Magno Borges/Agência Mural
Por: Isabela Alves | Paulo Talarico
Notícia
Publicado em 20.08.2024 | 8:15 | Alterado em 23.09.2024 | 13:43
Em uma cidade em que a idade média ao morrer é mais baixa dependendo de onde se vive, o perfil do eleitorado também segue essa lógica. Estão nas periferias de São Paulo a maior parte dos jovens eleitores, enquanto bairros localizados em áreas centrais ou com mais acesso a serviços públicos de qualidade possuem um perfil mais velho.
É o que indica levantamento da Agência Mural em dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre as zonas eleitorais da capital sobre os moradores que poderão votar nas eleições deste ano, em 6 de outubro.
Enquanto em Parelheiros, no extremo sul da cidade, e em Cidade Tiradentes, no extremo leste, 15% e 14%, respectivamente, dos aptos a votar têm menos de 24 anos, apenas 5% do Jardim Paulista, bairro rico da região central, estão nessa faixa de idade.
O mapa da votação na cidade mostra essa diferença e um pouco do perfil de eleitores que será buscado pelos candidatos a prefeito e vereadores este ano.
Os jovens representam uma parcela menor do eleitorado da capital. Ao todo, são perto de 1 milhão de eleitores com idades entre 16 e 24 anos, uma quantidade menor do que os 2,3 milhões com idades de 45 a 59, e dos outros 2,2 mi com mais de 70 anos.
Moradores com direito a votar que possuem 25 e 34 anos, que em parte também estão entre os considerados jovens, somam 1,7 milhão, enquanto 1,9 mi está na faixa dos 35 a 44.
Quando se leva em conta a faixa etária de 25 a 34, os bairros periféricos também aparecem com maior proporção de eleitores, o que muda quando se apresenta quem possui idades mais elevadas.
Maria Luiza Santana de Jesus, 18, formada na escola Maria de Lourdes Almeida Sinisgalli Profa, já teve a primeira experiência nas urnas em 2022. Moradora de Parelheiros, no extremo sul de São Paulo, ela diz buscar por candidatos que olhem para a região com mais cuidado, já que vive no Jardim São Roberto, um bairro afastado do centro de Parelheiros.
“É um lugar muito esquecido e se os jovens se ligarem nas eleições, acredito que tem o potencial para crescer por ter muita vegetação, com muito espaço para criar até centros para os jovens. Quero ver as nossas áreas rurais serem mais valorizadas”, relata.
Localizado a 37 km do centro da cidade, Parelheiros conta com áreas de proteção ambiental e desafios como a dificuldade do acesso ao transporte público, a serviços de saúde e educação.
“A gente precisa começar a se impor sobre nossas ideias e opiniões. Queria que tivessem mais hospitais que atendessem a população inteira, uma faculdade pública na zona sul e mais áreas de lazer e cultura”, observa Myllena de Oliveira, 18, formada na escola estadual Beatriz Lopes. Ela votará pela segunda vez.
Também será a segunda eleição de Samuel Sandrin, 18, recém formado da escola estadual Lucas Roschel Rasquinho. Apesar de já ter participado de um grande momento histórico, que foram as últimas eleições para presidente, ele está com a mesma ansiedade pelas mudanças.
“Será que eu vou votar certo? Será que quem eu vou votar não vai me decepcionar depois? Será que quem eu vou votar vai fazer bem para a comunidade que a gente vive?”, se questiona.
Por morar em uma das periferias mais afastadas do centro de São Paulo, ele enxerga que a tecnologia é algo de suma importância para o distrito.
Ana Luísa Sousa da Silva, 17, estudante da escola estadual Lucas Roschel Rasquinho faz parte do grupo de eleitores que são adolescentes e votarão pela primeira vez este ano. Segundo levantamento da Agência Mural, há 28 mil eleitores de 16 e 17 anos, maioria também em bairros periféricos como Parelheiros.
‘A gente mora em uma região bem isolada que basicamente é mais periférica e pobre, então quanto mais jovens tiverem engajados para fazer a mudança política, melhor pra gente”
Ana Luísa Sousa da Silva, 17, estudante de Parelheiros
Outra mudança fundamental para ela é o saneamento básico, pois onde mora existem muitos esgotos a céu aberto e o cheiro vem incomodando os moradores. Esse é um fator preocupante já que a região é uma APA (Área de Proteção Ambiental) que possui diversas nascentes, sendo um dos principais produtores de água da capital.
Os dados sobre como estão distribuídos os eleitores de São Paulo são feitos com base numa divisão diferente do que é visto na cidade. Enquanto a capital paulista possui 96 distritos, que estão distribuídos em 32 subprefeituras, o número de zonas eleitorais não é ligado necessariamente a esse ponto.
São atualmente 57 zonas eleitorais, sendo que várias englobam mais de um distrito ou integram metade de um território. A zona eleitoral de Parelheiros, por exemplo, abrange não só o distrito, como outras partes da zona sul como uma parte do Grajaú.
Com isso, enquanto o distrito do Grajaú é o mais populoso, a zona eleitoral é apenas a quarta em número de votantes, com 201 mil eleitores. A região com mais participantes segue na zona sul, com o Piraporinha, região eleitoral que tem votos do Jardim Ângela, Capão Redondo e Jardim São Luís.
A segunda com mais eleitores é a do Rio Pequeno, na zona oeste, com 213 mil pessoas aptas a votar, seguida de Parelheiros, com 211 mil. Na contramão, o Conjunto José Bonifácio possui a menor faixa de eleitores, com 109 mil.
Graduada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e pós graduanda em Mídia, Informação e Cultura pelo Celacc/USP. Homenageada no 1° Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Correspondente do Grajaú desde 2021.
Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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