Sarah Fernandes/ Agência Mural
Por: Sarah Fernandes | Jacqueline Maria da Silva
Notícia
Publicado em 19.11.2025 | 11:00 | Alterado em 02.12.2025 | 18:23
Moradias dignas, ventiladas e resistentes a chuva e ao calor, ampliação de parques, telhados verdes, sombreamento urbano, passe livre no transporte público, ações preventivas de saúde e a criação de um Fundo Municipal de Adaptação Climática Antirracista, para garantir financiamento às ações. Essas são algumas das propostas de jovens da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, na COP30, a Conferência das Partes das Nações Unidas, que ocorre até 21 de novembro, em Belém.
Enquanto lideranças globais, diplomatas e negociadores estão reunidos tentando chegar a um acordo sobre metas e financiamento de adaptação climática, jovens da região ocupam as Zonas Azul e Verde levando a Carta de Direitos Climáticos da Juventude da Brasilândia. O documento foi construído coletivamente e trás reivindicações e propostas de adaptação climática no distrito, considerado um dos piores para viver na capital paulista, segundo o Mapa da Desigualdade, da Rede Nossa São Paulo.
Por isso, eles exigem a criação de um fundo público permanente, com gestão participativa e controle social, para financiar a adaptação climática nas periferias. Pela proposta, todos os projetos de habitação e demais obras públicas devem passar por uma avaliação de impacto climático e risco que considere o racismo ambiental, e as comunidades devem poder deliberar sobre o uso do recurso.
“A Brasilândia é um dos locais que mais sofre com as ondas de calor, enchentes e deslizamentos na cidade”
Igor Braz, membro do projeto Vozes Climáticas, do coletivo Perifa Sustentável
A carta reforça a importância da participação dos moradores das periferias nas decisões e a elaboração de políticas de adaptação climática, que considerem a realidade de quem vive nos territórios e sofre os impactos das mudanças climáticas todos os dias.

Jovens da Brasilândia levam carta coletiva com reinvindicações à COP30 @Sarah Fernandes/ Agência Mural
Durante a COP30, os jovens integrantes do movimento estão se reunindo com organizações e lideranças públicas para dar visibilidade às pautas e manter as discussões mesmo após o término da COP. Eles têm se conectado com pessoas de São Paulo e outros territórios vulneráveis do Brasil e mediado discussões com autoridades para mostrar a relevância das pautas das quebradas, em especial as demandas da Brasilândia.
“Nossa estratégia é ocupar tanto os espaços formais quanto os informais: rodas de conversa, mesas, diálogos com delegações, imprensa, redes sociais e articulações com outros coletivos periféricos.
Levamos a Carta de Direitos Climáticos como instrumento político e replicável, mostrando que as periferias têm propostas concretas, diagnósticos precisos e não podem ser deixadas de fora das decisões globais”, diz Gabriela Santos, diretora do Perifa Sustentável, que também está na COP.
A Carta de Direitos Climáticos da Juventude da Brasilândia foi construída coletivamente com diversos atores sociais do distritos, em eventos promovidos pelo Perifa Sustentável. “[Ela] nasce de um processo coletivo, construído por jovens que estudam, trabalham, cuidam da família, pegam ônibus lotados e vivenciam todos os dias aquilo que o Estado chama de ‘risco ambiental’, diz o texto.

A diretora de Territórios da Periferia sustentável, Gabriela Santos @Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Dividido em três eixos, o documento apresenta diagnósticos e propostas concretas para adaptação climática da Brasilândia. Sobre moradia, os jovens destacam que o direito à moradia também é um direito climático e que, no distrito 25,1% dos domicílios estão em favelas (Mapa da Desigualdade 2024) e boa parte deles em áreas de risco, sem infraestrutura adequada de drenagem, saneamento e arborização.
Para adaptar a região às mudanças no clima, os jovens pedem financiamento para melhorias habitacionais que tornem as casas seguras, ventiladas e adaptadas às ondas de calor e às chuvas; construção de parques lineares e incentivos a telhados verdes; o fim da política de remoções forçadas; e regularização fundiária.
No eixo de saúde, os jovens lembrar que a crise climática pode causar ou agravar doenças e, para isso, é preciso ações de prevenção, com campanhas contínuas; saúde mental como prioridade; criação de espaços de autocuidado comunitários, com especialidades racializadas e periféricas e Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), como hortas de plantas medicinais e oficinas de cuidado e educação ambiental.
Sobre mobilidade, a carta lembra que o transporte público ainda é um desafio na Brasilândia e que é preciso criar linhas de ônibus circulares que conectem os bairros da Brasilândia às futuras estações da Linha 6 e aos equipamentos públicos da região; consulta e participação comunitária para realização de grandes obras; construção de calçadas largas e acessíveis, arborização para sombreamento, ciclovias e ciclofaixas e travessias seguras; e tarifa social e passe livre para estudantes, jovens trabalhadores de baixa renda e pessoas em situação de vulnerabilidade.
“A COP é um espaço de articulação: todo mundo que decide estar aqui,e trazer a Carta para esse ambiente ajuda a abrir caminhos reais.”
Gabriela Santos, diretora do Perifa Sustentável
Os integrantes da rede têm ocupado espaços formais e informações do evento. Eles participam de rodas de conversa, mesas, diálogos com delegações, contato com imprensa e articulações com outros coletivos periféricos.
Ao retornar para São Paulo, a ideia é protocolar a carta oficialmente junto ao poder público e fortalecer o diálogo com parlamentares que já se comprometeu com a pauta, entre eles Orlando Silva (deputado federal, pelo PCdoB), Keit Lima (vereadora de São Paulo pelo PSOL), Talíria Petrone (deputada federal pelo PSOL) e Carolina Iara (co-deputada também pelo PSOL).
“Queremos que a Brasilândia seja priorizada como tantas periferias que sofrem cotidianamente com racismo ambiental, injustiça climática e social”, planeja Igor.
Jornalista e geógrafa, com foco em direitos humanos e ambientais. Reúno mais de 10 prêmios de reportagem, entre eles dois Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Jornalista, vencedora de prêmios de jornalismo como MOL, SEBRAE, SIP. Gosta de falar sobre temas diversos e acredita do jornalismo como ferramenta para tornar o planeta melhor.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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