformas, além do Whatsapp, Filipe conta que a pandemia abalou as vendas de muitos pequenos empresários como ele. 

“Devido a pandemia, as vendas caíram muito e os preços aumentaram. Fica difícil para nós revendedores faturar como antigamente, e o cliente também acaba não consumindo como antes”, afirma. 

Além do trabalho informal, Filipe ainda arranja tempo para contribuir na produção de conteúdo do portal comunitário O Que Fazer no Nordeste. Por meio da conta no Instagram @quefazazerna, o projeto faz uma cobertura da região, com assuntos como entretenimento, cultura, comércio local, festas, gastronomia, esportes e histórias. 

Para Filipe, a luta faz parte da rotina e agradecer é um ato que precisa ser diário. “Como militante, costumo dizer que a militância é diária. O acordar é agradecimento e o sair de casa é resistência, por isso precisamos nos fortalecer diariamente e cuidar uns dos outros. Para os empreendedores, indico a resiliência, saber que o sucesso está na persistência e na inovação”.

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Laís Lopes

É estudante de Jornalismo e correspondente do Nordeste de Amaralina no Barra/Pituba. Acredita que o jornalismo é revolucionário e uma enorme potência capaz de ouvir a quem precisa falar.

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