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Com voluntariado, sarau e cursos online, jovens em Paraisópolis driblam quarentena

Com as medidas de isolamento por causa da Covid-19, jovens relatam como está a vida na região

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Acacio Reis/Divulgação

Por: Henrique Cardoso

Notícia

Publicado em 27.04.2020 | 16:58 | Alterado em 27.02.2024 | 16:22

RESUMO

Com as medidas de isolamento por causa da Covid-19, jovens relatam como está a vida na região

Tempo de leitura: 4 min(s)

Rodrigo Gama, 20, sempre viveu em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo. Sem emprego desde o final de 2019, ele decidiu se voluntariar para a equipe de agentes comunitários que tem ajudado famílias do bairro na quarentena, por conta do novo coronavírus. 

Durante a semana, junto com a associação de moradores, ele participa das entregas de cestas básicas e kit com materiais de higiene. Essa foi uma das formas que encontrou para não parar durante o período de isolamento. Também tem mudado a rotina em casa. 

“Tenho trabalhado e estudado bastante”, conta. Ele tem feito cursos online e também acompanhado as informações sobre a região. 

“Me informo numa dose pensada para não ficar amedrontado. Ocupar o dia com pequenas tarefas realizáveis, como tarefas domésticas, vem me trazendo uma sensação de produtividade incrível”, ressalta.  

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Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, tem cerca de 100 mil habitantes @Acacio Reis/Divulgação

O isolamento social na região impôs um desafio para vários jovens, sem as atividades culturais que eram realizadas no bairro. que já teve casos confirmados da Covid-19.

Por um lado, eles relatam o desafio, a sensação de quase ‘uma guerra’ contra o ócio. Outros contam que conseguiram dar mais atenção a própria produtividade.

A estudante de economia Talita cruz, 18, atualmente desempregada, procura nessa quarentena utilizar o tempo para estudar o atual cenário, com o intuito de se aprimorar para buscar um espaço no mercado de trabalho. 

“Estou fazendo cursos online, pensando no cenário econômico após essa pandemia, para aprimorar meu currículo e ter mais chances de ingressar em um novo emprego”, comenta. 

Dentre essas tarefas ainda dispõe de tempo para cuidar da prima, enquanto a tia segue no trabalho. “A minha tia é autônoma, trabalha passando roupa na casa dos outros , sempre cuido da filha dela, então estou sempre ajudando ela”.

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Evandro Jr faz parte do grupos Los Negros e tem buscado compor durante quarentena @Arquivo Pessoal

DESAFIO PARA ARTISTAS

Cantor, compositor e multi-instrumentista, Evandro Jr, 22 usa do tempo para continuar criando. Ele faz parte do grupo Los Negros que procura misturar ritmos que vão do indie ao rock. 

Ele tinha os palcos dos saraus como meio de expor o trabalho e agora procura dar continuidade as músicas dentro de casa. “Esses dias de quarentena estão sendo difíceis, ultimamente para matar as horas componho, estudo um pouco de música e assisto TV”, comenta. 

Além das atividades culturais, a rotina dele foi afetada. “Não posso pegar minha filha aos fins de semana, ensaiar com a banda, além dos eventos e shows estão cancelados. Muitos projetos foram adiados”, diz.

O bailarino e percussionista Jackson Lima, 18, teve que mudar o ambiente doméstico para fazer as atividades que praticava antes da quarentena.

“Estou fazendo as mesmas coisas que fazia só que em casa e com mais duração. Estudar, ler os livros que não tinha lido ainda, fazendo minhas aulas de ballet e alongamentos, praticando e estudando os instrumentos de percussão”, afirma.

Jackson sente falta dos eventos culturais pois sempre se apresentava com o grupo Tocando a Real, no qual toca percussão. “Era o que tinha para nos distrair nos fins de semana, a cultura que o sarau nos traz é grandiosa e perdemos por tempo indeterminado.”

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Um dos saraus pioneiros das periferias de São Paulo é o Sarau de Paraisópolis. Sem poder ser realizado, houve uma dinâmica cultural online no dia 28 de março.  

Uma das organizadoras, a atriz Daiana Andradel, 27, é produtora cultural e audiovisual. Ela conta que o evento é importante para a valorização dos artistas periféricos, além da opção de lazer para os moradores e, sobretudo, ser um local de acolhida. 

“A ideia principal era utilizar o Instagram como um local ativo para conexão entre artistas, público e quem mais interessar.” 

A metodologia do sarau se manteve igual ao modelo original: havia um mestre de cerimônia apresentando os artistas, um integrante recebia os vídeos e postava seguindo uma ordem de apresentação. 

Outro participante ficava atento na live para informar algum problema na transmissão, e um terceiro avisava o próximo artista que ele iria entrar ao vivo.

O evento online contou com o acesso de 100 pessoas, (sempre com oscilação de público, conforme cada atração). A próxima edição será no dia 1º de maio. “O retorno dos artistas e internautas foi positivo. Tendo repercussão e até participação de artistas e público de outros estados”, ressalta Daiana. 

A Batalha de Rima do Paraisópolis, que tinha uma periodicidade mensal, também prepara uma  roupagem online. 

“Estamos pensando em organizar batalhas de temas, em que o participante previamente estude o assunto. [A ideia é] que possamos seguir um fluxo de transmissão com os artistas, mas ainda não temos nada fechado”, afirma a produtora cultural Glória Maria, 20.   

OUTROS ESTILOS

O período da quarentena chegou a Paraisópolis em uma época em que cada vez mais estilos vinham ganhando força. Eventos como o Baile da DZ7 e o Forró da Juliana reuniam centenas pelas ruas do bairro. Outros grupos também começavam a ganhar força. 

É o caso da Sexta Rock 13, promovida por amigos que vivem no bairro com intuito de criar um evento com bandas autorais. O estudante de audiovisual Matheus Moreira, 21, lamenta o interrompimento.

“Já tínhamos feito dois eventos com bandas autorais que estavam se apresentando”, conta. “Não sabemos como vamos retornar, até fechar esse mês de abril.”

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Henrique Cardoso

Comunicador social, promotor cultural periférico e correspondente de Paraisópolis desde 2019.

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